Pode parecer despropositado continuar agarrado a esta heróica expressão de Galileu, quando ninguém põe em dúvida que o “mundo se continue a mover”.
É verdade.
Mas só em parte.
Para já não falar, nas mil e uma variantes das concepções do “fim da história” ou do “eterno retorno”, que continuam a marcar muitas das ideias correntes sobre a marcha da humanidade, dos povos e dos indivíduos;
mesmo omitindo tudo isto, a verdade é que a conjuntura mundial parece ter sofrido uma rápida aceleração nos finais do mês de Março.
Sem cair num simplismo abusivo, os sinais de mudança parecem ter-se acelerado com o aproximar da primavera.
Exemplos.
Poucos e por grandes panorâmicas. Em voo de Açor.
A América de Sul parece preparar-se para opções decisivas, entre o primário populismo e o caudilhismo puro e duro, e novas experiências de soluções originais pela esquerda do espectro político.
Entre a luta para sair totalmente da sombra do gigante norte-americano (Venezuela) ou equilibrar melhor a sua inevitável relação com ele (Brasil) e a busca de soluções próprias (Chile, Bolívia,) procura-se um novo impulso transformador e reformador para os velhos problemas destes “sulistas” a dobrar (na América do sul residentes, e da Europa do sul, descendentes).
E, talvez, por isso, como eles próprios dizem: Tão longe dos deuses e tão perto dos…Estados Unidos!
George Watts O Minotauro
O curioso também é que, talvez pela primeira vez, além de procurarem soluções novas nos seus próprios países de origem, levam esta mesma vontade política para dentro dos próprios Estados Unidos.
Como se verificou na posição activa que assumiram no debate das recentes decisões norte americanas, sobre a emigração nos Estados Unidos.
No foco de todos os problemas do mundo ocidental – Israel e a Palestina- algo também parece ter mudado. As soluções de força e de predominante cariz militar, aparecem temperadas pela consciência clara da necessidade de soluções políticas, que combinem um grande consenso interno em Israel e políticas de mão estendida, com mais ou menos abertura, para com o povo palestiniano. Este, por seu lado, parece estar cansado de “intifadas”. Talvez por isso, tenha votado no Hamas, para o retirar da rua e trazer para a responsabilidade dos gabinetes ministeriais.
Nos Estados Unidos, não é muito seguro avançar com prognósticos sobre o que está a acontecer ou para acontecer, sobretudo, porque as alternativas de pessoas e de ideias não parecem muito claras do lado da oposição Democrata.
Uma coisa parece certa, porém.
A hora histórica do neo-conservadorismo triunfante, com a sua mistura de angelismo democrático e fundamentalismo religioso, que, entre outras coisas, levou à lamentável aventura do Iraque, parece estar em clara perda de influência e expansão.
E o trauma do 11 de Setembro a caminho da sua superação. O que, a ter êxito, levará a reajustamentos de posições políticas. Na opinião pública, que, nos Estados Unidos, tem mesmo muita força. E nos próprios partidos políticos americanos.
Paulo Veronese O Rapto de Europa
Na Europa, vivemos um momento de regressão.
No sentido de colocar os grandes problemas europeus entre parêntese, e regressar à predominância e preocupação com os problemas de cada país.
A Grã-Bretanha, com a sua histórica atitude distanciada de quem só “suja” as mãos na Europa, quando não consegue continuar a manter a sua auto-suficiência insular.
As duas locomotivas da política europeia, a Alemanha e a França, continuando à procura de saída para os seus problemas internos.
Por vias diferentes.
A Alemanha com a sua atitude histórica costumeira. Só por muito pouco não(?)“sacralizando” quem está no poder e concedendo-lhe carta branca para a procura de saídas para as crises.
A França, fazendo precisamente o oposto.
Contestando, na rua, a capacidade do poder que escolheu para a governar, para introduzir a menor das alterações na situação instalada, mesmo que esta esteja manifestamente desfasada em relação às aceleradas mutações sociais.
E, então, entre nós?
Entre nós portugueses.
E entre nós, açorianos.
Não se passa nada?
Estamos a viver um parêntese histórico?
Em pleno “olho do ciclone”.Onde nada acontece, quando tudo parece rodopiar à nossa volta.
Não. Parece que não.
Há notícias que “Epur si muove”.
Será o tema de próxima entrada.
Até porque esta já nem parece uma entrada.
Já é mais um “corredor”.
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