Só nestes últimos dias é que me apercebi até onde Saramago leva a sua singular condição de "Homem Duplicado".
Não apenas por ter escrito o "Homem duplicado".
Não apenas por viver em duplicado.
Entre uma Espanha, que o adora, o venera, lhe tributa todas as homenagens e honrarias.E ele lhe corresponde de acordo com o clássico "ubi bene, ibi pátria".
E um Portugal, que o aceita e dele se orgulha como único "nobelizado" da sua literatura, mas lhe discute o passado e o presente, e de quem ele também discute não só passado e o presente, mas também o futuro como país independente.
De um Portugal, de que, no fundo, ele só respeita, porventura, muitos camaradas e poucos compatriotas, e mais por afinidades ideológicas do que por comuns sentimentos patrióticos, e até, mais do que amar-lhe a língua, dela se serve (e bem) como instrumento dócil às suas experimentações de escritor.
Mas, repito, não se trata de uma opção, como eu pensava.
É mesmo uma condição.
Uma condição que o marca, premonitoriamente, desde o nascimento.
"No Domingo, José Saramago será homenageado em Lisboa, já que, conforme recordou Juan Echanove, o escritor celebra o seu aniversário duas vezes: a 16, porque é efectivamente o dia em que nasceu, e a 19, porque foi este o dia em que o pai registou o seu nascimento".
O Saramago de 16 de Novembro é o Espanhol, o primeiro, o genuíno;
O Saramago de 19 de Novembro é o Potuguês, o duplicado, em segundo lugar e para efeitos oficiais, inclusivamente fiscais.
Observação final: Só não percebo muito bem como é que Saramago, pondo em dúvida as condições de Portugal para manter, no futuro, a sua situação de país independente, o admite para o País Basco.
A não ser que,para Saramago, prever o futuro seja sinónimo de desmentir o passado, todo o passado histórico de Portugal e do País Basco.
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