quarta-feira, novembro 30, 2005

"Não sei o que amanhã trará"

Esta teria sido a última frase escrita por Fernando Pessoa, segundo um dos balanços, mais ou menos necrológicos, que os 70 anos da morte de Pessoa, que hoje ocorrem, começam a fazer saltar para as páginas dos jornais.
E para as "entradas"dos bloggues, como este.

De Pessoa, se pode dizer o que ele disse da "noite antiquíssima e idêntica":

"Todos os sons soam de outra maneira
Quando tu vens.
Quando tu entras baixam todas as vozes,
Ninguém te vê entrar,
Ninguém sabe quando entraste,
Senão de repente, vendo que tudo se recolhe".

Tudo se recolhe,
para ouvir Fernando Pessoa dizer coisas definitivas como estas, sobre o homem do nosso tempo.
Sobre nós todos ( ou quase todos), filhos e herdeiros das incertezas dos tempos de hoje, que nos devoram a todos, passando por dentro de nós:

  • "Ficámos, pois, cada um entregue a si próprio, na desolação de se sentir viver.
  • Um barco parece ser um objecto cujo fim é navegar; mas o seu fim não é navegar, senão chegar a um porto.
  • Nós encontrámo-nos navegando, sem a ideia do porto a que nos deveríamos acolher.
  • Reproduzimos assim, na espécie dolorosa, a fórmula aventureira dos argonautas: Navegar é preciso, viver não é preciso".


Como se pode deduzir deste texto, Fernando Pessoa, primeiro, viveu ( ou "fingiu" viver, genial "fingidor" de si próprio e de todos nós), em todos os dias da sua vida, a frase do dia da véspera da sua morte: "Não sei o que amanhã trará".
Nota em tempo. O que efectivamente Fernando Pessoa terá escrito, terá sido o seguinte:"I know not what tomorrow will bring".

Última nota de "fingimento," do genial fingidor, cuja "pátria era a língua portuguesa"?!

terça-feira, novembro 29, 2005

Finalmente, o alegado flagrante


Desde que começaram as notícias sobre os alegados aviões, alegadamente alugados pela alegada Companhia Internacional de Aviação, antigamente mais conhecida só pela sigla CIA, que aguardava impaciente um flagrante desse passarões furtivos, que descolavam e aterravam sempre no passado. Tinham estado... tinham passado... há meses... há anos...
Finalmente aconteceu...
Finalmente, os nossos jornalistas mostraram que não são apenas dotados de excepcional ouvido para escutas e para desvendar segredos da justiça portuguesa, também são muito capazes de ver, claramente visto, os novos ovnis do século XXI e novíssimos segredos da CIA.
É claro que a imagem é de arquivo.
É claro que o dito avião passa regularmente pelas Lajes.
É claro que estava vazio!
É claro que a notícia com classificação de última hora tinha todas as condições para ser arquivada.
É claro que tudo isto se passou na "base militar norte americana das Lajes (Açores)" e não na Base Aérea nº 4, da Força Aérea Portuguesa situada nas mesmas Lajes e arquipélago.
Mas nenhum desses reles pormenores tem qualquer importância.
O que interessa é que quem quiser ter o seu encontro de terceiro grau com os passarões voadores da CIA só tem de ser tão regular como eles a espreitar para a tal "base militar norte americana".
Não faça é o mesmo que este desprevenido jornalista.
Pela sua e nossa saúde mental, leve a sua máquina fotográfica, por favor.

# 06 A cada um, o seu muro da vergonha

As cúpulas doiradas, que brilham sobre o "muro das lamentações"
podem ser as mesmas e do mesmo templo;

Exactamente as mesmas que brilham sobre o "muro da Cisjordânia".
Mas o seu significado é necessariamente diferente,
para quem as vê de um ou outro dos dois muros.


A importância decisiva do "factor muro" não podia ser mais evidente!
O primeiro dos muros aproxima as pessoas das cúpulas e do templo,
o segundo afasta-as.

segunda-feira, novembro 28, 2005

Dança de Carnaval:Uma das mais bonitas e melhor conseguidas

Esta era a opinião de José Noronha Bretão, sobre a dança da "Vida de São Sebastião,"da autoria de Coelho de Sousa e de que os possíveis interessados poderão ir tomando conhecimento, através do Álamo Esguio, que iniciou a publicação do seu texto, com base nos originais e na versão publicada na obra de José Bretão sobre o "As danças de Entrudo, Uma Festa do Povo".

