domingo, agosto 21, 2005

Era uma vez...Era para sempre...



Era uma vez uma terra pequena.
Uma terra pequena com dois grandes partidos.
Bem. Nunca se chegou a esclarecer, até hoje, se eram mesmo dois grandes partidos.
Ou se, apenas, acontecia outra coisa.
Por causa da ilusão de óptica própria das terras pequenas, habitualmente confundem-se os graus dos adjectivos.
O "maior" é tomado como sinónimo de "grande". E fala-se em grande, quando apenas se pretende qualificar alguma coisa como a maior, lá da pequena terra.
Exemplo.
As grandes festas do...São"seja o que for" ou do "Divino" seja o que for. Trata-se apenas de maneiras, pouco subtis, e de criação recente todas elas, para se acentuar a característica de deverem passar a ser "tidas e manteúdas" como as maiores lá da terra.
É o "arquipelagicamente correcto", a sobrepôr-se ao "gramaticalmente correcto".

Seja como for, o que é certo é que estes dois maiores partidos, apesar da pequenez da terra, que tende a anular as diferenças, acabavam por ser diferentes em muitas coisas.
Umas grandes e outras pequenas. Como "coisas" e como diferenças.
Exemplificando.
Só para concretizar. Não para esclarecer.
O primeiro destes partidos grandes-maiores, já nasceu grande (ou maior do que qualquer dos outros) .
É verdade.
Pode parecer estranho, a quem está habituado a ver o grande começar por ser pequeno.
Neste caso, foi ao contrário.
O dito partido nasceu mesmo grande. Depois, foi "minguando", claro. Há mesmo quem diga, que só um excesso de imaginação próprio das terras pequenas, é que levará algumas pessoas a dizer que ele ainda existe, com alguma visibilidade, para além do "trompe-l'oeil" congénito dos seus militantes.
Mas, então, esse partido, que nasceu gigantone, convenceu-se que devia ter a (pequena) sociedade lá da pequena terra - toda- dentro de si.
Até parecia lógico, não é?
Partido grande. Sociedade pequena.
Meter o pequeno dentro do grande-maior, até parece lei da natureza...
E depois, simplifica tudo. Para comandar e para incluir/excluir.
Para comandar, basta um. Os restantes, só tem de curvar-se e seguir... curvar-se e seguir...(repetido muitas vezes, resulta sempre!).
Para excluir, também. Basta um sinal claro que identifique toda a gente. Um cartão, a cor de uma camisola, por exemplo! Quem tiver o cartão ou a camisola, não há que enganar, senta-se sempre nos bancos da frente! Quem não tiver, pode fazer a mesma viagem, claro. Estamos em democracia. Mas, nos bancos detrás, se houver! Ou vai a pé...
Já quase me esquecia do outro grande-maior partido.
Tal como aconteceu, com a sociedade lá da terra, durante 20 anos.
Este, claro, nasceu pequeno. Aprendeu, à sua custa, o que é estar sempre de fora. Nos bancos de trás. Ou a andar a pé.
Por tudo isto, pensou. Não vale a pena ter toda a gente dentro do partido o tempo todo.
Vamos deixar a sociedade e as pessoas crescerem por si próprias. Sem tutelas nem donos.
Nas alturas, em que precisarmos delas, vamos procurá-las.
Nem sempre é fácil ou agradável. Incomoda, os de dentro. E dá um ar de quem faz um favor, aos de fora, quando aceitam colaborar com ideias ou com o seu nome.
E assim aconteceu, durante anos e anos.
Mais, numas terras, lá da pequena terra, que noutras! Com umas pioneiras nesta prática. Outras mais renitentes.
Mas manteve-se, sempre, como tendência, ou regra aceite e praticada.
Imagine-se que, numa delas, até aquele que havia de acabar por ser o grande líder do partido, teve de fazer um longo tirocínio, num modesto segundo lugar, nas listas da sua terra.
Mas, digo bem. Manteve-se.
Porque, se olharmos para as listas autárquicas, que estão a medrar neste verão ameno, de pouco sol e muita erva, até no caso das terras pioneiras na regra, hoje, nem terceiras sequer parecem.
Até se diz, que conservar um independente como cabeça de lista, para as funções executivas mais importantes, foi dificílimo.
E os nomes cimeiros de funções não executivas revelam uma grande valorização da velha prata(?) da casa.
Até cargos que são meramente simbólicos, como o de mandatário, que, até aqui, sempre servira para dar uma nota fácil de abertura à sociedade, foram açambarcados por pesos pesados da casa.
O que mais pode incomodar é que exactamente o mesmo, acontece, nestas autárquicas, no outro partido que nasceu gigantone!
Simples coincidência? Meros acasos de conjuntura social ou política?
Ou, afinal, os dois maiores-grandes partidos lá da terra, estão transformados, pela lei de ferro do exercício do poder(?) e pela lei da conservação (fora do poder) dos vícios do poder, em falsos irmãos gémeos que se ignoravam?
O que é que devemos pensar?
Que a "pequena (grande) diferença" volta já!Ou que se perdeu, em definitivo, nesta curva do caminho da história da política lá da terra?
Era uma vez.... Ou, uma vez, vai acabar por ser... Era para sempre...

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