domingo, fevereiro 20, 2005

O Jornalismo Como Exercício de Puro Cinismo




Nos últimos anos tenho conseguido escapar aos tradicionais ataques das gripes de fim ou de mudança de estação. Este ano fui menos afortunado. Três dias de "choco" e a ressaca de uma tosse irritante.
Com este contratempo perdi o contacto directo com as últimas peripécias da campanha eleitoral. Mas se calhar a febre deu-me uma nova sensibilidade para o cinismo reinante nalguns dos nossos respeitáveis órgãos nacionais de referência.
Entendamo-nos. Não é que não considere útil e até com valor pedagógico, a existência, por cada geração, de um ou dois cínicos com talento. Até é vantajoso para a sociedade ser flagelada nos seus excessos, ridículos e hipocrisias pela críticas aceradas de umas queirosianas e ramalhais "Farpas" ou pelas caricaturas impiedosas de um Bordalo.
Mas, numa sociedade, em que as pessoas são escrutinadas em permanência para os cargos e para o seu exercício quotidiano, encontrar o cinismo desbragado a esmaltar cada naco de prosa do mais anónimo jornalista ou preclaro estagiário, não me parece nada saudável.
Só dois ou três casos que considero típicos de alguns exemplares da fauna jornalística actual, muita dela chegada às páginas do jornais por meros empenhos e favores partidários ou que passaram directamente dos cursos de jornalismo para as redacções, sem antes amadurecerem na vida real.
Leiam estes dois nacos de prosa do repeitabilíssimo Diário de Notícias, que acabou transformado no órgão oficioso do santanismo mais "delgadista"(de Luís Delgado, claro.)
O objectivo de todas estas cavilhosas, retorcidas e cínicas especulações é claríssimo. Ilibar Santana Lopes. Condenar sumariamente Sampaio, porque serviu os interesses do PS e Sócrates, porque não merece a oferenda divina da maioria absoluta.
Parece-me difícil a um jornal de estatuto nacional descer mais baixo na reles especulação de café de bairro ou cinismo de conversa de esquina entre dois cigarros.
O chamado "charme discreto" do camarada Jerónimo é outro elucidativo exercício de hipocrisia da direita que, na mesma medida em que o ridicularizou, há uns anos atrás, como o candidato "bailarino" às eleições presidenciais, agora se confessa rendida aos seus encantos de sedução ideológica através de nomes como Vasco Graça Moura, Clara Ferreira Alves ou Miguel Esteves Cardoso!
É o decadentismo "blasé" de uma direita portuguesa à deriva entre as "santanetes," para elas, e a "jeronimofilia," para eles!
Como se vê, qualquer "barril" lhes serve para se acolherem e qualquer "lanterna" lhes é dispensável. Não se incomodam nada é com a sombra de qualquer "imperador"!

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