Diz Orlando Bretão:"Das várias centenas de danças a que assisti considero esta uma das mais bonitas e melhor conseguidas".


domingo, novembro 27, 2005

Sete Dias é muuuiiiito Tempo!!!...

Só eu sei a razão porque guardei, precisamente para hoje, estes sete conselhos que descobri há alguns dias neste blogue.

A tradução e eventuais "traições" ao texto original são da minha inteira responsabilidade.



  • Sete conselhos para que o teu blogue sobreviva à sua primeira semana.

  • Não comeces o teu blogue, antes de dispores de um modelo personalizado. Se nem sequer te incomodares em lhe dares um toque pessoal quando ele nasce, muito mais facilmente te deixarás vencer pelos incómodos diários de manter vivo o teu blogue.
  • Actualiza o teu blogue com regularidade. Convence-te que escrever num blogue é como ter um cão que se tem de levar a passear dia após dia.
  • Não te deixes obcecar pelas estatísticas dos contadores de visitantes. Se o conteúdo do teu blogue é mesmo bom, os visitantes acabarão por aparecer.
  • Utiliza o corrector ortográfico. Mostra que te preocupas com a qualidade daquilo que escreves.
  • Procura transmitir uma imagem pessoal e bem definida através do cabeçalho do teu blogue.
  • Luta por objectivos realistas. Não tenhas a pretensão de chegar a ser o campeão das buscas do Google.
  • Nunca te dês por vencido. Ao fim e ao cabo, não será por seguires estas regras ou outras semelhantes, mas pelo empenho pessoal que venhas a colocar nesta tarefa, que conseguirás que o teu blogue ultrapasse a fatídica barreira dos sete dias.
  • Para o autor desta lista, porém, a maioria dos blogues que são abandonados na primeira semana sofrem de algum ou alguns destes defeitos.
  • Para o tradutor desta lista, o desafio dos sete dias é apenas um, dos setenta vezes sete desafios que, prolongar semana após semana, a vida de um simples blogue pode, algumas vezes, representar.

#05 A cada um, o seu muro da vergonha

As armas dos soldados que rezam junto ao muro das lamentações...

Têm a mesma função das armas que guardam o muro da Cisjordânia?

As armas, em bandoleira, no "muro das lamentações," são apenas mais um acessório da fé?
E as armas, em posição defensiva, junto de um espaço do muro por construir, um símbolo do que o muro da Cisjordânia realmente é, depois de construído?

sábado, novembro 26, 2005

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sexta-feira, novembro 25, 2005

A Televisão do nosso Desencanto

Com os telejornais do nosso espanto.




Cada vez entendo menos a nossa televisão e os seus paradoxais critérios informativos.
Problema meu, dirão alguns. Provavelmente com razão.
Mas incómodo e intolerável, para muitos. Posso garantir. E causa de irritação e rejeição para outros tantos. Também posso garantir.
Mas vamos a factos.
Dois exemplos desta semana.
Um regional e outro nacional, para equilibrar.
1. Terça feira passada, se não me engano no dia, o telejornal da RTP-Açores, brindou-nos, em dose dupla - uma, pelas 20 horas, outra depois da meia noite- com um telejornal de 40 minutos, assim, criteriosamente distribuídos:

  • 33 minutos sobre temas de saúde, com a presença e entrevista do Secretário Regional do sector;
  • 2 minutos de política, com uma conferência de imprensa do PCP;
  • 5 minutos de desporto.

    Observações para melhor ajuizar do evidente “equilíbrio jornalístico “ na ponderação destes tempos televisivos, em que vale a regra que “um minuto em televisão é uma eternidade”:
  • Em todos os temas tratados nos 33 minutos concedidos à saúde, só havia duas notícias daquele dia, uma das quais repescada de telejornal anterior. Esta última era a dos 4 cães micaelenses (trata-se mesmo de cães, embora se possa suspeitar que, para o jornalista de serviço, o importante não era tanto serem cães, mas serem cães da ilha maior) mortos por leptospirose e um Congresso de Oncologia.
  • Os restantes temas eram claramente de arquivo, mas ensanduichados naquele mesmo telejornal pelo racional critério das “cerejas:“a propósito de saúde”…mais este tema, e este…e este…de São Miguel às Flores, passando pela Terceira, para conferir aquela aparente açorianidade da praxe.
  • Mas as considerações sobre os temas reais ou implícitos e de que a saúde é apenas uma manifestação ocasional terão de ficar para “ventilhação” futura.
    2. O outro exemplo vêm-nos da RTP1.
  • A primeira notícia do telejornal de quarta feira é a da apresentação pelo Governo dos estudos relativos à construção do aeroporto da OTA, que, há muito, eram esperados e reclamados.
  • Como me parece óbvio, e por insuficientes e contestáveis que sejam, devem, esses estudos, seguramente, ter algum argumento favorável à localização do aeroporto na OTA.
  • Pois os jornalistas da RTP1 conseguiram o quase milagre de reportarem, questionarem, entrevistarem, comentarem, acrescentarem, inteligentemente indagarem “como é que vê? “como é que acha que”? e, porventura, o acutilante “como é que se sente”?;
  • Conseguiram tudo isto, sem, uma única vez, permitirem ao seu espectador perceber o mais elementar: O argumento do Governo para a escolha da OTA.
  • Com este memorável antecedente, corremos o sério risco de a OTA começar a funcionar, lá para meados da próxima década, sem que a RTP1, nos seus telejornais, se tenha sequer aproximado da grande e fatídica questão que interessa mesmo a todos os portugueses:
  • Por que razão a escolha da OTA?
  • Abençoadas televisões que nos deixam presos nas raízes da sabedoria: O espanto. O paradoxal espanto.

