quarta-feira, dezembro 05, 2012

Ouvi a entrevista de António Borges ao programa “Última Hora,” ontem, na RTP. Acho que se pode apontar ao entrevistado, pelo menos, uma cega convicção ideológica sobre o papel da iniciativa privada. O Estado é mau gestor e mais permeável a interesses e desvios político- partidários. Daí a conclusão de que a gestão da RTP deve ser da responsabilidade privada e não pública. Ao mesmo tempo queixa-se das dificuldades de fazer ouvir a sua voz na comunicação social, quando exerceu funções de carácter partidário. Mas, então, essa comunicação social não estava, senão exclusivamente pelo menos maioritariamente, em mãos privadas? Além disso, não parece mostrar muita  segurança nessa superioridade da gestão privada porque admite que, se ela não corresponder às exigências do serviço público, possa ser retomada pelo Estado.
Outro aspecto que ressalta da entrevista é a visão quase idílica que o entrevistado dá dos progressos conseguidos por este Governo no que ele chama “ajustamento da economia” pondo-a funcionar nos limites das nossas possibilidades financeiras. Ajustamento que  foi conseguido com rapidez e eficácia. Chama a esse ajustamento “poupança”. Esquece que essa “poupança” para a maioria dos portugueses, não foi conseguida por qualquer aforro de recursos, mas pela degradação acelerada das suas condições de vida.
 Em qualquer caso, diz ele, uma vez conseguido este ajustamento, não será necessário voltar, de novo, “a sacrifícios adicionais e a apertar o cinto”. Como foi necessário em 2011 e 2012. Ele admite que falta agora fazer o relançamento da economia, o que só poderá ser obtido com o regresso pleno aos mercados. Há aqui um pressuposto errado. Que os sacrifícios se limitaram a 2011 e 2012. E então, o quadro negro que o Governo prepara para 2013 com a brutal subida de impostos prevista no Orçamento do Estado? E, ainda, os 4 mil milhões de euros que o Governo pretende ir arrecadar à custa das funções sociais do Estado.
Tudo isto mostra que nem o ajustamento da economia está efectivado, nem a hora do termo dos “apertos de cinto” soou ainda.
Em toda a entrevista ressalta um pressuposto. Os problemas da sociedade portuguesa resumem-se à economia e resolvem-se ao nível económico-financeiro. Esquece-se que a  economia existe para resolver os problemas das pessoas. A ausência das pessoas como objectivo último e principal das medidas económicas é a principal e fundamental lacuna deste discurso.

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