sexta-feira, fevereiro 25, 2005

Aquilino Ribeiro e o Futebol




O futebol vai-se tornando o mane-tecel-pares de uma população de impaludados, de sifilíticos e alcoólicos na sua maioria. À geração que vai escalar o mando familiar chamou o Dr. Agostinho de Campos "geração do pontapé na bola".
Com este designativo entrará na história, reles, analfabeta, sem curiosidades de inteligência nem uma directriz moral.
Como se pôde enraizar entre nós um desporto tão contrário ao nosso habitat e aos nossos costumes? Como pôde congraçar no seu culto desde o menino que começa a gatinhar, ao ginja de cabelos brancos, para quem esperar toiros, ver correr toiros, era um pratinho sem rival?
De todos os jogos é sem dúvida este o mais estúpido e inconsequente. O remo fortalece o remador e tonifica-lhe os pulmões; o jogo de pau adestra o jogador para a defesa do respeitável costelado; o tiro é um passatempo nobre; a gineta é saudável e elegante; o ténis ensina as belas atitudes; até o boxe e o savate preparam o homem para esmurrar um patife que se lhe pranta pela frente ou quando pretenda lavrar uma desafronta.
Mas o futebol, que acréscimo de força ou de beleza traz a quem o pratica?
(Aquilino Ribeiro,"Crónica da Quinzena" in "A Ilustração" de 16-VII-1926)

quarta-feira, fevereiro 23, 2005

As Vitórias da Vitória de Sócrates e do PS


A vitória eleitoral do PS no passado Domingo não é apenas uma vitória. Ou apenas mais uma vitória, entre muitas outras da democracia e do socialismo em Portugal. É, antes, o somatório de muitas e várias vitórias.
É, antes de mais, uma vitória pessoal do próprio Sócrates. Em primeiro lugar, uma vitória sobre si próprio. Pelo modo como foi melhorando durante a campanha o seu desempenho. Conseguiu, assim, duas coisas essenciais numa campanha. Eficácia, clareza e segurança a transmitir a sua mensagem. Outros foram claros, seguros e transparentes, mas sem qualquer conteúdo substancial ou novidade de fundo. Pensemos em Jerónimo de Sousa e Paulo Portas. No caso de Santana Lopes ele próprio era a personagem e o conteúdo. Quando tentou "vender" mais do que a si próprio, só conseguiu apresentar artigo de fancaria.
Outro aspecto notável da campanha de Sócrates foi conseguir pedalada e programação para terminar a campanha em alta.
Esta é uma das façanhas mais difíceis de conseguir, sobretudo em campanhas como as portuguesas, que são verdadeiras campanhas de duração medieval transpostas para o século XXI. Violentíssimas para quem as faz, e chatíssimas para quem as tenta acompanhar.
Tempo perdido, desgaste inútil e irrecuperável e gastos exorbitantes. Tudo isto inquinado pela pressão da máquina da televisão que nivela pela exigência maior, quer o grandioso comício feito na grande Lisboa ou o pequeno convívio partidário em Freixo de Espada à Cinta.
Sempre acompanhado da tendência para a transposição das últimas modalidades das campanhas americanas. Como foi, nesta, a importação das campanhas de assassinato da personalidade dos adversários.
Ao contrário de muita outra gente, não acredito que essa tendência não tenha vindo para ficar. Há-de haver sempre um qualquer "santana lopes", em desespero, para ceder a essa tentação, Aliás, muito de acordo com os hábitos mais tradicionais dos nossos "suaves" costumes. E de que, note-se, já tínhamos assistido a afloramentos na campanha da "Coligação" para as regionais de Outubro passado. Para não falarmos das campanhas da Madeira, que, há muitos anos, Alberto João reduz ao achincalho dos opositores!
Outro aspecto da vitória pessoal de Sócrates, foi a sua inquebrantável resistência à tentativa de imposição pela direita, como exigências incontornáveis de uma campanha eleitoral esclarecedora, daquelas modalidades que ela, em determinado momento, considera mais favoráveis e que, na sua tendência social hegemónica, resolve impor como as únicas aceitáveis. Desta vez, foi a moda da apresentação de governos completos e da indicação das alianças futuras, no caso de ausência de maioria absoluta de um só partido.
Ninguém contesta a utilidade eleitoral de qualquer dessas iniciativas, particularmente da primeira delas. A história das campanhas eleitorais demonstra a vantagem da sua utilização. Mas, apenas, como um recurso que, quem nele vê vantagens, utiliza, mas sem a pretensão de que seja um modelo único e a usar por todos.
É evidente que os partidos, que, em cada eleição, se apresentam com hipóteses de as ganhar, têm muito mais a perder do que a ganhar com isso. Basta pensar que por cada nome que se apresenta para o Governo equivale à exclusão de dezenas ou, às vezes, até centenas de pretendentes ao lugar. Se for depois de eleições, serão apenas apoios e boas vontades perdidas, se for antes, serão mesmo votos!

domingo, fevereiro 20, 2005

O Jornalismo Como Exercício de Puro Cinismo




Nos últimos anos tenho conseguido escapar aos tradicionais ataques das gripes de fim ou de mudança de estação. Este ano fui menos afortunado. Três dias de "choco" e a ressaca de uma tosse irritante.
Com este contratempo perdi o contacto directo com as últimas peripécias da campanha eleitoral. Mas se calhar a febre deu-me uma nova sensibilidade para o cinismo reinante nalguns dos nossos respeitáveis órgãos nacionais de referência.
Entendamo-nos. Não é que não considere útil e até com valor pedagógico, a existência, por cada geração, de um ou dois cínicos com talento. Até é vantajoso para a sociedade ser flagelada nos seus excessos, ridículos e hipocrisias pela críticas aceradas de umas queirosianas e ramalhais "Farpas" ou pelas caricaturas impiedosas de um Bordalo.
Mas, numa sociedade, em que as pessoas são escrutinadas em permanência para os cargos e para o seu exercício quotidiano, encontrar o cinismo desbragado a esmaltar cada naco de prosa do mais anónimo jornalista ou preclaro estagiário, não me parece nada saudável.
Só dois ou três casos que considero típicos de alguns exemplares da fauna jornalística actual, muita dela chegada às páginas do jornais por meros empenhos e favores partidários ou que passaram directamente dos cursos de jornalismo para as redacções, sem antes amadurecerem na vida real.
Leiam estes dois nacos de prosa do repeitabilíssimo Diário de Notícias, que acabou transformado no órgão oficioso do santanismo mais "delgadista"(de Luís Delgado, claro.)
O objectivo de todas estas cavilhosas, retorcidas e cínicas especulações é claríssimo. Ilibar Santana Lopes. Condenar sumariamente Sampaio, porque serviu os interesses do PS e Sócrates, porque não merece a oferenda divina da maioria absoluta.
Parece-me difícil a um jornal de estatuto nacional descer mais baixo na reles especulação de café de bairro ou cinismo de conversa de esquina entre dois cigarros.
O chamado "charme discreto" do camarada Jerónimo é outro elucidativo exercício de hipocrisia da direita que, na mesma medida em que o ridicularizou, há uns anos atrás, como o candidato "bailarino" às eleições presidenciais, agora se confessa rendida aos seus encantos de sedução ideológica através de nomes como Vasco Graça Moura, Clara Ferreira Alves ou Miguel Esteves Cardoso!
É o decadentismo "blasé" de uma direita portuguesa à deriva entre as "santanetes," para elas, e a "jeronimofilia," para eles!
Como se vê, qualquer "barril" lhes serve para se acolherem e qualquer "lanterna" lhes é dispensável. Não se incomodam nada é com a sombra de qualquer "imperador"!

terça-feira, fevereiro 15, 2005

A Revolução Também Estará Passando Por Aqui?