                          • # 04 A cada um, o seu muro da vergonha

                            O muro entaipa toda a janela que permita a comunicação
                            E previne contra o simples olhar de aproximação;


                            O muro multiplica as grades de prisão
                            E consolida todas as formas de distanciação;

                            O seu maior dano não é pela distância física que cria
                            entre os indivíduos,
                            É pela barreira psicológica e afectiva e cultural que reconfirma
                            entre os povos.

                            quinta-feira, novembro 24, 2005

                            #03 A Cada um, o seu Muro da Vergonha

                            Entre cada Continente, o seu Muro.



                            A Cada Muro, a sua Caravana

                            terça-feira, novembro 22, 2005

                            Congresso do PSD-Açores: I Congresso Nacional dos "Históricos"





                            Só ontem é que tomei consciência que o PSD-Açores se prepara para protagonizar, em rigorosa exclusividade, mais um grande feito na sua longa e perfeita história de muitos e grandes feitos.
                            Um congresso só para "históricos".
                            Mas não um congresso para "históricos"unidos por uma história e um passado comum, como seria de esperar de um partido que foi zelosamente amestrado para a unidade, pelo seu primeiro líder (sobre)natural.
                            Não.
                            Trata-se de um partido, rigorosamente"partido" ao meio, pela única razão que o podia e devia unir: o seu passado.
                            No momento do primeiro Congresso pós-Mota Amaral, o PSD-Açores entrou para as páginas da história e de lá nunca regressou para o encontro com a vida da sociedade açoriana, que continua feliz por ele se manter prisioneiro do seu passado e sem desencantar a via de retorno à realidade de hoje.
                            A lista de "históricos" do PSD da Terceira e de São Miguel, ontem estampada num diário regional, despertou-me para essa novidade da transformação do próximo Congresso do PSD-Açores, no Primeiro Congresso da Democracia portuguesa e da Autonomia açoriana, só para Históricos.
                            Da Terceira, acompanham o "histórico"Natalino Viveiros ao Congresso do PSD-Açores, os seguintes abencerragens da política açoriana:
                            Adolfo Lima, que lidera;
                            Adalberto Martins, que continua a acompanhar quem, já antes, o liderava;
                            E "muitos outros destacados militantes locais do PSD", no dizer de "A União".
                            Anónimos para nós e para o jornal. Mas, se "destacados", inevitavelmente, "históricos".
                            De São Miguel, a lista do mesmo jornal inclui os nomes, nunca por demais lembrados, de:
                            Vasco Garcia, que, como é óbvio, acumula. Além de liderar também dirige. Lidera uma lista e dirige um Gabinete... de Estudos.
                            E ainda é membro do grupo de trabalho da moção do candidato.
                            Grupo que Gaspar da Silva também ornamenta...
                            E ainda Lalanda Gonçalves...
                            E ainda Joaquim Machado...
                            Históricos nomes da história do PSD. Todos eles com história e com muitas histórias!
                            Razão tinha Mota Amaral, ao recordar, a propósito do 10º aniversário da sua evasão do Governo dos Açores para o remanso da Assembleia da Republica, que o fizera, exclusivamente por razões de cansaço pessoal.
                            O PSD-Açores, por si, ficara em perfeitas condições para continuar a governar os Açores.
                            E, aí estão, dez anos depois, todos os seus homens de antanho.
                            De regresso. A dar-lhe razão.
                            Com um pequeno atraso de dez anos!
                            Mas os mesmos, quase sem falhas.
                            Ou melhor, metade dos mesmos.
                            A outra metade, segue noutra carruagem.
                            Ainda um pouco mais lenta do que a do Natalino.
                            A do Costa Neves. Que não dá a cara. Dá moção por si.
                            Com os habituais rodeios, para chegar ao único sítio onde se sente como no seu "lugar natural". O do poder. Qualquer que seja! Pouco importa, qual seja!
                            À falha e à falta de outro, que venha o do partido!Pela segunda ou pela enésima vez. Para ele, será sempre "tempo novo". Porque tempo de (algum) poder!

