quinta-feira, agosto 31, 2006

notícias de um mundo-cão

"No mundo em desenvolvimento, uma em cada seis pessoas não tem acesso a água potável, e seis mil pessoas morrem diariamente devido a doenças causadas pelo consumo de água não tratada."

Imagens de um mundo-cão

20060508131435_41419848_boydrin300reuters[1]

Imagens (futuras)
de um mundo-homem?

20060508130635_41629970_lifestraw1203[1]

Um novo filtro bocal
que purifica a água
ao mesmo tempo
que esta é bebida

Infelizmente, parece que,
nunca,
chegará a ser um
mundo-homem
para muitos.

Razão: Custo incomportável.


Pouco mais de 1 (um) Euro, de seis em seis meses,
por utilizador individual,
é custo excessivo para os habitantes
do mundo-cão.

Resultado: O mundo-cão continua...cão.

O mundo-homem também continua...adiado.


quarta-feira, agosto 30, 2006

Alívio e Apreensão

Não difere muito da restante população do mundo, que apenas viveu por procuração mediática os dramas da guerra dos 34 dias, o sentimento geral dos bloguistas libaneses e israelitas que os experimentaram nas suas próprias vidas.
Pelo menos, a avaliar por esta amostra da BBC.
Provavelmente, por isto mesmo é que, embora quinze dias já passados sobre a sua vivência e a sua escrita, ainda se constata que não envelheceram.
Poder passear, de novo, o cão nas ruas de Beirute;
Ou entregar-se a amargas reflexões sobre os erros dos militares e políticos de Israel cometidos neste longos 34 dias da "pior das guerras";
são, entre outros, temas de ressonância universal e de perenidade garantida de que os bloguistas libaneses e israelitas da guerra vivida em directo na sua rua e no seu país ( e não apenas no falso directo dos seus écrans televisivos) se fazem eco.

terça-feira, agosto 22, 2006

Para que o Líbano Viva

Pour que le Liban vive


é um blogue da responsabilidade de libaneses não identificados, que se pretendem acima de quaisquer tendências partidárias ou religiosas, e que surgiu para acompanhar e actuar contra a guerra que devastou o Líbano durante este verão.
A sua última iniciativa foi um "die in", em Paris, para continuara a chamar a atenção da opinião pública internacional para os problemas do Líbano.
E o primeiro problema do Líbano é, desde há muito, precisamente este:
Que toda a comunidade internacional queira mesmo que ele viva. Como povo. Como Nação. Como Estado.


IMG_8118.jpg


Pour sensibiliser l’opinion publique aux problèmes qui se posent aujourd’hui au
LIBAN nous réalisons un « die-in ». Des participants couchés tels des cadavres
sont recouverts du drapeau libanais. Ils figurent la masse anonyme des morts.
Cette action a été réalisée la première fois à Berlin le 27 juillet par un
groupe d’artistes opposés à la guerre conduite par le gouvernement israélien au
Liban. Elle a été reprise le 1er août à Boston par un groupe de juif.


IMG_9287.0.jpg


Pour que le Liban vive

segunda-feira, agosto 21, 2006

As Pedras de... Fernando Pessoa

(segundo Alberto Caeiro)

Se as pedras tivessem alma, eram coisas vivas,
[não eram pedras;
E se os rios tivessem êxtases ao luar,
Os rios seriam homens doentes.


É preciso não saber o que são flores e pedras e rios
Para falar dos sentimentos deles.
Falar da alma das pedras, das flores, dos rios,
É falar de sí próprio e dos seus falsos pensamentos.
Graças a Deus que as pedras são só pedras,
E que os rios não são senão rios,
E que as flores são apenas flores.

ALBERTO CAEIRO

As Pedras de ...Cristo

(segundo Fernando Pessoa)
... ... ... ... ... ...

No céu tudo era falso,
tudo em desacordo
Com flores e árvores e pedras.

... ... .... .... ....
Colhe as flores e gosta delas e esquece-as.
Atira pedras aos burros,
Rouba a fruta dos pomares
... ... ... ... ... ... ....
A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as coisas.
Aponta-me todas as coisas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
Quando a gente as tem na mão
E olha devagar para elas.


