quarta-feira, fevereiro 09, 2005

De regresso aos programas eleitorais



Voltemos, então, à "coisa" pública, depois destes dias de pausa para a "coisa" carnavalesca.
Demos de barato aquilo que todos, há muito, sabemos. Que as barreiras entre uma coisa e outra, raramente são assim tão evidentes. Sobretudo, porque, em ambos os casos, a máscara e o disfarce imperam.
Exemplifico. Por detrás do disfarce de um texto programático sobre as duas regiões autónomas dos Açores e da Madeira, em que elas se esperariam ver reflectidas por igual, é possível distinguir, segundo os partidos, aqueles textos que foram escritos de uma perspectiva madeirense ou açoriana e ainda aqueles que foram escritos de uma perspectiva, predominante ou mesmo exclusivamente, partidária ou governamental.
Os do PSD e do PS foram escritos de uma perspectiva muito governamentalizada, com esquecimento ou mesmo prejuízo da perspectiva partidária. Quanto ao local do "crime". O primeiro é de matriz madeirense e o segundo de marca açoriana.
O da CDU, como seria de esperar, tem cunho marcadamente partidário, mas é uma miscelânea em que se articulam mal a focagem madeirense e o contributo açoriano.
Nada continuo a poder adiantar sobre o programa do PP, porque a Internet e o site do PP, ora o geram ora o abortam! Hoje abortaram-no, mais uma vez. Que flutuante "barco do amor", me saiu este PP, nesta matéria!
Comecemos pelo caso do PSD.
Repete-se neste programa eleitoral aquilo que já aconteceu com a última revisão constitucional. O PSD dos Açores abdicou totalmente de qualquer posição própria, em favor da exclusividade da posição madeirense.
Esta triste situação, que subverte toda a tradição e percurso histórico das autonomias, que sempre foram, primeiro, pensadas e formuladas pelos açorianos, que sempre tomaram a dianteira no seu debate e sistematização, e eram, depois seguidos pelos madeirenses, é mais um dos lamentáveis fracassos da herança do actual PSD dos Açores.
O PSD de Victor Cruz não só está preso pelo cordão umbilical ao seu pai-fundador-dono-senhor Mota Amaral, o que o torna suspeito, ao mesmo tempo, a Santana e a Cavaco Silva, mas deixa-se comandar pelo primarismo ideológico do PSD da Madeira e pelo seu estreito quadro mental sobre a Autonomia.
A impressão digital do PSD da Madeira é mais que evidente em expressões como, o "PPD/PSD que, nas últimas décadas, demonstrou no governo de ambas as regiões"...
É evidente que só um texto escrito na Madeira, e mal corrigido por um funcionário qualquer do aparelho central do PSD, é que podia escrever uma frase dessas. A não ser que me convençam que o PSD dos Açores ainda pensa que esteve no poder... na última década.
Só da Madeira é que podem, igualmente vir referências à liderança das alterações constitucionais "de forma particularmente relevante na última revisão constitucional". Ou ao propósito de "completar a regionalização de serviços" ou à "linha de sempre de solidariedade com as Regiões Autónomas."
Qualquer uma destas miragens, só no indigente deserto intelectual e político madeirense é que podiam ter cabimento num programa eleitoral para vender a um eleitorado comandado há trinta anos pela forma mais castradora de pensamento único.
Pobre PSD-Açores, transformado em simples delegação do PSD-Madeira!
Quem te viu!... E quem te vê! Cada vez mais longe dos açorianos!

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