O primeiro primeiro de Maio. Em 1974.Encontrava-me em Lisboa nesta data. Vivi a emoção da liberdade reconquistada. Senti-me mais um na multidão que transporta bandeiras, que entoa slogans. O povo unido jamais será vencido. O povo que reencontra a sua unidade primordial. O povo que esquece e apaga todas as diferenças. O povo que procura e celebra uma nova idade que começa. São 500.00? Não sei. Ao que parece é para cima de um milhão que se estende pela cidade, rumo à Alameda Afonso Henriques e vai desaguar num Estádio que, nesse mesmo dia, foi baptizado de 1º de Maio. Um misterioso sentimento de unidade liga todas as pessoas. Há reivindicações concretas. O fim da guerra colonial. O fim da censura. O direito à greve. Mas o que conta acima de tudo é esta liberdade nova que une, que festeja, que celebra. E há flores, muitas flores. E há cravos, muitos cravos que são atirados aos soldados que enquadram a multidão. Vive-se um espírito de euforia, em que tudo parece possível e fácil. Esbatem-se e anulam-se todas as divergências. Desfazem-se todos os preconceitos. Esboroam-se todas as distâncias e divisões.O primeiro primeiro de Maio foi o primeiro dia do trabalhador celebrado em liberdade, em Portugal. Mas “trabalhadores” eram todos os que vinham comungar na festa e banhar-se na multidão. Por isso mesmo, foi o primeiro. Mas mais que primeiro, foi único..
Quarto Crescente em estreia e felicidade
Há 13 horas