Assinalemos dois factos e façamos uma pergunta, recorrendo à ajuda de três pensadores de três séculos diferentes.

Primeiro Facto. Faz hoje exactamente um mês que o Diário de Notícias se fazia eco de uma chamada "Plataforma Para a Música."
Este movimento, que juntava editores e criadores, chamava a atenção para a crise da indústria discográfica que, em Portugal, se desvaloriza a um ritmo catastrófico, de ano para ano, e reclamando várias medidas do poder político, para fazer face a uma situação caracterizada pelo desajustamento entre as novas possibilidades que a evolução tecnológica proporciona ao consumidor no acesso aos bens culturais, no caso concreto à música través da internet, e os instrumentos jurídicos e repressivos para a sua regulação.

Segundo facto. No princípio deste mês, surgia, em "Le Nouvel Observateur," um Apelo contra a repressão aos internautas a contas com a justiça francesa e subordinado ao título forte de "Liberez la Musique"!
Neste apelo, que continua a recolher numerosas adesões e a provocar acesos debates, exige-se o termo das perseguições absurdas e a abertura de um debate público afim de se poder " encontrar um conjunto de respostas equitativas e, sobretudo, adaptadas à nossa época".

Passemos à pergunta. Não serão sempre estes desajustamentos, entre o desenvolvimento de uma tecnologia e a resistência das estruturas sociais e jurídicas ao seu pleno desenvolvimento que, acumulando impasses e tensões, acabam por determinar rupturas revolucionárias que conduzam ao necessário ajustamento?

No século XIX, era isto mesmo que pensava Marx, por exemplo, quando escrevia. " Na produção social da sua existência os homens entram em relações determinadas(...) que correspondem a um grau determinado das forças produtivas materiais".

No século XX, Marta Harnecker afirmava: "Pouco a pouco produz-se uma não-correspondência. As relações sociais de produção começam a ser inadequadas para a expansão das forças produtivas".

No século XXI, Dominique Plihon, em " O Novo Capitalismo", abonando-se de Manuel Castells, salienta que: "A exclusão social na nova sociedade de informação não se limita à "fractura digital", isto é, à desigualdade no acesso às NTIC (novas tecnologias de informação e conhecimento), mas resulta fundamentalmente do funcionamento desta nova organização social".

Afinal, a pergunta não será tão retórica, como alguns seriam tentados a considerá-la, à primeira vista.



quinta-feira, fevereiro 10, 2005

A Revolução Estará Passando Por Aqui?



Mesmo que não sinta qualquer vocação ou ímpeto revolucionário convém-lhe passar os olhos por estes links. Abra os textos de "Os meus leitores sabem mais do que eu" e "ciber - escritas-um livro aberto".
Não o fazer é arriscar-se a ficar na história como a caricatura de Luís XVI: Escrever no seu diário de vida que, no dia da queda da Bastilha, aconteceu: NADA.
Não acredito que que queira correr esse risco ridículo.
Até porque não pode haver qualquer dúvida. Há algumas "bastilhas" que ameaçam mesmo ruir. Porventura, "bastilhas" menores. Porventura, "bastilhas" apenas sectoriais.
Em todo caso, verdadeiras "bastilhas".

Que, até há muito pouco tempo, pareciam de solidez inexpugnável.

Mas espere. Não se precipite para os links, sem duas breves reflexões prévias.

Leia estas duas afirmações de Manuel Castells, um dos mais conhecidos nomes da reflexão sobre as novas tecnologias:

" As redes pessoais sempre foram um factor no processo de formação de elites.(...) A diferença central hoje em dia é que não estamos só organizados em torno de redes, mas em volta de redes de informação motorizadas pela tecnologia, capazes de gerir complexidade e de coordenar funções e desempenhar tarefas com redes de qualquer dimensão e complexidade".

"É correcto não inferir uma transformação total só porque apareceu uma nova tecnologia de comunicação, ainda que revolucionária, como a internet. Mas ser cauteloso face às reivindicações ideológicas do determinismo tecnológico não nos deve levar à saída mais fácil, que é a de encarar a sociedade fundamentalmente como imutável porque não há nada de novo nesta terra".

