É o minimo que se pode dizer do discurso de Paulo Portas, ontem.
- Pelo folhetim preparatório dos sucessivos anúncios, adiamentos e reanúncios.
Que vêm de muito longe.
Pelo menos desde a sua aparição e realce inesperado, em jantar natalício, promovido pela principal estrutura de qualquer partido na oposição: o Grupo Parlamentar do PP.
Acrescente-que, num partido de quadros e de rarefeita implantação social. como é o PP, ser "dono" do grupo parlamentar é ser "dono" da imagem pública de um partido. O que é quase tudo o que um partido como o PP, na oposição, pode ter. - Pelos cenários escolhidos.
Digo cenários, porque foram dois:
O Centro Cultural de Belém, em primeiro lugar.
A sala do CCB escolhida., em segundo.
Esta só podia ser a mesma em que começou a última corrida vitoriosa da direita portuguesa: a candidatura de Cavaco Silva à Presidência da República.
Assinale-se, desde já, que, com este cenário, Paulo Portas envia dois sinais àquele que ele julga ser o seu eleitorado (virtual, pelo menos). Que PP começa uma corrida que, para além do Largo do Caldas, visa Belém.
Que é ele quem virá concretizar as esperanças mais inconfessadas mas mais profundas que a direita portuguesa personalizou em Cavaco Silva e que, hoje, vive em desilusões mal contidas, pela colagem presidencial a Sócrates.
3. Pelo pouco que disse, pelo muito que subentendeu e ainda mais pelo que insinuou.
4. Por tudo isto, foi mais do que um discurso, foi um tiro de aviso.
- Para Ribeiro e Castro?
Não. Nem nele falou. Nem precisava. Portas não falou para quem (ele julga) que nem sequer chega a existir como obstáculo real. Ribeiro e Castro não passa de um acidente no percurso de PP. Mero acidente. E apenas pelo lugar que ocupa. Não pela pessoa que é.
Para o CDS?
Também não. O CDS é apenas um instrumento. O seu instrumento. O seu trampolim. Já o foi. Para tornar verosímil aquela pose de Estado que ele nunca mais despiu desde que exerceu funções ministeriais. E há-de voltar a ser. Para lhe graduar esta pose, de ministerial, em presidencial.
Para Sócrates?
Apenas para lembrar dele, aquilo que a direita que ele visa não encontra em nenhuma das suas actuais lideranças. A determinação. A segurança. A definição de rumos e metas precisas.
Afinal, Portas fez o discurso perfeito para quem?
Para aquela direita profunda, sociológica e que diriamos portuguesmente secular, que já não se revê totalmente na sua última vitória (a de Cavaco) e que, neste momento, ainda está "lambendo" as feridas da sua última grande, enorme derrota ( para ela, a mais inesperada e traumatizante de todas as derrotas até hoje sofridas, porque mais cultural do que política) do referendo ao aborto.
É desta direita que PP se quer o D. Sebastião.
É para ela que PP pretende trazer os segredos mágicos da sua Arte do Estado. E para quem, até hoje, ele esteve falando da tribuna televisa do seu Estado da Arte.
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