                            segunda-feira, novembro 21, 2005

                            #01 A Cada um, o seu muro da vergonha

                            O MURO SONHADO

                            Francisco Goya



                            "Os Sonhos da razão política que engendram monstros"


                            "Un mur de 3 200 km longeant toute la frontière entre les Etats-Unis et le Mexique : telle serait la la "barriére de securité" idéale pour empêcher l'immigration illégale, affirment deux parlementaires américains, membres du Parti républicain, qui ont déposé un projet de loi dans ce sens, le 4 novembre".

                            #02 A Cada um, o seu muro da vergonha

                            O Muro da Vergonha e da Morte



                            A Cada Muro da Vergonha, o seu Cortejo de Cadáveres

                            La volonté des Etats-Unis de contrôler strictement leur frontière méridionale a déjà coûté la vie à des milliers de migrants, originaires du Mexique ou d'autres pays latino-américains. Depuis 1995, on a découvert, dans les zones désertiques qui bordent la frontière, plus de 3600 cadavres de migrants, morts avant d'avoir pu réaliser leur rêve. Mais l'on estime que le nombre réel de victimes serait deux à trois fois supérieur. "C'est une tragédie majeure, écrit dans le quotidien Reforma le politologue mexicain Sergio Aguayo, si l'on songe que, durant les vingt-huit ans d'existence du mur de Berlin, 192 Allemands sont morts en essayant de le franchir."

                            sexta-feira, novembro 18, 2005

                            #02 A Sorrir para a Eternidade...

                            NA POLÍTICA


                            Chirac trahi par ses lunettes
                            Pour Jacques Chirac, l'abandon des lentilles est un aveu d'usure.
                            Lui qui se teint les cheveux, qui veille à être bronzé toute l'année, lui qui enrage lorsqu'on ébruite qu'il teste une prothèse auditive, le voilà forcé de reconnaître qu'à dix jours de son septante-troisième anniversaire le temps a fait son œuvre...
                            Quant au choix de la monture, c'est "back to the Seventies".
                            Ne manquait plus qu'un Giscard surgissant d'un écran noir et blanc, et une séquence des Shadocks pour se sentir télétransporté dans les Trente Glorieuses.
                            (Le Soir)

                            #01 A Sorrir para a Eternidade...

                            NA LITERATURA


                            "Em vez de levar Tchecov para o estúdio, Giulio dirigiu-o para uma pequeno salão, fê-lo sentar e lançou-se num longo monólogo sobre o papel do fotógrafo numa estância frequentada sobretudo por doentes estrangeiros.
                            Sabia que muitos dos hóspedes de Badenweiler eram doentes à espera de salvação, mas cépticos quanto à possibilidade de a alcançarem.
                            Pelo que, todos eles, num dado momento, sentiam a necessidade de se fazerem fotografar, de deixarem atrás de si uma última imagem.
                            Pediam para ser retratados com uma luz doce que não acentuasse eventuais marcas de doença, em atitudes que traduzissem alegria de viver.
                            Este retrato psicológico da sua clientela devia interessar seguramente um escritor como Tchecov.
                            Este desarmou o fotógrafo ao dizer-lhe que também ele queria um daqueles retratos a sorrir para a eternidade(...)".

                            quinta-feira, novembro 17, 2005

                            A Palavra contra a História

                            Não há palavras que consigam alterar(e estragar) o curso da História, tal como ela foi vivida, nos anos setenta, pela minha geração.

                            Mas lá que chegam para estragar um dia, lá isso chegam.

                            O meu está estragado com a leitura matinal deste acto de contrição.

                            Não sei se o (seu) Deus lhe perdoará!

                            A História, tenho a certeza que não!

                            E espero que os tribunais, também não!

                            "Je regrette et souffre pour ces pertes (humaines) mais Dieu me pardonnera si j'ai commis des excès, ce que je ne crois pas."