Agora, os links são todos seus. Depois de os ler, espero que se sinta com suficiente convicção para poder dizer: NÓS... os média.







quarta-feira, fevereiro 09, 2005

De regresso aos programas eleitorais



Voltemos, então, à "coisa" pública, depois destes dias de pausa para a "coisa" carnavalesca.
Demos de barato aquilo que todos, há muito, sabemos. Que as barreiras entre uma coisa e outra, raramente são assim tão evidentes. Sobretudo, porque, em ambos os casos, a máscara e o disfarce imperam.
Exemplifico. Por detrás do disfarce de um texto programático sobre as duas regiões autónomas dos Açores e da Madeira, em que elas se esperariam ver reflectidas por igual, é possível distinguir, segundo os partidos, aqueles textos que foram escritos de uma perspectiva madeirense ou açoriana e ainda aqueles que foram escritos de uma perspectiva, predominante ou mesmo exclusivamente, partidária ou governamental.
Os do PSD e do PS foram escritos de uma perspectiva muito governamentalizada, com esquecimento ou mesmo prejuízo da perspectiva partidária. Quanto ao local do "crime". O primeiro é de matriz madeirense e o segundo de marca açoriana.
O da CDU, como seria de esperar, tem cunho marcadamente partidário, mas é uma miscelânea em que se articulam mal a focagem madeirense e o contributo açoriano.
Nada continuo a poder adiantar sobre o programa do PP, porque a Internet e o site do PP, ora o geram ora o abortam! Hoje abortaram-no, mais uma vez. Que flutuante "barco do amor", me saiu este PP, nesta matéria!
Comecemos pelo caso do PSD.
Repete-se neste programa eleitoral aquilo que já aconteceu com a última revisão constitucional. O PSD dos Açores abdicou totalmente de qualquer posição própria, em favor da exclusividade da posição madeirense.
Esta triste situação, que subverte toda a tradição e percurso histórico das autonomias, que sempre foram, primeiro, pensadas e formuladas pelos açorianos, que sempre tomaram a dianteira no seu debate e sistematização, e eram, depois seguidos pelos madeirenses, é mais um dos lamentáveis fracassos da herança do actual PSD dos Açores.
O PSD de Victor Cruz não só está preso pelo cordão umbilical ao seu pai-fundador-dono-senhor Mota Amaral, o que o torna suspeito, ao mesmo tempo, a Santana e a Cavaco Silva, mas deixa-se comandar pelo primarismo ideológico do PSD da Madeira e pelo seu estreito quadro mental sobre a Autonomia.
A impressão digital do PSD da Madeira é mais que evidente em expressões como, o "PPD/PSD que, nas últimas décadas, demonstrou no governo de ambas as regiões"...
É evidente que só um texto escrito na Madeira, e mal corrigido por um funcionário qualquer do aparelho central do PSD, é que podia escrever uma frase dessas. A não ser que me convençam que o PSD dos Açores ainda pensa que esteve no poder... na última década.
Só da Madeira é que podem, igualmente vir referências à liderança das alterações constitucionais "de forma particularmente relevante na última revisão constitucional". Ou ao propósito de "completar a regionalização de serviços" ou à "linha de sempre de solidariedade com as Regiões Autónomas."
Qualquer uma destas miragens, só no indigente deserto intelectual e político madeirense é que podiam ter cabimento num programa eleitoral para vender a um eleitorado comandado há trinta anos pela forma mais castradora de pensamento único.
Pobre PSD-Açores, transformado em simples delegação do PSD-Madeira!
Quem te viu!... E quem te vê! Cada vez mais longe dos açorianos!

quinta-feira, fevereiro 03, 2005

Bloguismo, fenómeno duradoiro ou moda passageira?


A Mariana, no Ardemar do dia 31 de Janeiro, teve a gentileza de incluir o meu nome num grupo daqueles que costumo designar pela blogolândia insular.

