Há flagrantes da vida do nosso tempo que são mais instrutivos do que longos discursos, debates ou grandes discussões sobre um tema.
No caso em apreço, o flagrante é um "zaping" televisivo da noite de ontem, que me levou a um dos muitos programas das nossas televisões, com nomes bélicos (trio de ataque, no caso), e que, em sapientes grupos de três "experts," dissecam, implacavelmente, os males, passados presentes e futuros, do nosso futebol.
Na altura que entrei em "campo", Oliveira e Costa, conhecido responsável e apresentador de uma empresa de sondagens, falava de um relevante acontecimento não-desportivo que marcara a semana-desportiva anterior.
Refira-se, a talho de foice, que esta também é uma das mais notórias características do nosso inigualável mundo do desporto. As grandes questões em debate mediático no mundo do desporto raramente são de âmbito desportivo. A não ser que se circunscrevam às minudências televisivas dos erros dos árbitros contra algum dos três grandes, são declarações ou factos, que nascem nas páginas dos jornais, para nelas morrerem na semana seguinte, depois de acalorados e emocionantes duelos verbais entre personagens, que saem e entram na discussão, como actores num palco.
Mas qual era, então, o grande acontecimento que Oliveira e Costa, em cenário de fundo verde, na sua qualidade "televisiva" de sportinguista (por vezes até a gravata do "expert" também é da apropriada cor clubista) destacava na semana?
A revelação do verdadeiro "segredo de Fátima", desculpem, de um dos últimos dos grandes segredos deste transparente mundo futebolístico português.
A revelação, primeiro estampada na internet, depois com repetição exaustiva em toda a comunicação social, dos vencimentos dos jogadores do Sporting.
Sobre este facto fazia ele o seguinte raciocínio:
Em todos os tais grandes clubes portugueses de futebol, este é um segredo tão bem guardado, que, nem sequer, é do conhecimento de todos os membros das próprias direcções dos clubes.
Este segredo, até hoje mantido em inviolável reserva por todos os clubes, como é que, só no caso do Sporting, acabou nas páginas dos jornais?
Dedução de Oliveira e Costa:
Porque, em razão de um conflito, que, só indirectamente, envolveu o Sporting, mas se originou num diferendo entre um jogador do Sporting e o seu empresário, os vencimentos dos jogadores do Sporting chegaram ao conhecimento da justiça portugesa.
E esta só poude fazer aquilo que mantém como regra para todos os segredos de justiça: conseguiu fazê-los chegar à comunicação social.
Oliveira e Costa acrescentava que não tinha qualquer dado concreto, que lhe permitisse tirar esta conclusão, mas era a única que considerava plausível para o estranhno e inusitado acontecimento.
Penso que Oliveira e Costa, neste caso sem precisar de sondagens, nos fez um dos mais implacáveis e realistas retratos da imagem negativa que a justiça portuguesa tem, junto da generalidade dos portugueses.
Não só se revela incapaz de os defender, a tempo e horas, no exercício dos seus direitos, mas ainda os consegue privar daqueles que ela própria deve respeitar na sua actuação.
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