sábado, fevereiro 23, 2013

Gazetilha


Gazetilha

Andar na gandaia
pode não ser uma profissão,
Mas pode ser que atraia
Quem não tem mais nada à mão.

"Catadores de lixo"
Lhes chamou um administrador.
É para quem não poiso fixo
Nem ordenado de gestor.

Com coimas quer resolver
A fome de muita gente.
Tudo isto está a acontecer
Num país descontente.

Má vida ser gandaieiro
E do lixo matar a fome.
Melhor fora ser trapeiro
E ganhar o que se come.

É uma rua da amargura
Este país de Passos.
Não tem remédio, não tem cura
Nem trabalho para os seus braços.

O lixo dos contentor
É a última saída
Para quem já não é senhor
Nem sequer da própria vida.

A quem anda a comer
Dos desperdícios dos outros,
Pior sorte não pode haver.
É ser infeliz como poucos

A solidariedade falhou.
A caridade é uma palavra.
Nada mais restou
Que aquilo que não prestava.

sexta-feira, fevereiro 15, 2013

O nascer do sol


O nascer do sol

O sol que se ergue
No clarear da madrugada.
O mar que rebrilha
no fulgor do Sol.
A terra que desperta
De um sono pesado.
O mundo que acorda
Para uma vida nova.
A realidade que se enfrenta
Com redobrado vigor.
Os sonhos que se acalentam
Cheios de esperança.
O calor do coração
Que a vida aquece.
A felicidade que parece
Ao alcance da mão.
As angústias que se desfazem
Como pétalas pelo chão.
A alegria da vida
No sorriso da natureza.
O bem e o mal
Que se vêem com clareza.
Tesouros que se descobrem
Num raio de Sol.
Tudo é para todos,
E para todos reverte.

quarta-feira, fevereiro 06, 2013

Gazetilha


Vender nações em leilão
É ideia sem precedentes.
Tão barato e ali à mão
Não lhe faltaram clientes.

Façanha de um japonês
E bom uso da internet.
Não será a ultima vez
Que tal actividade diverte.

Cinquenta euros é o preço
da maior potência mundial.
Nem mais um euro ofereço
por um país tão banal.

A venda tem garantia
E tem escritura assinada.
Toda a gente confia:
É por Roosevelt firmada.

Há espertos e espertalhões
Que vendem notas falsas.
Este negoceia com nações
E não precisa de notas altas.

sábado, fevereiro 02, 2013

Mundo


Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria um rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo.
Mais vasto é meu coração.

Carlos Drummond de Andrade
Foto: Mundo  mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo  
seria um rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo.
Mais vasto é meu coração.

Carlos Drummond de Andrade