sexta-feira, fevereiro 25, 2005

Aquilino Ribeiro e o Futebol




O futebol vai-se tornando o mane-tecel-pares de uma população de impaludados, de sifilíticos e alcoólicos na sua maioria. À geração que vai escalar o mando familiar chamou o Dr. Agostinho de Campos "geração do pontapé na bola".
Com este designativo entrará na história, reles, analfabeta, sem curiosidades de inteligência nem uma directriz moral.
Como se pôde enraizar entre nós um desporto tão contrário ao nosso habitat e aos nossos costumes? Como pôde congraçar no seu culto desde o menino que começa a gatinhar, ao ginja de cabelos brancos, para quem esperar toiros, ver correr toiros, era um pratinho sem rival?
De todos os jogos é sem dúvida este o mais estúpido e inconsequente. O remo fortalece o remador e tonifica-lhe os pulmões; o jogo de pau adestra o jogador para a defesa do respeitável costelado; o tiro é um passatempo nobre; a gineta é saudável e elegante; o ténis ensina as belas atitudes; até o boxe e o savate preparam o homem para esmurrar um patife que se lhe pranta pela frente ou quando pretenda lavrar uma desafronta.
Mas o futebol, que acréscimo de força ou de beleza traz a quem o pratica?
(Aquilino Ribeiro,"Crónica da Quinzena" in "A Ilustração" de 16-VII-1926)

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