Haverá alguma razão para que, nas imagens televisivas da transmissão em directo da cerimónia oficial das comemorações do dia da Região, na passada segunda-feira, as imagens que nunca mais se vão apagar da memória visual dos teleespectadores, sejam as da imensidão de cadeiras vazias, que ressaltavam em qualquer panorâmica do recinto preparado para o acontecimento?
Claro que há uma razão.
A mesma razão que faz com que, do recente Congresso do CDS/PP, por mais artifícios de comunicação de Paulo Portas, as imagens que hão-de marcar para sempre aquele Congresso, serão as da quantidade esmagadora de cadeiras vazias a reduzir a zero, o número, já escasso, de delegados presentes.
A mesma razão que leva a que se arraste, há mais de meia dúzia de anos, a decisão sobre a transmissão televisiva das actividades do Parlamento Regional. Aquilo que, erradamente, se resume na expressão oficializada de "Canal Parlamento".
Errada porque, com ela, se insinua, voluntariamente ou não, que, para a solução do problema, há apenas um processo. O recurso à solução tradicional adoptada pela Assembleia da República, com a montagem de uma estrutura dispendiosa e de nula audiência, que funciona com este nome. Mas não é assim. Há outras soluções, vindas do passado ou tirando partido dos mais recentes progressos tecnológicos nestes domínios.
Mas tudo isto são apenas desculpas de quem tarda em perceber o alcance desta decisão para uma Assembleia que tem, na sua imagem de proximidade ao povo que representa, a sua principal razão de existir e de funcionar.
E de quem, na grande oportunidade anual de dar uma imagem de entidade que o povo procura e nela se revê, através da organização do dia da Região, de que recentemente se passou a encarregar, não toma nenhuma providência, não se dá ao incómodo de qualquer cautela ou diligência, para que a regra da representação sem o povo, que é o seu drama de todos os dias, tenha, no dia da Região, a sua excepção.
Mas não.
Lá estão as cadeiras vazias, a ganhar dimensões de tragédia ( ou caricatura impiedosa) na sua força televisiva.
Quanto ao resto. Antes, quando a responsabilidade da organização do dia da Região era do executivo, tinhamos uma sessão com dois discursos. Um do Presidente do Governo, que era de circunstância, mas se esforçava por ser de reflexão. Outro de um convidado, que era de reflexão, mas se esforçava por se enquadrar na circunstância da comemoração.
Hoje passámos a ter dois discursos de circunstância. Um deles continua a esforçar-se por ser de reflexão. O outro... é, somente, a sua circunstância.
Além disto, há ainda a atribuição das insígnias honoríficas regionais.
Sobre este acto na passada segunda feira, apenas uma observação.
Para a escolha das entidades "insigniadas," e atendendo à unanimidade parlamentar da sua indicação, seria de esperar uma maior convergência de consensos, fora do parlamento, em relação àquelas que foram escolhidas por mérito da sua carreira política.
No jogo de agraciado rosa contra agraciado laranja, só me têm chegado ecos de descontentamento e surpresa, em relação a uma das rosas escolhidas.
Sempre foi rosa de mais espinhos que pétalas. E parece continuar a sê-lo.
Apenas mais um sinal de que, muita vez, quem representa o povo através dos partidos, está em risco permanente de se afastar, ao mesmo tempo, dos partidos e do zé-povinho?
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