quarta-feira, fevereiro 23, 2005

As Vitórias da Vitória de Sócrates e do PS


A vitória eleitoral do PS no passado Domingo não é apenas uma vitória. Ou apenas mais uma vitória, entre muitas outras da democracia e do socialismo em Portugal. É, antes, o somatório de muitas e várias vitórias.
É, antes de mais, uma vitória pessoal do próprio Sócrates. Em primeiro lugar, uma vitória sobre si próprio. Pelo modo como foi melhorando durante a campanha o seu desempenho. Conseguiu, assim, duas coisas essenciais numa campanha. Eficácia, clareza e segurança a transmitir a sua mensagem. Outros foram claros, seguros e transparentes, mas sem qualquer conteúdo substancial ou novidade de fundo. Pensemos em Jerónimo de Sousa e Paulo Portas. No caso de Santana Lopes ele próprio era a personagem e o conteúdo. Quando tentou "vender" mais do que a si próprio, só conseguiu apresentar artigo de fancaria.
Outro aspecto notável da campanha de Sócrates foi conseguir pedalada e programação para terminar a campanha em alta.
Esta é uma das façanhas mais difíceis de conseguir, sobretudo em campanhas como as portuguesas, que são verdadeiras campanhas de duração medieval transpostas para o século XXI. Violentíssimas para quem as faz, e chatíssimas para quem as tenta acompanhar.
Tempo perdido, desgaste inútil e irrecuperável e gastos exorbitantes. Tudo isto inquinado pela pressão da máquina da televisão que nivela pela exigência maior, quer o grandioso comício feito na grande Lisboa ou o pequeno convívio partidário em Freixo de Espada à Cinta.
Sempre acompanhado da tendência para a transposição das últimas modalidades das campanhas americanas. Como foi, nesta, a importação das campanhas de assassinato da personalidade dos adversários.
Ao contrário de muita outra gente, não acredito que essa tendência não tenha vindo para ficar. Há-de haver sempre um qualquer "santana lopes", em desespero, para ceder a essa tentação, Aliás, muito de acordo com os hábitos mais tradicionais dos nossos "suaves" costumes. E de que, note-se, já tínhamos assistido a afloramentos na campanha da "Coligação" para as regionais de Outubro passado. Para não falarmos das campanhas da Madeira, que, há muitos anos, Alberto João reduz ao achincalho dos opositores!
Outro aspecto da vitória pessoal de Sócrates, foi a sua inquebrantável resistência à tentativa de imposição pela direita, como exigências incontornáveis de uma campanha eleitoral esclarecedora, daquelas modalidades que ela, em determinado momento, considera mais favoráveis e que, na sua tendência social hegemónica, resolve impor como as únicas aceitáveis. Desta vez, foi a moda da apresentação de governos completos e da indicação das alianças futuras, no caso de ausência de maioria absoluta de um só partido.
Ninguém contesta a utilidade eleitoral de qualquer dessas iniciativas, particularmente da primeira delas. A história das campanhas eleitorais demonstra a vantagem da sua utilização. Mas, apenas, como um recurso que, quem nele vê vantagens, utiliza, mas sem a pretensão de que seja um modelo único e a usar por todos.
É evidente que os partidos, que, em cada eleição, se apresentam com hipóteses de as ganhar, têm muito mais a perder do que a ganhar com isso. Basta pensar que por cada nome que se apresenta para o Governo equivale à exclusão de dezenas ou, às vezes, até centenas de pretendentes ao lugar. Se for depois de eleições, serão apenas apoios e boas vontades perdidas, se for antes, serão mesmo votos!

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