A sociedade, os governos ou o raio que os partisse até tinham inventado uns quantos programas a pensar nos velhos.
Centros de dia, por exemplo, velhinhas fazendo flores de papel e velhos fabricando apitos. Cantando juntaram-se os dois à esquina, a tocar a concertina.
Ou universidades de terceira idade, estava boa essa, universidades para velhos que aprendiam por exemplo a distinguir o estilo gótico do românico, e quando já sabiam enterravam-nos. Ou aprendiam alemão, que tinha três artigos, der, die, das. Engasgavam-se no der, tropeçavam
no die e quando chegavam ao das estatelavam-se dentro do caixão e ficavam arrumados.
Era no que davam essas coisas de terceira idade.
Universidades para eles? Não valia a pena fingir. Para eles o que havia eram lares, infantários de terceira idade, com fraldas e babetes. E açoites no rabo, também, segundo alguns. Ora porra. Portanto não o lixassem com essas aldrabices
de universidades e o raio.
Ser velho era esperar a morte. Era preciso encarar isso. Ali estava ele portanto, sentado à espera dela. Que um dia bateria à porta, ou entraria, de repente, sem bater.
Foi este texto de Teolinda Gersão que, ontem, me ocorreu, quando assisti a uma reportagem da televisão, sobre uma, porventura generosa, mas sem dúvida bizarra, iniciativa camarária, de proporcionar aos "velhinhos" lá da terra umas experiências radicalmente jovens de saltos em pára-quedas e complementares acrobacias aeronáuticas.
Felizmente, entre prolongar a vida, caindo-lhe em cima de pára-quedas, e ser enterrado em estilo romano-gótico, há alternativas.
Talvez, nem sempre fáceis de descobrir.
É questão de não desistir de procurar.
Mesmo que, nesta busca, se esgote o resto dos dias que restam.
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