terça-feira, fevereiro 01, 2005

Variações sobre Programas Eleitorais


No primeiro dia de um mês de eleições, pareceu-me boa ideia deitar uma olhadela ao tema da autonomia nos programas eleitorais dos diferentes partidos concorrentes à Assembleia da República e cujos programas estejam acessíveis na Internet.
Vou-me restringir, hoje, nestas variações iniciais sobre o tema, aos partidos com representação parlamentar.
Na página do PP, não consegui encontrar sinais de programa eleitoral, muito menos de regiões autónomas.
Vi muita gente com "pose" de Estado, mas ideias com "peso" programático, sobre o que quer que fosse, nem rasto. Provavelmente, andam todos muito atarefados no reino dos valores que, como se sabe, fica um pouco acima das ideias e um tudo nada ao lado das "poses". Se alguém der pela descida desses nefelibatas de novo estilo, ao mundo das ideias ou ao mundo dos simples humanos, agradece-se a informação.
Na página do Bloco, encontrei o programa eleitoral, mas também não consegui descobrir qualquer parte do mesmo dedicada às Regiões Autónomas.
E, na primeira leitura rápida do programa, só consegui descobrir duas referências, currente calamo, sobre as autonomias. Uma inócua, em que se menciona o contra-senso de colocar açorianos a votar sobre referendos relativos a outras regiões do país. Outra negativa, em que se faz menção de atitudes de João Jardim.
Para um partido, que começa a ter pretensões a ser algo mais do que uma variante com sucesso, das muitas modalidades europeias da "esquerda caviar", acho lamentável a ausência de discurso sobre uma das experiências mais importantes da democracia portuguesa.
Bem sei que, actualmente, a autonomia não faz parte do lote de temas com carácter fracturante, que é o grande prato de resistência do Bloco, que conseguiu roubar, com êxito, às "jotas" dos grandes partidos.
É natural que, quando o Bloco conseguir ultrapassar essas fixações juvenis da sua matriz original, finalmente descubra a autonomia, como algo que está para além das "jardinices" do Alberto João e das questões fiscais da Zona Franca da Madeira. Ainda não foi desta...
Em economia de ideias e de palavras sobre a temática autonómica, para, por agora, usar de uma expressão benigna, segue-se a estes dois modelos de não-discurso, a pobreza franciscana do discurso do PPD/PSD.
À primeira vista, custa a crer que o desenvolvimento do tema da autonomia e as perspectivas eleitorais imediatas sobre ela, seja mais anoréctido no Programa do PPD/PSD( invocá-lo com esta nova sigla faz parte do astral mágico do cantado "guerreiro menino") do que no programa do PS e do próprio PCP.
Para mim, não tem nada de estranho, porque é uma tendência que se vinha afirmando nos anteriores programas eleitorais do PSD.
Escrevi longamente sobre o assunto em eleições anteriores. Vou voltar a fazê-lo. Até porque é bem possível que estas "nuances" escapem aos nossos perspicazes jornalistas regionais. Como aconteceu em todas as situações anteriores.
Por agora, deixo-vos com o link para os - seis parágrafos seis - a que se reduz o "Contrato" do PPD/PSD com os açorianos.
Cinco são de auto elogio, com erros factuais à mistura.
O sexto tem duas promessas. Uma, sem conteúdo preciso. Noutra, propõe-se o PPD/PSD recuperar na, provável, oposição na Republica, aquilo a que se recusou no Governo: rever a lei de Finanças das Regiões.
E é tudo. O resto fica para a campanha eleitoral. Com cartazes, muitos cartazes. Slogans, muitos slogans. Mota Amaral, muito Mota Amaral! E pouco, muito pouco Santana nas regiões!
Note-se, ainda, que já não há qualquer referência à sacramental bandeira da extinção do, outrora, execrável Ministro da República. Nem às responsabilidades da República sobre os serviços e bens do Estado nas regiões autónomas. Nem sobre as próximas tarefas da Assembleia da República sobre o Estatuto e os sistemas eleitorais das regiões.



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