                            Augusto Pinochet a été interrogé, lundi, par le juge Victor Montiglio. L'ex-dictateur chilien a dû répondre à 20 questions au sujet du massacre de 119 opposants lors de l'opération Colombo en 1975. Malgré une "démence modérée" diagnostiquée il y a trois ans, M. Pinochet est en état d'être jugé, selon des experts médicaux.

                            #04 ...E Liberta-te de Preocupações com o Futuro.



                            (...)"O dr. Bühl objectou dizendo que, de qualquer modo, através da sua obra, estava já projectado para o futuro.
                            Anton não colheu lisonja naquelas palavras, mas desenganou o amigo.
                            A modesta fama que conquistara seria de pouca dura e não ultrapassaria o limite de tempo necessário para a venda dos livros acumulados nos armazéns dos editores.
                            Quanto às suas peças, não contava nem com Stanislavsky nem com a devoção da mulher actriz para que sobrevivessem nos palcos de Moscovo ou S. Petersburgo.
                            A hipótese deste progressivo esquecimento era-lhe fonte de grande paz, sem sombra de ressentimento para com os vindouros"(...)
                            Nota em tempo: A fonte deste tema, explorado nos "Dias Contados", é um verso de uma ode de Horácio e que (só para os mais curiosos...) diz o o seguinte: Carpe diem quam minima credula postero. Que é como quem diz : Agarra o dia, confiando o mínimo no futuro.

                            #03 ...A Solução: Carpe diem...



                            (...) "Pessoalmente, porém, desde que a crise afogada em champanhe lhe anunciara para breve o próprio fim,saboreava uma liberdade nunca dantes assim vivida.
                            Nestas semanas, nestas horas que sabia derradeiras, apesar das constrições da doença, sentia-se um homem livre.
                            Poder antever o momento em que as parcas cortariam o fio da sua existência libertava-o da mortal ansiedade de quem vive sujeito às arbitrariedades e às etiquetas do mundo.
                            Com isto queria dizer que era um homem que não tinha de se preocupar com o futuro, um homem com um exclusivo apetite para o presente:
                            Carpe diem! (...)".

                            quarta-feira, novembro 16, 2005

                            Há Raciocínios Muito(mas mesmo muito) Cavilosos...

                            ...Tão cavilosos que se auto-destruem.

                            Este, por exemplo, da "primeira coluna" do Diário Insular" de hoje:

                            "Os Açores necessitam de uma oposição credível, suficientemente forte e organizada para que se constitua enquanto alternativa ao poder instalado. O partido no poder e o governo que ele sustenta, lucram igualmente da normalidade dessa situação.
                            Quanto mais a oposição aponta falhas e apresenta alternativas, mais aprimorada terá que ser a actuação do governo nas suas políticas, que, ou emenda a mão, ou não tardará a ser penalizado no acto eleitoral seguinte".
                            Mas quem que é que garante ao "colunista primeiro" do DI que o PSD-Açores não apostou, até hoje, precisamente, em não "aprimorar"(este verbo é uma "saborosa" delícia semântica!) a "actuação do governo" com as suas alternativas(suas/dela oposição, claro...) para que ele não tarde " a ser penalizado no acto eleitoral seguinte"?
                            É verdade que, em "cada acto aleitoral seguinte,"o PSD-Açores tem sido premiado, não com o acesso ao poder, mas com um novo líder. Mas tudo isto são apenas simples acidentes de percurso que não invalidam a pertinência do raciocínio.
                            Mais ainda, caro "colunista primeiro", posso-lhe garantir que, com os dois candidatos que, até agora, se apresentaram na disputa da liderança, é isto mesmo que vai continuar a acontecer ao PSD-Açores!
                            Continuar a sua vagabundagem política pela estrada, que tão bem conhece, do "quanto pior... melhor"!

                            terça-feira, novembro 15, 2005

                            #02...é Ocasião de Imoralidade.



                            (...) "Tchecov ouviu com atenção e procurou reconduzir à sua experiência profissional esta fábula que poderia ser grega ou romana, mas nunca russa.
                            Assistira a longas agonias de muitos doentes e não se lembrava de ter sentido neles o desejo de saber quando chegaria a sua hora, que previam inevitavelmente próxima, mas sem perderem a esperança de um milagre para além da ciência do médico.
                            A tal intervenção dos deuses.
                            Para um homem em boa saúde, esse domínio do ciclo da própria vida parecia-lhe fonte de imoralidade, não de liberdade.
                            Quantos crimes não seriam cometidos por quem, sabendo-se imune a uma punição fatídica até à data pré-fixada, não hesitaria em resolver violentamente os entraves quotidianos às suas ambições e aos seus desejos?"(...)

                            #01 Toda a Fonte de Liberdade...



