quinta-feira, julho 07, 2005

# 3 Os "Oásis" de Roberto




"O «objecto dessa saudade», a imagem dos pais, já não fazia parte disso.

Penso num tipo de lembrança muito particular de uma pessoa amada, lembrança plástica, não apenas derivada da memória, mas física, que fala a todos os sentidos e que todos os sentidos guardam, de tal modo que não somos capazes de fazer nada sem sentir o outro ao nosso lado, silencioso e invisível.

Este tipo de lembrança esvaiu-se depressa, como uma ressonância que só ficara a vibrar durante um instante.

Nessa altura, por exemplo, de tanto dizer, quase sempre para consigo, «queridos, queridos pais», Torless não conseguia evocar a sua imagem.

Quando tentava fazê-lo o que aparecia em seu lugar era a dor sem limites cuja nostalgia o disciplinava e acabava também por o prender, porque as suas chamas ardentes eram, ao mesmo tempo, causa de dor e de fascínio.

A recordação dos pais tornou-se-lhe cada vez mais uma causa meramente circunstancial que gerava nele aquele sofrimento egoísta que o envolvia no seu orgulho voluptuoso como na solidão de uma capela na qual cem velas acesas e cem olhos de imagens de santos espalhassem incenso por entre as dores dos que a si mesmo se flagelavam".

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