O que quero sublinhar é que, por via dos interesses das superpotências e da relação de forças na sociedade e na instituição militar portuguesas, em 1975, o País evitou uma guerra civil e repôs os ideais de Abril. Parece, assim, de todo estranho e injusto que, hoje, quando se contam 30 anos sobre a vitória das forças democráticas no 25 de Novembro, a data seja tratada como se fosse maldita, todos a evitando em nome de cumplicidades posteriores, de interesses partidários ou eventos eleitorais de calendário. Tenho ainda a esperança de que o Presidente Sampaio, tão preocupado em deixar uma marca da sua presidência, preste à data e ao seu significado a merecida homenagem. Isto é, fale da história da democracia.
josé manuel barroso
DN Online: 25 de Novembro, a data que ninguém quer.Este título, válido há dois anos, quando se perfaziam 30 anos sobre o 25 de Novembro, continua, se possível, ainda mais válido, dois anos depois.
E Sampaio, como Presidente da República de então, também nunca chegou a fazer a reclamada homenagem à data.
Talvez algo de semelhante se consiga daqui por três anos, quando os 35 anos sobre os acontecimentos obrigarem a lembrá-los de novo.
Por mim, desejo apenas aproveitar a oportunidade para recordar uma figura da nossa história democrática recente e que teve um papel decisivo no 25 de Novembro de 1975.
E que, de forma nenhuma, enjeitava a data. Muito ao contrário. Sempre se reclamou da sua assunção e clarificação integral.
Refiro-me ao Coronel Melo Antunes que, nesta, como noutras datas históricas posteriores ao 25 de Abril, interveio na campo da acção concreta e, igualmente, no aspecto teórico, para encaminhar e esclarecer os acontecimentos no seu pleno e total significado.
Dois extractos apenas do muito que, sobre o tema, diz na Entrevista a M.M.Cruzeiro, publicada no "Círculo de Leitores" com o título "Melo Antunes, O sonhador pragmático":
" O que se passou no 25 de Novembro foram várias coisas, por isso se fala em mais do que um 25 de Novembro, entre elas a tentativa de o transformar numa "pinochetada" como eu costumo dizer.
Isto é claríssimo e fez, obviamente, com que nos tivéssemos de bater, pelo menos, em duas frentes: aquela para a qual nos tinhamos preparado e outra, a da direita militar.
Mas a "pinochetada" foi evitada pela firmeza com que defendemos as nossas posições, disso não tenho quaisquer dúvidas (...)."
"O Eanes já assumira compromissos fortes...para que as operações militares terminassem e penso que já tinha feito aquela intervenção na televisão no sentido de desencorajar qualquer possibilidade de "caça às bruxas," qualquer hipótese de o movimento resvalar para aquilo que a direita militar queria... Se (o) conseguissem..., no plano civil, seria a decapitação das forças que eles consideravam, obviamente, desde sempre, como as principais responsáveis pela situação que o país vivia.
Mas essa não era a questão, nós também as considerávamos culpadas, a questão é que, para eles, este era o momento de acabar com o projecto global de se instituir uma democracia política. Ao fim e ao cabo, tratava-se da recuperação do antigo regime por outros meios, nada mais."
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