quinta-feira, agosto 25, 2005

A Lógica Jornalística...

Ou

A Cada Um, O seu "Bei de Tunes"






A lógica jornalística deve ser um ramo à parte da “velha” Lógica, que costuma figurar como capítulo preliminar em todos os manuais clássicos de filosofia.

Uma variedade mutante ou rara que, apesar de alguns anos de deambulação por tais paragens, nunca consegui descortinar.

Vejamos um exemplo tirado do muito regional e local Diário Insular.

Pode ser mesmo o jornal de hoje.

A primeira página, com a sua habitual primeira coluna dedicada à reflexão de grande fôlego, é alarmante.

Volta ao seu “Bei de Tunes”privativo. A Base das Lajes. De que traça um retrato de puro “Far-West”.

“Sem lei”, é o título.

A “ausência total de Estado de Direito”, é o mote.

Os norte americanos, "que já se dão ao luxo de nem invocarem as cláusulas do acordo para abolirem os postos de trabalho que muito bem entendem”, os maus da fita do costume, "acolitados" por uns "vilões" de segunda categoria que dão pelos nomes de EDA e comando militar.

O final. Um dramático “grito de Ipiranga”:“O estado de Direito tem de ser imposto nas Lajes”.

Confesso que abri a terceira página do jornal, com o espírito receoso de quem leva o suspense “Hitchcockiano” muito a sério. Entre o temor e o tremor.

E lá estava. Estampada na redonda letra dos factos e na conspícua letra de imprensa, a dura e execrável realidade.

Qual era?

Cerrem os dentes, apertem os cintos e preparem-se para “aterrar” neste cenário de horror:

Um clube de oficiais que vai ser privatisado.

A sua exploração que vai ser entregue a firmas locais, porque os militares americanos entendem que são “especialistas em matéria militar (…) mas não no ramo da restauração. Daí quererem entregar este serviço a especialistas”, que serão empresas da ilha, que foram convidadas a tomar conhecimento das condições de exploração.

21 empregados colocados perante a opção “dramática” da reforma antecipada ou a escolha de outros postos de trabalho, mantendo a remuneração actual e recebendo prévia formação adequada.

É simplesmente "aterrador", de facto!!!

Como diria o outro perante as câmaras da televisão: A tragédia!!! O horror!!! O drama!!!

Mas também parece evidente estarmos perante um modelo de “deslocalização”, nos antípodas das deslocalizações ultraliberais e “americanizadas” que todos as dias acontecem pela Europa fora.

Até parece um "far-west" para menores de 12 ou mesmo de 6 anos. Com fins pedagógicos. Tomára nós todos, "far-westes", destes, aos milhares por esta região e país fora.

Como é lógico, o facto evidente escapa à “argúcia” jornalística da reportagem do DI.

Talvez para compensar, neste momento, entram em cena dois personagens, que até parecem de outro filme.

A EDA e o Comando português da Lajes.

A EDA, com a acusação de “que extingue emprego nas Lajes”, em consequência do contrato de fornecimento de energia à Base, que, como é lógico, (segundo a outra lógica que rege a vida e a filosofia, mas não as páginas dos jornais) leva ao encerramento da central eléctrica, que os americanos mantinham para abastecimento da Base.

Como se vê, total desrespeito da EDA, pelo Acordo das Lajes. Devia, no mínimo, ( na tal lógica jornalística) fornecer ou pagar a "cera"que esses trabalhadores, (sempre segundo a tal lógica cómico-jornalística) que esses trabalhadores "a título póstumo" deviam ficar a fazer, por toda a eternidade.

Finalmente, o comando militar português, que recusa a renovação do documento de entrada na base , a um trabalhador, a quem o Tribunal deu razão em processo antigo de despedimento, com o argumento “de que os norte americanos tinham recorrido da sentença”.

Pelo meio deste cenário “dantesco”, outras pérolas "jornalísticas", como a afirmação literal de os americanos se estarem “cagando para a sentença”.

Em tempo. É caso para dizer. Em pura lógica (daquela que não cabe nos jornais). Ou bem que “cagam” ou bem que “recorrem”. Ou ainda de forma mais directa. Se recorreram é porque não se “cagam”. Ou, então, se "cagassem", não recorriam.

Resumindo e concluindo.

Os americanos não invocam a letra do Acordo, porque não parece que tenham de fazê-lo para nenhum dos factos deste cenário de “hollywoodismo” jornalístico.

O jornal é que o invoca. Mas em vão. Porque o faz como um mero pressuposto e não como um argumento fundamentado.

Observação final.

Foi com este tipo de interpretações e visões, que algumas instâncias "representativas" conseguiram o “milagre” da sua auto-extinção, perante a aparente indiferença dos "representados".

Esperemos pela hora em que o mesmo aconteça a este tipo de “jornalismo"

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