FERNANDO PESSOA

Poemas de Alberto Caeiro

sábado, agosto 19, 2006

Pedras atiradas

OS PEQUENOS LISBOETAS 

Burgueses filhos de burgueses
Do mundo sequestrados
E do Tejo descrentes
Reformam-se no Restelo


Natos nas sete colinas
São bastardos da corte
Dizem-se filhos da urbe
Para o reino atiram pedras


Existem e mordem com raiva
Fechados no canil de si mesmos
E os que de longe chegam ao Tejo
Tropeçam neles desde quinhentos

ANTÓNIO DACOSTA

sexta-feira, agosto 18, 2006

Presidencialíssima Contradição

Será da minha velha miopia?
Não me parece.
Não salta, mesmo aos olhos mais míopes, o seguinte:
Se, nos cinco anos de debates nos Açores,
nos vários meses de debates na Assembleia da República,
em todas as posições públicas dos partidos nos Açores
e em Lisboa,
"tudo indiciava que seria possível alcançar uma solução de compromisso";
Se tudo era tão promissor,
antes
da aprovação da lei na Assembleia da República,
como é possível dizer-se,
à distância de um simples parágrafo,
e com a mesma presidencial certeza,
que,
depois,
"não fiquei minimamente persuadido de(sic) que
seria possível alcançar um consenso partidário
mais alargado"?
Será mesmo que a lógica presidencial consegue escapar
a este férreo dilema.
Ou, Antes,
tudo
era ilusão.
Ou, depois,
tudo foi capricho
partidário(?)
sem explicação?
A minha rasteira lógica
de simples mortal não o consegue.
É possível que a subtil lógica presidencial
obedeça a outras regras.
O que é certo é que foi a ela que lhe escapou a visão correcta
de tudo o que se passou antes.
Antes, tudo indiciava que não haveria o tal consenso.



Esta Pedra, porquê ?

A FÍSICA desta pedra

O nome daquela árvore

A nuvem e o mar

O que a palavra diz

A hora de nascer

Enfim o mundo e eu

Porquê?

ANTÓNIO DACOSTA

quinta-feira, agosto 17, 2006

A oposição da mentira descarada





O PSD justificou a sua oposição ao novo texto por considerar que os socialistas pretenderam "moldar a lei eleitoral à sua medida" e de quererem "perpetuar-se no poder através de manobras de secretaria".







Esta crítica do PSD-Açores à nova lei eleitoral da Região, ontem promulgada pelo Presidente da República, dá bem a medida do baixo nível em que aquele partido se manteve durante os longos cinco anos ( é verdade cinco anos! ) do debate da lei.
Um nível em que nunca conseguiu estar:


a) à altura do seu passado histórico;
b) à altura da importância do assunto para a credibilidade do sistema democrático regional;
c) à altura das exigências de carácter técnico para a sua útil discussão;
d) à altura da "esponja" benevolente com que o Presidente da República resolveu "limpar" esta vergonhosa página da atribulada história recente do PSD-Açores.


Todas estas ( e outras) circunstâncias, que acompanharam a promulgação da lei reclamam mais alongadas considerações, mas que deixo para próxima oportunidade.

És Também Pedra

«TU ÉS A TERRA »


Tu és a terra em que pouso.
Macia, suave, terna, e dura o quanto baste
a que teus braços como tuas pernas
tenham de amor a força que me abraça.

És também pedra qual a terra às vezes

contra que nas arestas me lacero e firo,
mas de musgo coberta refrescando
as próprias chagas de existir contigo.

E sombra de árvores, e flores e frutos,
rendidos a meu gesto e meu sabor.
E uma água cristalina e murmurante
que me segreda só de amor no mundo.

És a terra em que pouso. Não paisagem,
não Madre Terra nem raptada ninfa
de bosques e montanhas. Terra humana
em que me pouso inteiro e para sempre.

