Ou
O Último Retrato do último URO (Touro Primitivo)
É aqui que vai aparecer Leibniz.
Em 1712, escrevia ele a um seu correspondente:
”Não vi ainda a nova edição de Júlio César, mas fui eu que enviei aos editores o retrato do urus, porque interessei o rei da Prússia em que o mandasse fazer do natural, sobre o exemplar de urus, que ele tem em Berlim.
O urus de que Júlio César fala não é um urso, mas uma espécie de touro de um tamanho e força extraordinários; em alemão chama-se auerochs”.
Como salienta Ortega, as informações desta carta tem interesse por várias razões.
A primeira, em razão da própria imagem do animal que lá está.
Tem todas as probabilidades de ser o último retrato autêntico do último uro ou touro primitivo, de que descendem, segundo Ortega y Gasset, todos os bovinos, bravos ou domesticados, da Europa.
Em segundo lugar, porque as informações existentes, até à descoberta desta carta, davam notícias de que o último exemplar de uro – uma vaca, por sinal, - teria morrido em 1627.
A informação de Leibniz permite situar este desenlace nos começos do século XVIII.
Permite-nos também constatar, como diz Ortega, que “O (touro) primitivo – reproduzido na imagem - era muito maior que o mais corpulento dos nossos touros (espanhóis).
Quanto ao pêlo (…) o uro adulto era negro com uma lista branca em toda a coluna vertebral, às vezes castanho-escuro. Vitelas e bezerros eram mais claros, chegando quase ao castanho muito escuro.”
Finalmente, duas questões mantêm-se por explicar.
A primeira é de carácter cultural.
Como é que se explica que, tendo havido exemplares vivos de uros até ao século XVIII, reproduzidos em gravuras e descritos na literatura técnica, a que toda a Europa tinha acesso, persistiram e dominaram na cultura europeia as descrições mais fantasiosas deste animal.
Como diz Ortega “o esplêndido animal converteu-se num mito entregue à livre fantasia, e, como todo o mito, generoso em metamorfoses.
Uns imaginavam-no como um bisonte, outros como um búfalo e, em seguida, não poucos, o aproximavam das feras que nada têm a ver com os bovinos”.
A segunda questão é de carácter histórico científico.
As conclusões do estudo que referi no Epigrama, confirmam ou desmentem a seguinte categórica afirmação de Ortega y Gasset?
“A presença desta figura (do uro) aclara inteiramente a questão do nosso touro bravo.
É este, com toda a evidência, o descendente directo do uro ou auerochs.
O único elo intermédio que acaso houve é a forma quaternária do uro, que era de tamanho um pouco menor e teve a sua expansão na Mesopotâmia e no Norte de África”.
As conclusões do tal grupo de geneticistas parecem inclinar-se para a ideia de que o verdadeiro antepassado dos actuais bovinos do sul da Europa, seja esse "elo intermédio", vindo do norte de África.
O que parece certo é que, mais interessantes ainda do que estas considerações sobre o touro primitivo, são as subtilíssimas observações de Ortega y Gasset sobre o toureio e as touradas.
É o que poderá confirmar (ou não) proximamente.
domingo, maio 14, 2006
Dois Filósofos e os Touros (II)
Publicada por Dsousa à(s) 11:56 da manhã
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário