A entrevista do Primeiro Ministro
Valerá a pena esboçar algum comentário à entrevista de ontem do Primeiro Ministro? À primeira vista, parece que não. O que é que perdeu quem não assistiu à entrevista? Também, à primeira vista, nada. Nada de substancial, pelo menos. Nada qu
e não seja o rumo inflexível e desastroso a que este Governo já nos habituou. Cortes e mais cortes. Cortes desmedidos em tudo aquilo que seja despesa socialmente útil do Estado. Num ano nos salários, nas pensões, nas prestações sociais. No próximo ano, nas despesas de saúde e educação. Num ano sob o eufemismo de aumento das receitas. No outro o ano, sob o eufemismo de cortes nas despesas. Sempre o mesmo objectivo, sempre a mesma obsessão pelo cumprimento rigoroso dos prazos e das metas da Troika. Troika que, afinal, não é tão intransigente como a pintam. O exemplo comprovativo é o défice orçamental para o ano em curso que ela condescendeu em passar para 5%. No fundo, deu mais tempo para o cumprimento desse objectivo concreto. Mas, mais tempo é coisa que Passos Coelho, em teoria, recusa terminantemente. Nem sequer se mostra especialmente interessado, em aplicar a Portugal, as recentes decisões do Eurogrupo para o caso da Grécia. O seu raciocínio é frio e elementar com o de qualquer contabilista . Onde é maior a despesa, aí é que se tem de reformar o Estado. Seja qual for a natureza dessa despesa. É a completa insensibilidade para as consequências sociais dessas medidas. Uma simples nota de humanidade introduziu, quase imperceptivelmente, no seu discurso. A referência sumária ao ajustamento “com dor.” Para quem esperava de um primeiro ministro a capacidade para formular objectivos de esperança e de mudança para o futuro, foi a desilusão completa. A única certeza que se retira da entrevista, é que 2014 não será melhor, se é que não será pior, do que aquilo a que já nos condena o OE 2013.
É pouco, muito pouco, para quem, como um Primeiro Ministro, tem responsabilidades não só para com o presente imediato dos portugueses, mas também para com o seu futuro, mesmo que longínquo.
É pouco, muito pouco, para quem, como um Primeiro Ministro, tem responsabilidades não só para com o presente imediato dos portugueses, mas também para com o seu futuro, mesmo que longínquo.
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