                            (...) "Lembrava-se de ter lido num qualquer alfarrábio dedicado à mitologia que o grande desafio de Prometeu aos deuses tinha sido o de oferecer aos homens a possibilidade de saberem qual seria o dia da sua morte, de conhecerem o segredo das parcas, e não a sua iniciativa de lhes entregar o fogo.
                            Esse conhecimento libertaria os homens do domínio dos deuses e torná-los-ia senhores do tempo do seu destino.
                            Por isso, ao porem cobro aos desaforos de Prometeu, os deuses consentiram que os homens ficassem com o fogo, retirando-lhes a capacidade de antever a duração das suas vidas.
                            Se cada homem pudesse saber exactamente quanta estrada lhe tocaria fazer, deixaria de sofrer o peso do destino e cessaria de viver no temor dos deuses.
                            Teria conquistado uma liberdade somente limitada pelos anos que lhe tinham sido reservados"(...).

                            segunda-feira, novembro 14, 2005

                            Os Blogues mudam o Mundo.



                            Claro que "o mundo" que consta do título é apenas o célebre diário francês "Le Monde".
                            Quem conhece alguma coisa da sua longa história, sabe que sempre foi um dos jornais de referência da imprensa de influência e expressão mundial, que mais lentamente se foi curvando às exigências da evolução tecnológica.
                            A introdução da fotografia no jornal só há poucos anos se tornou habitual nas suas páginas. Mesmo assim, alguns dos seus muitos suplementos quase se mantiveram fieis à antiga tradição da sua aparência austera e quase sem cor. Le Monde Hebdomadaire, por exemplo.
                            O que é um verdadeiro sinal dos tempos é que, segundo o seu próprio director, Jean-Marie Colombani, o jornal, este ano, perdeu 45.ooo assinaturas "em papel", mas " Le Monde. fr" ganhou 65.000. É isto que explica que a audiência do jornal se mantenha nos dois milhões por dia.
                            Mas a que propósito é que entram aqui os blogues? É simples.
                            Como diz Le Point, os blogues estão entre os três factores que determinaram a nova cara com que "Le Monde "passou a ser publicado desde segunda feira passada.

                            • Os blogues, "impertinentes e, por vezes, melhor informados" que os jornais e os jornalistas.
                            • "Os quotidianos gratuitos, que instalam nas pessoas a ideia que a informação não se paga".
                            • "Os problemas estruturais do sector".
                            .
                            Será exagerado dizer que, blogue a blogue, se foi mudando
                            Le Monde e se está a mudar o mundo?

                            sexta-feira, novembro 11, 2005

                            Cavaco Silva: O Retrato do Mito

                            "O Mito é o Nada que é Tudo" (Fernando Pessoa)


                            "O carisma de Cavaco Silva é um caso extraordinário.


                            Porque o homem não tem realmente carisma: é seco, sem interioridade nem estilo, e não parece ser um grande amante da cultura.


                            Mas dez anos de governação e a adoração das massas ensinaram-lhe várias coisas: uma dicção pausada que ritma o olhar (de quem pensa profundamente e «em consciência» — expressão várias vezes utilizada no seu discurso), um meneio correspondente da cabeça, um semblante sério e grave, à medida das circunstâncias.


                            Tudo isto confere-lhe uma espécie de estilo.


                            Eis um homem honesto, íntegro, que já deu provas, que tem a «elevação» adequada a um presidente. Acima da política e dos partidos, e, como dizia um apoiante, «um bom pai de família, um bom marido e um pai da nação, porque a nação é uma família”. (...)


                            Todas estas imagens não compõem a de um presidente real, porque os poderes do Presidente são limitados.


                            Por outro lado, a imagem total que Cavaco propõe enferma de uma característica evidente: autoritarismo (ou rigidez, se se preferir este eufemismo) datado, «perfil» de outros tempos, não o de um Portugal que necessita de se abrir e de se exprimir, de portugueses que procuram tomar iniciativas.


                            A imagem de Cavaco Silva é a de «um grande estadista» a quem o povo deseja delegar a acção, desresponsabilizando-se da que lhe Incumbe.


                            Voltaremos, imperceptivelmente ao descanso inocente do Portugal arcaico sob a aparência da modernidade. "


                            (josé Gil, Courrier Internacional, nº 30, de 28.10.2005)

                            Erros (Im)Perdoáveis ? (VI)...


                            Depois de ter chamado à colação deste blogue, em entrada anterior, a Assembleia Legislativa da Região Autónoma da Madeira e a sua página na net com o seu taipal ("em actualização") de "obra de Santa Engrácia", não podia furtar-me a uma espreitadela à "homepage" da Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores.