A forma que encontrei para lhe agradecer a deferência, como caloiro do bloguismo que ainda mal acabou de ultrapassar o tempo "académico" da praxe, foi, em primeiro lugar, "roubar-lhe" a curiosa imagem do blogger.

Espero que a confissão espontânea me valha o perdão do atrevimento.

Em segundo lugar, deixar aqui duas reflexões sobre o fenómeno do bloguismo que me parecem curiosas. Pela formas diferentes que revestem e perspectivas antagónicas que expressam.

Uma, a forma poética e a perspectiva do blog-sucedâneo perecível do juvenil diário íntimo. Trata-se de um belo poema de Fernando Pinto do Amaral, no seu livro "Pena Suspensa".

O outro, é do conhecido editorialista Ignacio Ramonet, no número de Janeiro de "Le Monde diplomatique" , que situa o fenómeno no enquadramento da crise generalizada dos meios de comunicação social tradicionais. O link permite a leitura completa do artigo, que também pode ser lido na edição portuguesa do jornal. A transcrição que faço é apenas da parte respeitante aos blogues.

Fernando Pinto do Amaral

BLOG

Mantivera no fim da adolescência
o seu diário íntimo:
páginas manuscritas onde ardiam
rastilhos de mil sonhos que rasgavam
as mordaças da angústia social,
a timidez tão própria da idade.

Nessa caligrafia cuja cor
fora ainda a do sangue
colheu a energia necessária
para atravessar como um sonâmbulo
o ordálio daquela juventude,
o seu incandescente calendário
de amizades vorazes, tão velozes
como os amores que julgava eternos
e outras feridas mal cauterizadas.

Hoje quase não volta a essas páginas:
estamos no século XXI
e em vez do diário de outros tempos
mantém agora um blog
onde todos os dias extravasa
recados, atitudes, confissões,
coisas no fundo tão inofensivas
como o fogo que outrora lhe acendia
as frases lancinantes
- embora hoje em dia quando escreve
tenha por um momento a ilusão
de que as suas palavras continuam
a propagar ainda o mesmo vírus,
e a alimentar, quem sabe, os mesmos
sonhos
sempre que alguém desconhecido as ler
como quem só assim então escutasse
um segredo na noite do mundo.

Mas, apesar de todo o entusiasmo
que o mantém acordado por noites sem fim,
ele adivinha que também virá
um dia a abandonar sem saber como
o seu actual vício solitário
e dentro de alguns anos, ao reler
as frases arquivadas no computador,
talvez tudo isso lhe pareça então
fruto de gestos tão adolescentes
como os que antigamente preenchiam
esses cadernos amarelecidos
e hoje sepultados para sempre
em esquecidas gavetas de outro século.

(Fernando Pinto do Amaral, Pena Suspensa,Dom Quixote, Lisboa, 2004, pags. 28/29)


Ignacio Ramonet

"Il y a aussi le phénomène des « blogs », si caractéristiques de la culture du web, qui ont explosé partout au cours du second semestre 2004, et qui, sur le ton du journal intime, mélangent parfois, sans complexe, information et opinion, faits vérifiés et rumeurs, analyses documentées et impressions fantaisistes. Leur succès est tel qu’on en trouve désormais dans la plupart des journaux en ligne. Cet engouement montre que beaucoup de lecteurs préfèrent la subjectivité et la partialité assumées des bloggers à la fausse objectivité et à l’impartialité hypocrite d’une certaine presse. Et la connexion à la galaxie Internet à travers le téléphone-portable-qui-fait-tout risque d’accélérer encore le mouvement. L’information devient encore plus mobile et plus nomade. On peut savoir, à tout moment, ce qui se passe dans le monde."

Fica a pergunta: Bloguismo, moda passageira na vida de cada um e na sociedade de todos, ou fenómeno duradoiro?