Londres, 15-3-1973

JORGE DE SENA

quarta-feira, agosto 16, 2006

Pedra-não-Pedra

A NAVE DE ALCOBAÇA

Vazia, vertical, de pedra branca e fria,
longa de luz e linhas, do silêncio
a arcada sucessiva, madrugada
mortal da eternidade, vácuo puro
do espaço preenchido, pontiaguda
como se transparência cristalina
dos céus harmónicos, espessa, côncava
de rectas concreção, ar retirado
ao tremor último da carne viva,
pedra não-pedra que em pilar's se amarra
em feixes de brancura, geometria
do espírito provável, proporção
da essência tripartida, ideograma
da muda imensidão que se contrai
na perspectiva humana. Ambulatório
da expectação tranquila.
Nave e cetro,
e sepulcral resíduo, tempestade
suspensa e transferida. Rosa e tempo.
Escada horizontal. Cilindro curvo.
Exemplo e manifesto. Paz e forma
do abstracto e do concreto.
Hierarquia
de uma outra vida sobre a terra. Gesto
de pedra branca e fria
, sem limites
por dentro dos limites. Esperança
vazia e vertical. Humanidade.

Araraquara, 27-11-1962

JORGE DE SENA

30 anos de tragédias no Líbano

terça-feira, agosto 15, 2006

As Guerras são todas Iguais

Porque ontem mesmo acabou mais uma guerra,
Igual e Desigual
a todas as outras guerras
deste mundo,
apetece-me começar este dia 15 de Agosto,
exactamente,
como devia ter acabado o dia de ontem,
14 de Agosto.
Com este poema de Carlos Drummond de Andrade.
Igual e Desigual,
a todos os outros
grandes poemas
de Carlos Drummond de Andrade.



IGUAL-DESIGUAL


Eu desconfiava:
todas as histórias em quadrinho são iguais.
Todos os filmes norte-americanos são iguais.
Todos os filmes de todos os países são iguais.
Todos os best-sellers são iguais.
Todos os campeonatos nacionais e internacionais de
futebol são
iguais.
Todos os partidos políticos
são iguais.
Todas as mulheres que andam na moda
são iguais.
Todas as experiências de sexo
são iguais.
Todos os sonetos, gazéis, virelais, sextinas e
rondós são iguais
e todos, todos
os poemas em verso livre são enfadonhamente iguais.



Todas as guerras do mundo são iguais.


Todas as fomes são iguais.
Todos os amores, iguais iguais iguais.
Iguais todos os rompimentos.
A morte é igualíssima.
Todas as criações da natureza são iguais.
Todas as acções, cruéis, piedosas ou indiferentes são
iguais.
Contudo, o homem não é igual a nenhum outro
homem, bicho ou coisa.
Ninguém é igual a ninguém.
Todo o ser humano é um estranho
ímpar.


Carlos Drummond de Andrade





domingo, agosto 13, 2006

Sem uma pedra

nervura na folha
do degredo


mar de verdes dunas


sem uma pedra


as vozes
amanhecem

JOSÉ MANUEL MENDES

O Homem, A Guerra e o Horror (III)



"Como o menino na cozinha com os criados,
o rapaz do campo no gabinete dos horrores,
os jovens voluntários, nas camaratas, apertavam-se agachados à roda dos mais antigos,

para ouvirem estremecer na sua voz os terrores do campo de batalha.

Mesmo que os rostos empalidecessem e que os olhos se sulcassem de olheiras, seria difícil encontrar um que fosse,
que não se consumisse ainda mais com a espera do dia da partida.

Todos ansiavam por olhar a "Górgona" bem de frente

mesmo se, perante tal visão, o coração devesse deixar de bater".

O Porquê das Pedras

A CIDADE


os passos
trazem na boca
o porquê das pedras


um hálito rompe o silêncio
é uma palavra que cresta
sobre a memória parada


quantos são hoje?


na cidade morta
um velho lembra uma data
qualquer
pára um momento
alongando a sombra


JOSÉ MANUEL MENDES

sexta-feira, agosto 11, 2006

O Homem, A Guerra e o Horror (II)



O HORROR

"O horror é também parente próximo da embriaguez do sangue e do prazer do jogo.

Não passámos nós, crianças, longas noites de Inverno a ouvir histórias angustiantes?
Todas as nossas fibras vibravam, dava vontade de nos encolhermos numa gruta resguardada, mas pedia-se sempre mais(…)

Nos lugares onde o povo vai à procura de uma vida mais intensa em qualquer campo de feira, em qualquer concurso de tiro, o horror exibe-se nas telas pintadas, nas cores berrantes feitas para atrair clientes.
Crimes sádicos, execuções capitais, manequins de cera cobertos de tumores purulentos, um nunca mais acabar de monstruosidades anatómicas:

Quem as exibe conhece as massas e enche as algibeiras.

