terça-feira, julho 03, 2007

A despropósito das Eleições em Lisboa (I)



E mostrava os altos da cidade, os velhos outeiros da Graça e da Penha, com o seu casario escorregando pelas en­costas ressequidas e tisnadas do sol.
No cimo assentavam pesadamente os conventos, as igrejas, as atarracadas viven­das eclesiásticas, lembrando o frade pingue e pachorrento, beatas de mantilha! tardes de procissão, irmandades de opa atulhando os adros, erva-doce juncando as ruas, tremoço e fava-rica apregoada às esquinas, e foguetes no ar em louvor de Jesus.
Mais alto ainda, recortando no radiante azul a miséria da sua muralha, era o Castelo, sórdido e tarimbeiro, donde outrora, ao som do hino tocado em fagotes, descia a tropa de calça branca a fazer a bernarda!
E abrigados por ele, no es­curo bairro de S. Vicente e da Sé, os palacetes decrépitos, com vistas saudosas para a barra, enormes brasões nas paredes rachadas, onde, entre a maledicência, a devoção e a bisca, arrasta os seus derradeiros dias, caquética e caturra, a velha Lisboa fidalga!

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