Assim desejava o Gonçalo, Gonçalinho, Gonçalão da "Ilustre Casa de Ramires", de Eça de Queirós, o percurso da sua vida - da literatura nacionalista à política - de que, os acasos da permanente arrumação/desarrumação das prateleiras da minha biblioteca, me levou à releitura recente de algumas páginas.
Assim também chegaram, anteontem, a São Bento os previsíveis e previstos principais protagonistas do debate mensal na Assembleia da República.
O Primeiro Ministro, na sua estreia depois do desgaste do folhetim mediático da sua sinuosa licenciatura em Engenharia.
O líder da oposição, sob a constante ameaça de mais um arguido na interminável colecção de aprendizes de mafioso, em que parece estar transformada a lista dos membros do PSD na Câmara de Lisboa; depois das suas folhetinescas reviravoltas no caso OTA, e dos lancinantes gritos a rebate contra os governamentais assaltos à liberdade de imprensa, de que o PSD gosta de se reservar o rigoroso exclusivo.
E ainda, como terceiro personagem, Paulo Portas, o líder auto-entronizado da "outra" verdadeira oposição a Sócrates (o que quer que isto seja, só ele próprio o saberál), recém regressado do treino contra Sócrates no seu "putching-ball" privativo em que conseguiu transformar Ribeiro e Castro.
Digamos que, do ponto de vista das vitórias ou derrotas mediáticas, que sempre são estes embates mensais,
(mais até do que debates mensais),
nenhum destes protagonistas esteve além das expectativas criadas, mas os dois líderes das duas oposições (a oposição real que temos, a de Marques Mendes; e a oposição virtual que Paulo Portas nos promete) estiveram muito aquém do que seria desejável, previsível ou mesmo prometido.
Pelo lado de Marques Mendes, a derrota foi total.
Continuou a preferir "voar baixinho" pelos temas, já mais que explorados, da OTA e da saúde.
Com a OTA, não se livrou mesmo de se ver reduzido à caricatura mais própria da "contra-informação,"do que do debate políitco, que Sócrates conseguiu traçar do seu comportamento errático, que despreza os estudos de trinta anos sobre o assunto, para se contentar com visitas de turismo político, aos locais do "sim" e do "não" á OTA.
Mas a sua mais flagrante falha foi a de ter deixado cair o tema quente do celebrado discurso do porta-voz do seu partido na sessão do 25 de Abril.
Foi necessário Sócrates desafiá-lo, à queima-roupa, para o tema, fazendo-o, assim, passar de possível feroz acusador, no tom do discurso anterior dele próprio e do seu partido, a frágil e remisso acusado, balbuciando explicações e justificações.
É claro que o tema não passa de mais um dos muitos "blufs" mediáticos em que o PSD de Marques Mendes se tem vindo a enredar.
Daí a sua opção inicial de evitá-lo.
E assim acabou mais um dos seus repetidos insucessos nestes recontros mensais.
Quanto a Paulo Portas manteve-se no seu estilo habitual de fazer debate político na Assembleia, tal como fazia jornalismo no "Independente".
Ou seja, fiando-se no pressuposto jornalístico, de que trazer um assunto para a primeira página é que lhe dá importância.
Foi o que, manifestamente, tentou fazer no único tema de política geral que decidiu abordar.
Um tema claramente de simples importância política marginal, como foi o novo critério de actuação pedagógica em relação às faltas injustificadas no projectado estatuto dos alunos.
Para quem acabava de travar uma fragorosa batalha dentro do seu partido, para procriar uma nova oposição e um novo partido, esteve mais perto do modelo de Ribeiro e Castro, nas suas frouxas aparições televisivas, do que do revolucionário de peito ao léu, em que se tentou metamorfosear para as rerfregas partidárias internas.
O problema é que, desde sempre, génio para destruir nunca lhe faltou.
Dentro do seu partido e nos partidos dos outros.
Paciência e capacidade para recriar e substituir com melhorias, o que destruiu, é que continua sem acertar.
E não vai ser com a sua requentada proposta de transformar o actual modelo de solene debate mensal com o Primeiro Ministro, numa corriqueira sessão semanal de perguntas, que Paulo Portas vai alterar, nem o sucesso habitual de Sócrates nestes confrontos, nem os rumos da oposição ou da política portuguesa.
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