Demorei-me muitas vezes, diante de tais barracas, a fixar as caras que de lá saíam.
Havia nelas quase sempre risos, mas que tinham um som estranho, embaraçado, sufocado.
Que pretendiam, então, esconder esses risos?
E porque é que eu me encontrava ali?

Não seria, afinal o prazer que o horror me causava?

Ninguém pode dizer que é estranho aos prazeres das crianças e do povo.

Cais, Esperança de Pedra

Aquele cais ali, agudo e nu,
Que o mar percute e coroa de asas,
Sabes? pareces-me tu,
Adiada - e, ao fundo, casas.


Tu, não mulher salva ou perdida,
Nem tu, esperança de pedra,
Mas terra da minha vida
Onde o mar alto medra.


O cais vazio!
O que eu deixei no cais, despachado e chorando:
Meu vulto de menino frio
Que mal aquece um «até quando?»


A linha gris, rasa e arredada
Em minhas lágrimas tão nuas,
E minha ausência procurada
(Um pouco tarde) pelas tuas.


Assim um «teu» num «meu» insiste.
Que mãe anónima adianta
Cabelo longo e riso triste
À filha feita de tanta
Coisa que não existe?

Ao cais que eu penso
Não chega vela, nem jamais
Asa ou ponta de lenço
Ensina porto ou saudade
— Que é pura pedra sem idade,
Dentro de mim, o cais.

VITORINO NEMÉSIO

quinta-feira, agosto 10, 2006

O Homem, A Guerra e o Horror (I)


O Horror


"O horror faz parte, também ele, do círculo das emoções há muito enterradas no mais profundo de nós mesmos, para ressurgirem com uma força elementar(…)
Para o homem primitivo, era o constante e invisível companheiro das suas correrias pelas imensidades das estepes vazias.
Surgia na noite, no trovão e no raio, para, com uma força de estrangulador, o fazer ajoelhar, a ele, nosso antepassado, com o seu pobre sílex em punho, exposto a todos os poderes da terra.

Era, porém, este segundo de suprema fraqueza que o elevava acima do animal.

Pois se é certo que o animal pode sentir medo, quando um perigo o ameaça de surpresa,
e a angústia se é perseguido e encurralado.
Já o horror, porém, lhe é estranho.

É o primeiro relâmpago no céu da razão".

A Pedra da Noite

Quem não tem casa sua
Faça da noite pedra
Ou talhe o seu coração,
Que já não dorme na rua.


VITORINO NEMÉSIO

quarta-feira, agosto 09, 2006

A Pedra Rasa

Nesta cova


Nesta cova onde se vaza
Minha estória até ao fim,
Uma simples pedra rasa
Tanto basta para mim.



O peso já não me assusta,
Já me não inspira medo;
Depois de morto não custa
Uma areia ou um penedo.

Aqui nesta cova jaz
O filho dum português;
O nome ficou atrás,
O corpo foi-se de vez.

Aqui nesta cova jaz
Um velho l(usa)landês
Nesta mesma se desfaz
Quanto foi e quanto fez.

João Teixeira de Medeiros

terça-feira, agosto 08, 2006

A Pedra é Frágil

FRAGILIDADE



Teu nome nas águas
tão fundas, tão grandes

perde-se na espuma,
castelo de instantes.

No aço azul da noite
teu firme retrato

acorda entre nuvens
já desbaratado.

A sorte da pedra
é tornar-se areia.

Mas quem não soluça
pensando em teu rosto

reduzido a poeira...


Cecília Meireles

segunda-feira, agosto 07, 2006

Nas Pedras

CANÇÃO DO DESERTO
A Enrique Peña



Minha ternura nas pedras
vegeta.

Caravanas de formigas
tomam sempre outro caminho.
E a areia - cega.

Noite e dia, noite e dia
- como se estivesse à espera.

O sol consome as cigarras,
a lua pelas escadas
se quebra.

Minha ternura? - Nas pedras.

Para o último céu perdido,
meu desejo sem auxílio
se eleva.

Mas os passos deste mundo
pisam tudo, tudo, tudo...
Morte certa.


Morte por todos os passos...
(Só com a sola dos sapatos
os homens tocam a terra!)


