Todos sabemos que, para a nossa ruralidade açoriana, até há muito pouco tempo, estas duas realidades confundiam-se.
A música, não eram os cantos da igreja.
A música, não eram as modas tradicionais.
A música, não era o piano que a senhora martelava na casa nobre ou rica.
Menos ainda a viola que muitos dedilhavam por tradição familiar ou gosto pessoal.
A música era a filarmónica.
A filarmónica da Praia era a música da Praia.
A música da Vila era a filarmónica da Vila.
É, em memória desses tempos,
e aproveitando a comemoração dos 120 anos da SFUS (Sociedade Filarmónica União Sebastianense) a que já fiz referência neste blogue e no Epigrama, que vou deixar também aqui, a transcrição dos versos sobre o ensaio e a bandeira, da "Festa Redonda" de Vitorino Nemésio, dedicados à Música da Praia, precisamente na sua "Décima da Música da Praia":
A Bandeira
Bandeira da filarmónica,
Tu é que me hás-de embrulhar
Na serpente a ponto cheio,
Cruz negra que eu vi bordar...
Bandeira de seda fina,
Alva como uma rainha!
Ainda tremes da pureza
dos dedos da Lucindinha!
O Ensaio
A casa do ensaio à noite
(Cá fora chuva e galochas)
Parece a câmara ardente
Rodeadinha de tochas...
Geme o fá, o si repica,
Berra o sol, o lá desanda,
Dó chora, ré mia ao mi,
Cada um pra sua banda...
Mas, de repente, na estante,
Bate a batuta o papel:
A força do folgo é tanta
Que se ouve em São Miguel!
Nota final (com segundas intenções e para segundas interpretações):
Às vezes, é preciso mesmo muito "folgo," para, da Terceira, ser ouvido em São Miguel!
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Há 17 horas
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