                            Como é de tradição nestes paralelismos insulares, as chamadas "vantagens comparativas" são claramente favoráveis ao nosso Parlamento Regional.

                            A sua qualidade coloca-a bastante acima da madeirense.
                            Mas, não é, ainda, uma "bela sem senão".
                            Pelo menos do ponto de vista daquela regra de que me fiz eco há umas entradas atrás.
                            Volto a recordá-la: "Se o seu site possuir algum link que não esteja com o vínculo pronto não o hospede. Deve-se evitar mensagens como "site em construção" site em actualização" "site em desenvolvimento", entre outras, porque eles mostam desorganização e causam impacto negativo no usuário".
                            Pode ser uma regra que alguns considerem excessivamente rigorosa. E, ainda recentemente, fazer o seu contrário, em Portugal, era um comportamento corrente.
                            Seja como for , a verdade é que o site da Assembleia açoriana não tem nenhum desses avisos na "fachada", ao contrário da Madeira.
                            Tem-nos pudicamente escondidos sob os itens da sua página inicial .
                            É menos descarada, mas a gafe está lá. Basta clicar neles para descobrir o "rabo do gato."
                            Esperemos que por pouco tempo.
                            Ao contrário de algumas outras gafes da nossa Assembleia, que parecem tardar em encontrar solução.
                            Mas estes são contos largos e outros, para outras alturas.

                            quarta-feira, novembro 09, 2005

                            De Novo, no Centro da História?




                            Não seria a primeira vez que a França passaria directamente das convulsões na rua para o coração da história.
                            Aconteceu no século passado, com o "Maio de 68".
                            Aconteceu no século 18, com prolongamentos vários no século 19, com a que ficou conhecida, precisamente pela "Revolução Francesa".
                            Voltará a acontecer, agora, com os distúrbios nas periferias das cidades francesas?
                            Mais uma vez, a vida rompe o dique das estruturas sociais caducas e incapazes de responder à muito sentida e falada "malaise"francesa?
                            "Malaise" da França consigo própria, com a Europa, com a globalização e, agora também, com uma parte importante dos seus próprios filhos e núcleos importantes das suas próprias cidades?
                            Não sei se os franceses estão, mais uma vez, a fazer história, ou apenas a fazer manchetes para os jornais.
                            Eles próprios não se descuidam é de mostrar-nos que já estão no centro dos olhares do mundo mediático. Preparam o salto para o coração da história deste século?
                            O mostruário que encabeça esta entrada é do Courrier International.

                            terça-feira, novembro 08, 2005

                            Bloguistas Tranquilos ?...

                            Numa França(e num mundo) em turbulência?




                            É o que recomenda aos 4 milhões de bloguistas franceses, o forum dos direitos na internet.
                            A não ser que os responsáveis do forum pensem que o centro de Paris... é toda a França, a hora escolhida para a recomendação parece não ser especialmente notável pela oportunidade.
                            Contudo, foi este o título escolhido para um tema importante para os bloguistas de França. O enquadramento na lei francesa da sua actividade, que se alonga por 14 páginas em pdf.
                            Uma rápida leitura deixou-me a impressão de um formalismo jurídico excessivo e de alguns pressupostos discutiveis.Trata-se apenas de uma primeira impressão, para melhor esclarecer em oportunidade posterior.
                            Entretanto, vistos da Argentina, os bloguistas franceses não parecem nada tranquilos.

                            sexta-feira, novembro 04, 2005

                            Erros Imperdoáveis ( V )


                            Transcrevo a regra n.º 8 sobre "design para Web" e que acabou por ficar( "imperdoavelmente") ilegível na imagem acima:
                            "Se o seu site possuir algum link que não esteja pronto, não o hospede, pois deve-se evitar mensagens como "site em construção", "site em actualização", "site em desenvolvimento", entre outras, porque elas mostram desorganização e causam um impacto negativo no usuário".

                            Por contraste, todas as legendas da imagem acima são bem legíveis. Por contrastre ainda maior, assim se mantém há muitos e muitos meses!

                            quarta-feira, novembro 02, 2005

                            As Eleições Presidenciais...