Minha ternura? - nas pedras.
Nas pedras.


Cecília Meireles

O planeta mascarado

O velho Júpiter da mitologia greco-romana, sempre teve o gosto e o capricho do disfarce e da máscara.
O Júpiter do nosso sistema solar também.
Estas cores de esplendor e fascínio são falsas.
Esta beleza tranquila esconde tempestades seculares.
Este link vai-lhe dar a oportunidade de espreitar por detrás da máscara.



redspot1[1]

domingo, agosto 06, 2006

Gesto de Pedra

EXCESSIVAMENTE PESSOAL

De pedra sem um gesto
escolho o silêncio voluntário

De pedra sem um gesto
escolho este frio
como um rio de fogo branco
imerso na paisagem do amor enxovalhado

De pedra sem um gesto
oiço agora o que só ouve quem
também de pedra e sem um gesto pode ouvir o que não ouve
quem agitado e alegre nesta hora nada sabe de lá e para lá

porque só deste tempo
neste odioso tempo
agitado e alegre morto jaz


Mário Dionísio

sábado, agosto 05, 2006

Coração de Pedra

CORAÇÃO DE PEDRA



Oh, quanto me pesa
este coração, que é de pedra!
Este coração que era de asas
de música e tempo de lágrimas.



Mas agora é sílex e quebra
qualquer dura ponta de seta.


Oh, como não me alegra
ter este coração de pedra!



Dizei por que assim me fizestes,
vós todos a quem amaria,
mas não amarei, pois sois estes
que assim me deixastes, amarga,
sem asas, sem música e lágrimas,



assombrada, triste e severa
e com meu coração de pedra!



Oh, quanto me pesa
ver meu próprio amor que se quebra!
O amor que era mais forte e voava
mais que qualquer seta!


Cecília Meireles


sexta-feira, agosto 04, 2006

A Alma das Pedras

As Pedras tocam-me


As pedras tocam-me a alma
Todas as pedras E não pecam
Não imploram absolvição
Para elas todas as sextas-feiras
são santas
Não necessitam de carne ou pão.



Gerês, 14 de Abril de 1995


(Sexta-feira Santa)


Ivo Machado





quinta-feira, agosto 03, 2006

Uma Pedra e Pronto


PEDRA-POEMA PARA HENRY MOORE


Um homem pode amar uma pedra
uma pedra amada por um homem não é uma pedra
mas uma pedra amada por um homem


O amor não pode modificar uma pedra
uma pedra é um objecto duro e inanimado
uma pedra é uma pedra e pronto


Um homem pode amar o espaço sagrado que vai de um homem a uma pedra
uma pedra onde comece qualquer coisa ou acabe
onde pouse a cabeça por uma noite
ou sobre a qual edifique uma escada para o alto


Uma pedra é uma pedra
(não pode o amor modificá-la nem o ódio)


Mas se a um homem lhe der para amar uma pedra
não seja uma pedra e mais nada
mas uma pedra amada por um homem


Ame o homem a pedra
e pronto


Emanuel Félix



quarta-feira, agosto 02, 2006

No Meio do Caminho

No meio do caminho


No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.


Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.



Carlos Drummond de Andrade

terça-feira, agosto 01, 2006

A mesma pedra no mesmo caminho

captura1snagit Image-0018

Tropeçar em vários "Canás"(Caná, Qana, Canaã),com diferentes grafias, pronúncias e localizações geográficas, é fácil, e até inevitável, desde Domingo passado, para qualquer jornalista ou leitor de jornais.

Image-0019
Uma consulta de qualquer textocomo este, ou este sobre o assunto, revelará a razão destas possíveis confusões.


Tropeçar por duas vezes na mesma Caná, com dez anos de intervalo, e exactamente para o mesmo trágico efeito bélico de massacre e destruição é que já se torna de mais difícil compreensão e explicação.
Ainda é mais dramática a repetição do erro, quando, já em 1996, a respeito do Hezbollah e do "efeito" Caná, se dizia que Israel "nada havia compreendido".
E em 2006, em que voltou a repetir o erro, vai reincidir nacaptura1snagit incompreensão?

Image-0020

A repercussão destes erros nos propósitos e objectivos de Israel pode entender-se facilmente em face destes exemplos das reacções da opinião pública internacional.

Image-0021