domingo, setembro 25, 2005

Europa, Rapto ou Eclipse?



Na mitologia grega, a descuidada Europa, jovem e filha de rei, foi cobiçada por Zeus.
Na recente história europeia dos últimos 50 anos, a jovem Europa era igualmente princesa requestada por todos os pequenos "zeus" da Europa que, às portas de Bruxelas, esmolavam o favor de complacente acesso.
Ainda não há muito tempo, há menos de um ano talvez, a Europa parecia continuar a manter o ímpeto do touro que a raptara e cada mergulho no mar de problemas e desafios que a rodeavam parecia um novo avanço e salto para o futuro.
De repente, tudo parece ter estagnado ou ficado em suspenso.
Quem, hoje, ainda se lembra dos laboriosos e convincentes cálculos sobre os custos da "não- Europa"?
Hoje, todos, povos e políticos, parecem paralisados pelo temor oposto: " Que fardo pesado, este da Europa, que temos que arrastar"!!!
Quem nos livrará desta Europa, a nós franceses, a nós alemães, a nós britânicos, a nós... país-que- é-pequeno e que esperava, com a Europa, vir-a- ser-país- grande; e a nós país-que-já-era- grande, mas que, no quadro da Europa ambicionava sentir-se-ainda-país-maior?
E todos parecem vergados ao peso da fatalidade de terem de "ser- Europa" por capricho de um Zeus, com cios de touro desbragado.
E todos parecem carpir, em tom lamecha de má comédia popularucha: "Por Zeus taurino, Ah! por que custa tanto ser Europa?
Que os franceses paguem este custo! - dizem os ingleses.
Devolvam vocês o cheque !- dizem os franceses.
Deixem-nos fazer as nossas próprias reformas, que já pagámos mais do que deviamos, barafustam os germânicos!
E, neste clima de regateio e mútua recriminação, cada nova oportunidade transforma-se numa nova crise. Cada novo passo transforma-se num impasse. Cada hora parece ganhar um novo eurocéptico. Parecem ser os eurocépticos britânicos que todos os dias desembarcam em Bruxelas, e não os eurooptimistas de Bruxelas que conseguem apanhar o túnel da Mancha para Londres.
A crise económica junta-se à crise constitucional.
À crise orçamental, a crise monetária.
À crise institucional, a crise de legitimidade.
À crise turca, a crise francesa e a crise alemã.
À crise de liderança europeia, a crise das lideranças nacionais.
À europa-fortaleza, que tinha de lutar contra a tentação de se fechar nas suas marulhas, surda aos apelos daqueles que aspiravam a ultrapassá-las, parece ter sucedido o complexo dos sitiados dentro delas.
Neste clima, nem sequer admira que os próprios políticos pareçam ter perdido a capacidade de apontar para novos horizontes ou caminhos. Antes dão a ideia de totalmente perdidos nos pequenos cálculos de conjuntura.
Só para exemplo, leiam-se estas declarações de Wolfgang Gerardt, que era líder parlamentar do FPD, (Partido Liberal) e apontado como possível chefe da diplomacia alemão, num governo de direita:
"Na nossa opinião é necessário dar uma nova oportunidade à Constituição (Europeia), mas numa versão menos volumosa que a precedente, que as populações não podiam compreender. Tavez no próximo ano, as oportunidades de adopção do texto sejam superiores, no caso de baixa da taxa de desemprego na Europa continental, daqui até lá. Em qualquer caso, temos necessidade deste tratado".
Não acredito que, com este modelo de políticos, que parecem totalmente prisioneiros da conjuntura e que tratam uma Constituição pelos critérios mercantis de um qualquer "best-seler", surja um "Zeus" que se dê ao incómodo de disfarçar de touro para conquistar e impulsionar esta Europa, em menopausa precoce.
Em vez de um touro, tem o"cherne" que merece!

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