quinta-feira, maio 03, 2007

É possível ganhar um debate, sem que o adversário o tenha perdido?

 

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Acho que sim.
Se preenchidas algumas condições prévias.
Se o debate for na televisão.

Se o debate ocorrer dentro de uma campanha eleitoral.
Se as expectativas sobre o debate forem desequilibradas e um dos contendores tiver conseguido equilibrá-las.
Se um dos protagonistas do debate tiver de lutar, não só contra o adversário, mas contra estereótipos arreigados, como os de sexo, origem ou religião.
E se esta luta tiver sido ganha.
Se a atitude mantida durante o debate tiver sido a da determinação, persistência, convicções firmes, capacidade de luta, força para se impor ao aversário e para  o levar a reconhecer, explicitamente, ou a aceitar, implicitamente, falhas, erros ou imprecisões. 
Se o adversário tiver um legado político pouco coerente ou consequente com as posições que defende e isto conseguir ser posto em evidência.

Se as quase inevitáveis falhas ou imprecisões técnicas ocorridas durante o debate se revelarem  mais penalizadoras ou menos desculpáveis, para quem, por força das funções anteriormente exercidas, teria maior obrigação de evitá-las.

 

É certo que, este estendal de condições pode parecer excessivo em número e demasiado genérico, apenas  com o objectivo, consciente ou não, de esboçar um quadro muito concreto, para atribuir uma vitória, já previamente desejada ou mais ou menos preconceituosamente atribuída.
Tudo isto é possível.
Mas também é certo que é precisamente isto o que, realmente, penso do resultado do debate de ontem entre os dois "S" (Sarko-Sego) candidatos à Presidência de França.
Mal comparando embora, creio que Ségolène, ontem, se encontrava numa situação muito semelhante à de Mário Soares, nas últimas eleições presidenciais, em Portugal.
O seu maior inimigo não eram as suas ideias, méritos ou qualidades, no confronto com o seu adversário.
O principal inimigo a superar, eram os estereótipos correntes sobre alguém que já cumprira e conquistara o seu lugar  na história do país e, pela sua idade, devia aguardar apenas a entronização definitiva pelos historiadores e não, mais uma vez, forçar os eleitores a reconfirmarem tudo isso.
Só que Mário Soares nunca conseguiu essa superação.
Penso que, ontem, Ségolène Royal, pode ter dado um passo importante para esse objectivo.
Se chegará ou não, para lhe dar a vitória eleitoral, é outra questão.

A reacção de Bayrou, ao debate, e que dá título ao Le Monde, pode ser apresentada como uma confirmação possível do que fica dito.

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