terça-feira, agosto 15, 2006

As Guerras são todas Iguais

Porque ontem mesmo acabou mais uma guerra,
Igual e Desigual
a todas as outras guerras
deste mundo,
apetece-me começar este dia 15 de Agosto,
exactamente,
como devia ter acabado o dia de ontem,
14 de Agosto.
Com este poema de Carlos Drummond de Andrade.
Igual e Desigual,
a todos os outros
grandes poemas
de Carlos Drummond de Andrade.



IGUAL-DESIGUAL


Eu desconfiava:
todas as histórias em quadrinho são iguais.
Todos os filmes norte-americanos são iguais.
Todos os filmes de todos os países são iguais.
Todos os best-sellers são iguais.
Todos os campeonatos nacionais e internacionais de
futebol são
iguais.
Todos os partidos políticos
são iguais.
Todas as mulheres que andam na moda
são iguais.
Todas as experiências de sexo
são iguais.
Todos os sonetos, gazéis, virelais, sextinas e
rondós são iguais
e todos, todos
os poemas em verso livre são enfadonhamente iguais.



Todas as guerras do mundo são iguais.


Todas as fomes são iguais.
Todos os amores, iguais iguais iguais.
Iguais todos os rompimentos.
A morte é igualíssima.
Todas as criações da natureza são iguais.
Todas as acções, cruéis, piedosas ou indiferentes são
iguais.
Contudo, o homem não é igual a nenhum outro
homem, bicho ou coisa.
Ninguém é igual a ninguém.
Todo o ser humano é um estranho
ímpar.


Carlos Drummond de Andrade





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