quarta-feira, março 01, 2006

Comportamentos “deslocados”...



A noção de “comportamento deslocado” é uma daquelas noções que, ao contrário da tendência normal de antropormofização na explicação dos comportamentos, passou do âmbito dos estudos do comportamento animal para a explicação de alguns comportamentos humanos.
Todos nós já observámos animais que, num momento de grande tensão ou conflito, súbitamente adoptam um comportamento sem qualquer sentido naquele contexto.O exemplo mais corriqueiro (era) é o dos galos que, no meio de uma luta feroz, resolvem começar a esgravatar e desatar a comer.
Comportamento completamente “deslocado”, porque o problema de qualquer deles, naquele momento, não é a fome.
Como é “outro,” o problema daquelas mulheres que, na televisão, por exemplo, passam, mecanicamente, a mão pelo cabelo para arranjar o que não está desarranjado ou os homens afagam a barba ou o bigode que não têm.
Vem isto a propósito (ou despropósito) destes tipos de comportamentos parecerem ter passado para a politica internacional, nesta hora de inusitada tensão entre países árabes e países europeus.
Parece que, finalmente, se começa a perceber, de ambos os lados, que são necessários gestos, mesmo que de conteúdos notoriamente “deslocados”, mas que, pelo menos, aliviem a tensão.
Mesmo que não sirvam para nenhum outro efeito.
E até, objectivamente, aumentem os perigos reais (ou supostos) que pretendem atenuar.
Que outra coisa se há-de dizer destas palavras do Ministro dos Negócios Estrangeiros do Irão, sobre o acordo com a Rússia, para o ambicionado enriquecimento do seu urânio?
“O ministro iraniano dos Negócios Estrangeiros, Manouchehr Mottaki, reiterou que Teerão, que insiste que o seu programa nuclear "é só para gerar electricidade", não renunciará ao enriquecimento de urânio no seu território, embora as conversações com Moscovo para que esse processo se desenvolva em solo russo possam reduzir as dúvidas internacionais. [Link]
Toda a gente percebe que o Senhor Ministro não(?) está a provocar o Ocidente para qualquer novo episódio de uma “caricatura”de uma qualquer guerra cultural ou religiosa.
Claro que não!
Como os galos do combate, está apenas a tentar encher o papo com mais alguns grãos de urânio, para acrescentar àqueles que pretende continuar a produzir no seu território.
Mais urânio e menos dúvidas!
Que astúcia comportamental, mais eficazmente “bem” deslocada!

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