quarta-feira, junho 04, 2008

CORO DAS MÃES (III)

Mas Tu, Senhor, cancela os seus pecados com o contributo das nossas
lágrimas .
Nós oferecemos dores em compensação dos seus delitos, pranto em troca
de sangue.
Não feches o coração, Cristo, às nossas vozes de intercessão.
Tu, também, quiseste que as dolentes e as adorantes fossem tuas
companheiras no grande sacrifício do resgate.
Todos os nossos filhos, pela tua vontade, ressuscitaram.
Todos estão aqui, agora, junto de nós,
os perdidos e os sobrevivos, os imundos e os puros, os homicidas e os
suicidas,
todos, toda a exterminada prole do nosso amor e da nossa dor
e apenas a nossa prole, inteira, resta do velho Universo.
Tudo o que o homem modelou e construiu está, agora, consumido e
dissolvido,
as estátuas mais belas das nossas próprias obras são esquecida e
destruída poeira,
os edifícios mais orgulhosos e majestosos, as máquinas mais titânicas, as pinturas mais divinas não são agora mais do que cinza reduzida a nada nos abismos.
Mas perduraram, únicas, as nossas obras, os corpos dos homens
cons­truídos e coloridos nas nossas entranhas,
perduraram, apenas, após o fim de tudo, as figuras saídas do nosso útero.
E deste final triunfo de todas as mães, damos graças a Ti, filho de
Virgem, filho de Mãe, filho de homem e filho de Deus,
e porque amaste o nosso sofrer e agora quiseste o nosso desforço
pedimos-Te uma última graça, um último triunfo, a plenitude da Tua
piedade
não para nós, Cristo, mas para aqueles que brotaram, gritando, da
nossa carne lacerada.

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