quinta-feira, maio 10, 2007

Que fazer com estas derrotas?

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Esta é a pergunta que os derrotados das eleições do passado dia 6 de Maio se devem estar fazendo, na Madeira e em França.
Em França, seguramente que se está agindo no sentido de lhe dar resposta e tirar lições.
O tempo político urge, com novas eleições à porta.
Na Madeira, é bem possivel que o estado de choque com os desastrosos resultados para as oposições, sempre previsíveis para os meros observadores, e sempre traumatizantes para os próprios intervenientes, ainda não tenha propiciado reflexão útil, para além dos habituais e inevitáveis lamentos sobre a fatalidade de ser oposição na Madeira.
Primeira questão.
Será mesmo possível englobar o caso francês e o caso madeirense numa mesma reflexão?
Pode não ser fácil, mas julgo que não será de todo impossível.
Tentemos.
Para que uma derrota política possa servir de alavanca a uma reflexão que aspire a ser ponto de partida para relançar os derrotados de hoje, no caminho de eventuais vitórias de amanhã, exige-se que se consigam juntar duas condições simétricas e simultâneas:

A primeira é que se tenham artes de construir uma alternativa para um eleitorado.

A segunda, é que se disponha de (ou se construa) um eleitorado para uma alternativa.
Estas duas condições, à primeira vista, podem parecer simples truismos ou elementares jogos de palavras.
Penso que não são.
A alternativa para um eleitorado, implica a construção de um projecto político, que seja percebido pelo eleitorado como inovador e mobilizador, em relação ao protagonizado pelo poder vigente.
E que, além de projectos claros e consistentes, agregados à volta de um tema central dominante, seja protagonizado por equipas de pessoas com credilidade na sociedade e com uma liderança emergente ou já consolidada.
Quanto ao eleitorado para uma alternativa, comecemos por explicitá-lo, por ser de conteúdo mais acessível e até quantificável, pelo menos aproximadamente.
Exemplifiquemos, na tentativa de o tornar ainda mais compreensível.
No caso de França, um capital eleitoral de 47%, como o obtido por Ségolène, no passado dia 6, resultando ainda, por acréscimo, de uma base eleitoral em movimento entre a direita e a esquerda, como se constatou na primeira volta, pelos 18% do eleitorado do centro de François Bayrou, é, seguramente, uma base eleitoral suficiente, para se perceber que há condições politicas e sociais, para se continuar a aperfeiçoar uma alternativa e consolidá-la para o futuro.
Também parece óbvio que, mesmo descontadas as circunstâncias, estruturais e ocasionais, em que foram disputadas as recentes eleições na Madeira, nem os 15% do PS, nem mesmo acrescentados das percentagens, ainda mais residuais e marginais, dos restantes partidos da oposição, são bastantes, para alicerçar uma base de apoio suficiente para a construção de uma alternativa.
Em reforço desta última afirmação, pode-se lembrar que, em 2004, o PS-Madeira conseguia uma das mais altas percentagens eleitorais da sua história, situando-se perto dos 28% do eleitorado.
Por contraste, e para um caso em que o PS conseguiu uma base eleitoral suficiente, para se posicionar como alternativa, como aconteceu nos Açores em 1996, o seu pior resultado de sempre verificou-se nas eleições de 1994, para o Parlamento Europeu.
Nessa altura, o PS-Açores quedou-se pelos 28% dos votos, mas não tinha qualquer representante seu na lista do PS e praticamente não participou na campanha eleitoral.
Entre este mínimo de 28% do PS-Açores, em 1994, e aquele máximo do PS-Madeira, em 2004, julgo que é fácil de deduzir onde se situa o patamar de um eleitorado para uma alternativa.

Mas esta segunda condição não se recebe, pelo menos inevitavelmente, como simples herança do acaso ou da história.
Pode construir-se, a partir da elaboração de uma alternativa para um eleitorado.
É o que poderá ser tema de próximas considerações sobre o assunto.
Esperemos que o sejam.

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