Aceitam-se apostas.


terça-feira, fevereiro 01, 2005

Variações sobre Programas Eleitorais


No primeiro dia de um mês de eleições, pareceu-me boa ideia deitar uma olhadela ao tema da autonomia nos programas eleitorais dos diferentes partidos concorrentes à Assembleia da República e cujos programas estejam acessíveis na Internet.
Vou-me restringir, hoje, nestas variações iniciais sobre o tema, aos partidos com representação parlamentar.
Na página do PP, não consegui encontrar sinais de programa eleitoral, muito menos de regiões autónomas.
Vi muita gente com "pose" de Estado, mas ideias com "peso" programático, sobre o que quer que fosse, nem rasto. Provavelmente, andam todos muito atarefados no reino dos valores que, como se sabe, fica um pouco acima das ideias e um tudo nada ao lado das "poses". Se alguém der pela descida desses nefelibatas de novo estilo, ao mundo das ideias ou ao mundo dos simples humanos, agradece-se a informação.
Na página do Bloco, encontrei o programa eleitoral, mas também não consegui descobrir qualquer parte do mesmo dedicada às Regiões Autónomas.
E, na primeira leitura rápida do programa, só consegui descobrir duas referências, currente calamo, sobre as autonomias. Uma inócua, em que se menciona o contra-senso de colocar açorianos a votar sobre referendos relativos a outras regiões do país. Outra negativa, em que se faz menção de atitudes de João Jardim.
Para um partido, que começa a ter pretensões a ser algo mais do que uma variante com sucesso, das muitas modalidades europeias da "esquerda caviar", acho lamentável a ausência de discurso sobre uma das experiências mais importantes da democracia portuguesa.
Bem sei que, actualmente, a autonomia não faz parte do lote de temas com carácter fracturante, que é o grande prato de resistência do Bloco, que conseguiu roubar, com êxito, às "jotas" dos grandes partidos.
É natural que, quando o Bloco conseguir ultrapassar essas fixações juvenis da sua matriz original, finalmente descubra a autonomia, como algo que está para além das "jardinices" do Alberto João e das questões fiscais da Zona Franca da Madeira. Ainda não foi desta...
Em economia de ideias e de palavras sobre a temática autonómica, para, por agora, usar de uma expressão benigna, segue-se a estes dois modelos de não-discurso, a pobreza franciscana do discurso do PPD/PSD.
À primeira vista, custa a crer que o desenvolvimento do tema da autonomia e as perspectivas eleitorais imediatas sobre ela, seja mais anoréctido no Programa do PPD/PSD( invocá-lo com esta nova sigla faz parte do astral mágico do cantado "guerreiro menino") do que no programa do PS e do próprio PCP.
Para mim, não tem nada de estranho, porque é uma tendência que se vinha afirmando nos anteriores programas eleitorais do PSD.
Escrevi longamente sobre o assunto em eleições anteriores. Vou voltar a fazê-lo. Até porque é bem possível que estas "nuances" escapem aos nossos perspicazes jornalistas regionais. Como aconteceu em todas as situações anteriores.
Por agora, deixo-vos com o link para os - seis parágrafos seis - a que se reduz o "Contrato" do PPD/PSD com os açorianos.
Cinco são de auto elogio, com erros factuais à mistura.
O sexto tem duas promessas. Uma, sem conteúdo preciso. Noutra, propõe-se o PPD/PSD recuperar na, provável, oposição na Republica, aquilo a que se recusou no Governo: rever a lei de Finanças das Regiões.
E é tudo. O resto fica para a campanha eleitoral. Com cartazes, muitos cartazes. Slogans, muitos slogans. Mota Amaral, muito Mota Amaral! E pouco, muito pouco Santana nas regiões!
Note-se, ainda, que já não há qualquer referência à sacramental bandeira da extinção do, outrora, execrável Ministro da República. Nem às responsabilidades da República sobre os serviços e bens do Estado nas regiões autónomas. Nem sobre as próximas tarefas da Assembleia da República sobre o Estatuto e os sistemas eleitorais das regiões.