segunda-feira, outubro 15, 2007

Estranha forma de (não) "liderar" um Congresso

Para um líder recém-eleito por sólida maioria em eleições directas, a prova do congresso ou é uma confirmação institucional clara dessa liderança ou é um fracasso.
Ou não é uma coisa nem outra.
E é um fracasso.
De qualquer forma, muito dificilmente poderá ser mais um caso a confirmar a tradição teatral de que um mau ensaio geral é prenúncio de uma boa estreia.
Este tipo de Congresso só pode servir para a consagração, institucional, orgânica, aparelhística se quiserem, do poder do líder.
Não para a diminuição ou divisão do poder com outros.
É claro que é também o momento da partilha orgânica do poder, a partir do vértice da pirâmide já encontrado, mas não para transformar o vértice da pirâmide, em simples peanha para a entronização de outros pequenos líderes secundários.
Na realidade, nada do que aconteceu no Congresso de Torres Vedras me pareceu de bom augúrio para o principal interessado, Luís Filipe Meneses.
Principalmente por culpa dele próprio.
Por sofreguidão de estreante.
Ele confirmou que as pernas lhe tremiam, quando se aprestava para o seu primeiro discurso de encerramento, mas não foi aí que o prestígio institucional da sua liderança, mais "tremida" e diminuída saíu.
Quando ele iniciou o Congresso, já levava a pena de morte institucional, suspensa da decisão sobre o centro de gravidade mediático do congresso que a comunicação social, inevitavelmente, sempre cria, em todos os congressos, e de modo particular nos do PSD que ela, comunicação social, sobretudo a televisa, dogmaticamente, decidiu que são, por definição, mediáticos.
Aos partidos em Congresso, só resta tentar aproximar esse centro mediático daquele centro que interessa ao partido.
Segundo os tropismos mais primários do monstro mediático, já se sabe o "petisco" que ele mais aprecia. O único de que se consegue mesmo alimentar.
É sempre o mesmo: o "petisco" dos problemas não resolvidos.
Pode ser apenas um, por contraposição a milhentos de outros, porventura, já resolvidos. Mas será, necessariamente, neste, em que ela centrará as sua atenções.
E qual era esse problema, no Congresso de ontem?
A liderança do Grupo Parlamentar.
Para cúmulo, todas as pistas deixadas pelo líder apontavam para a mesma pessoa, sem que ele o assumisse claramente como a sua opção, matando, no ovo, a mórbida tentação mediática.
Resultado: o problema não resolvido de Santana Lopes tornou-se no tema central e no centro de gravidade medíática do Congresso.
Não contente com isso, Meneses, em vez de fazer o que todos os líderes fazem, que é dirigir os trabalhos, em coordenação com a Mesa, fazendo avançar as intervenções de acordo com o seu impacto medíático previsível, procurou dirigi-lo do palco, num impulso irresístivel e desesperado para tentar recuperar o único "notável- baronete" do PSD, que não pudera evitar o Congresso, por não se poder furtar a dirigir a mesa.
O repto publico do líder a Manuela Ferreira Leite só podia ter um efeito inevitável: Criar mais um outro centro de gravidade, agora dentro do próprio Congresso, e transformar o líder em humilde suplicante. Tributário rejeitado de uma pessoa e das suas ideias. Nem mesmo pensando como o líder, Manuela quer estar, politicamente, comprometida com ele.

Quanto ao discurso de encerramento, foi um óptimo discurso de Congresso, mas teve o mesmo defeito da preocupação dominante das listas.
Para as listas dos órgãos do PSD, o critério prevalecente não pareceu ser um qualquer critério político de renovação, competência ou adequação geográfica ou estratégica que se esperaria, mas o critério arqueológico de recuperação de todos os fantasmas políticos do PSD, desde a mais remota origem, vivos ou mortos, com longo ou curto passado, pessoal político ou partidário.
O discurso obedeceu a idêntica preocupação de tocar em tudo e para todos.Foi muito enciclopédico, mas pouco definidor. Muito abrangente, mas pouco clarificador. Muito de plateia e muito pouco de gabinete de estudos. Foi muito um pontapé de saida simbólico e muito pouco a primeira jogada do início de um verdadeiro desafio.
Resta-me uma pergunta de açoriano?
Com este líder estará o PSD português condenado a repetir o percurso do PSD-Açores? Cada vez mais, um partido para dividir com outro, o PS nomeadamente, os dois níveis de poder do país? Para ele, o poder autárquico. Para o outro, de momento o PS, o poder nacional?
Para um líder que acha que o PS detesta as autarquias e odeia as regiãos, poderia ser um forçado tratado de "tordesilhas,"mas pode ser também, uma consoladora ou paliativa compensação.

2 comentários:

Rui Caetano disse...

Quando um partido está na oposição, as coisas correm sempre mal e tudo o que é dito e feito não tem garnde razão de ser. Eu sou socialista, mas na Madeira, e como souoposição há 30 anos sinto tudo isso na pele. Em todos os partidos é assim.

Dsousa disse...

Não acredito que pesem sobre os partidos da oposição qualquer maldição fatal que(pré)determine a sua actuação no sentido de se "afundarem" em oposição eterna em tudo o que dizem e fazem. Pelo contrário, a regra nas sociedades democráticas é a da alternância. A instalação prolongada no poder é a excepção. A Madeira é uma delas. A Catalunha, por exemplo, também já foi. Mas já não é. Os Açores também pareciam condenados a sê-lo, mas não o foram E, um dia, a Madeira também deixará de ser. É Claro que tal não acontecerá, sem que mudem algumas coisas no actual poder na Madeira, ...mas também na actual oposição. E não é, de certeza, reduzindo a acção política a sucessivas acções "de polícia", como parece estar a fazer o PS-Madeira. Mas, isto seriam contos largos, que não cabem aqui.