Sim. Acho que é mais dos amores.
De seus enganos e desenganos.
De seus encontros e desencontros.
De suas angústias e enlevos.
Da sua importância e insignificância.
Da sua incerteza e contradições.
Da sua efémera perenidade.
Foi talvez por tudo isto;
Ou por nada disto;
Que me lembrei de Camões.
E da sua "cantiga"
de um "cantar velho,"
que, tempos atrás,
numa tentativa
de encontrar
a quadra perfeita,
descobri.
Trata-se de uma cantiga
com mote.
E com um mote ridículo.
Vejam só:
"Coifa de beirame
namorou Joane".
Mas deixemos
para trás o mote.
Nem precisamos de
saber-lhe o sentido,
para perceber que,
mesmo sem
as referências ao mote,
nas "voltas"
da sua cantiga,
Camões surpreendeu
e registou
(genialmente)
todos
os caprichos,
as fantasias,
as incongruências,
os pequenos nadas
e os grandes arroubos
que definem
o amor
que fica
e os amores
que passam.
E o amor
que fica
nos amores
que passam.
Por cousa tão pouca
andas namorado?
Amas o toucado
e não quem o touca?
Amas o vestido?
És falso amador.
Tu não vês que Amor
se pinta despido?
Se alguém te vir,
que dirá de ti?
Que deixas a mi
por cousa tão vil!
Qem ama assi
há de ser amada;
ando maltratada
d'amores, por ti.
Eu não sei que viste
neste meu toucado,
que tão namorado
dele te sentiste.
Não sei de que vem
amares vestido;
que o mesmo cupido
vestido não tem.
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