                            ...E duas ou três coisas que já se sabe delas

                            Nos poucos dias ainda decorridos sobre o alinhamento dos candidatos na grelha de partida para as presidenciais, já é possível antever alguns dos traços mais fortes do clima eleitoral em que elas vão decorrer:

                            1. Cavaco não perderá uma única oportunidade para elogiar José Sócrates e o seu Governo. O exemplo mais recente de que me lembro é o caso da decisão sobre o aborto, mantendo o referendo mas adiando-o para o ano que vem.
                            É de prever que seja precisamente o contrário daquilo que ele, depois, fará, se for eleito Presidente.
                            A “cooperação estratégica” que ele oferece ao actual governo não quer dizer outra coisa.
                            O importante não é o substantivo, mas o adjectivo, que está lá, precisamente, para esvaziar o substantivo.
                            O importante para Cavaco não é a cooperação em si, mas a sua delimitação.
                            Fora do âmbito do que ele designa, vagamente, por estratégico, não é de supor qualquer obrigação ou necessidade de cooperação.

                            2. Mário Soares fará exactamente o inverso.
                            Durante a campanha respeitará o maior distanciamento possível em relação às decisões concretas do actual governo, mantendo, porém, uma imagem de consonância e concordância abstracta e genérica com Sócrates.
                            Chegado ao poder, não terá qualquer dificuldade em manter uma cumplicidade aberta com o actual poder executivo, desde que lhe seja deixada margem de manobra para iniciativas próprias nalgumas áreas, como a cultura e a representação de Portugal no exterior.
                            Ele não quer a Presidência da Republica para “fazer” política, mas para impedir que Cavaco a “faça” e para ele próprio continuar a “fazer” aquilo que, hoje, já “faz” nas suas “Fundações.”

                            3. Cavaco terá que vender uma nova imagem à esquerda e as suas ideias, (de sempre?) à direita.
                            É o duplo preço que ele tem de pagar para ser o candidato único da direita portuguesa.
                            Esta resolveu sacrificar a clarificação ideológica à oportunidade histórica única, de arrancar a Presidência da República a um candidato oriundo da esquerda. Por isso mesmo, a direita tenta alterar, desde o início, a lógica clássica das eleições a duas voltas.
                            Neste tipo de eleições, segundo a regra tradicional, na primeira volta elimina-se os candidatos que não se quer e na segunda escolhe-se aqueles que se quer.
                            Ou, mais brevemente, na primeira volta elimina-se (vota-se contra), na segunda escolhe-se (vota-se a favor).
                            A direita portuguesa não quer perder tempo e correr riscos para ter acesso ao único órgão de poder de dimensão nacional que lhe está ainda acessível.
                            E logo ela, que tem, na sua matriz cultural, a necessidade do domínio total de todas as manifestações de poder efectivo na sociedade, e, na área do poder político, os ecos do sonho “sá-carneirista” de “uma maioria, um governo e um Presidente”.

                            4. Mário Soares terá de realizar a proeza oposta à de Cavaco.
                            Vender as suas velhas ideias à esquerda e a sua nova imagem à direita.
                            Este nem sequer é um problema novo para Soares, nem para a esquerda reformista de qualquer tempo histórico recente, apenas assume alguma dificuldade acrescida nestas eleições, com a presença no terreno eleitoral de Manuel Alegre, repetindo o esquema eleitoral de 85, com Alegre em vez de Zenha, mas, em circunstâncias de tempo e modo, aparentemente mais difíceis para Mário Soares.

                            5. A direita surge nestas eleições com o mesmo pragmatismo de sempre.
                            Interessa é chegar ao poder, mesmo que seja necessário camuflar a sua ambição (in)confessada de presidencialismo puro e duro, sob o disfarce do moderado semi-presidencialismo de bom tom constitucional.
                            Mas traz uma nova obsessão. A de se ver afastada durante tempo indeterminado do exercício do poder em todos os órgãos de soberania. Os mais atentos (ou menos ignorantes) devem viver atormentados com o espectro açoriano. A redução do principal partido da oposição a um partido residual e do poder local. O único verdadeiro risco que se corre é de assistir ao espectáculo de ver a direita a acabar a defender o regionalismo contra o Governo "Central", como já vimos, nos Açores, O PSD a defender o poder municipal contra o poder regional!

                            6. A esquerda corre o risco (calculado?) da repetição, em Portugal, do “21 de Abril de 2002”, ocorrido em França.
                            Ver-se afastada da Presidência da República, logo na 1ªvolta, se não conseguir impedir a maioria absoluta de Cavaco.
                            Em todo o caso, este acontecimento, não se revestirá do dramatismo “gaulês,” porque se tratará de uma alternância normal de poder. Embora possa vir a ser um rude golpe para a imagem que a esquerda tem de si própria e do país que somos.
                            É claro que há mais coisas que se sabem destas eleições e que incluem Alegre, Jerónimo e Louçã. É conversa para mais tarde...