terça-feira, setembro 05, 2006

O nosso patriotismo só pode ser uma imensa compaixão




Neste dia 5 de Setembro de 2006, depois de alguns dos acontecimentos do dia de ontem (comemoração "solene" dos 30 anos da Assembleia Regional, por exemplo) e do programa "Prós e Contras" da noite televisiva, também de ontem , sobre o infindável e inimaginável embróglio-novelo-novela "Caso Mateus", tenho de reconhecer que não sei se me apetece escrever alguma coisa sobre tudo isto, ou, sequer, se me apetece o esforço de escolher alguma coisa sobre o que escrever, depois de tudo isto e a respeito de tudo isto.
O que, de imediato, me ocorreu, foram estas palavras de Millan Kundera sobre a sua República checa.
No seu romance, "A Ignorância", faz ele a distinção entre dois tipos de patriotismo.
O patriotismo dos grandes povos, como os alemães e os russos.
Um patriotismo que se alimenta da exaltação da sua glória, da sua importância, da sua missão universal.
E a outra variante de patriotismo, própria dos checos.

"Os checos amavam a sua pátria não por ela ser gloriosa, mas por ser desconhecida.
Não por ser grande, mas por ser pequena e estar incessantemente em perigo.
O seu patriotismo era uma imensa compaixão pelo seu país."

O que pode ser o nosso patriotismo, além de uma imensa compaixão pelo nosso país, na noite, em que ouvimos, claramente lido, um ofício arrogante da arrogante FIFA, a ditar-nos ultimatos sobre quando e como resolvermos questões que dizem respeito exclusivamente à nossa organização e actuação interna como entidade soberana com estruturas e regras próprias?

O que pode ser o nosso "patriotismo regional", ou, se preferirmos mais rigor, o nosso açorianismo autonomista, senão uma imensa compaixão, quando nos apercebemos, pelas imagens e pelos relatos, que a comemoração dos 30 anos da nossa Assembleia Regional e Autonomia, ainda foi mais pobre, mais amorfa, mais "insulada", mais vazia de tom e som, de reflexão sobre o passado ou de prospectiva sobre o futuro, de consciência da força da herança ou voluntarismo da ambição de futuro, do que já haviam sido, também sob a égide da Assembleia, as comemorações dos 25 anos da Autonomia?.
De uma e outra comemoração restam duas moedas comemorativas.
Em ambas, procurando transmitir-se uma imagem que as comemorações não souberam (ou não puderam) traduzir: asas rasgando o futuro.
Só se espera que as moedas tenham razão, contra as comemorações que assinalam.

Sem comentários: