Ao contrário de muitas outras pessoas, sempre fui muito reticente em acrescentar aos três "Dês" do 25 de Abril, este "D" da Desilusão.
Os melhor informados sobre os objectivos oficiais proclamados pelo Movimento das Forças Armadas que desencadeou o 25 de Abril de 1974, sabem que eles se costumavam resumir em três "Dês".
O D de Democracia .
O D de Desenvolvimento.
O D de Descolonização.
Como também todos sabemos, nunca faltaram pessimistas de todos as cores e feitios para acrescentarem a cada um destes "DÊS", o" D" de Desilusão.
Ou porque querem "outra" democracia, que não a representativa e parlamentar.
Ou porque não querem nenhuma forma de democracia.
Ou porque querem "outro" tipo de desenvolvimento e, em vez de tentar torná-lo claro e aceitável junto da população, se limitam a exorcizar, com mais retórica do que convicção, o pouco ou muito, que conseguimos.
Ou porque acham que o desenvolvimento que temos já é desenvolvimento a mais, por ter encerrado e enterrado o saudoso regresso ao passado com que sonharam.
Ou porque acham que a Descolonização feita, não correspondia àquela que cada um projectava na sua imaginação.
Ou porque ela, de facto, não correspondeu, sequer, ao modelo teórico que o próprio MFA prometia.
Ou, simplesmente, porque nunca devia ter havido qualquer descolonização, seguindo a velha doutrina do "Estado Novo".
Mas fosse qual fosse a corrente de opinião que cada um seguisse nesta matéria, Timor conseguira o consenso de todos os portugueses, como o modelo que resgatava todas as falhas históricas, imaginadas ou reais, de todas as outras descolonizações do Portugal pós-Abril.
Apenas passados quatro anos, sobre esta descolonização modelar,
votada,
referendada,
apadrinhada,
abençoada,
pelo poder civil,
militar,
nacional,
internacional,
somos, brutalmente, acordados
para a desilusão de constatar:
que um major ambicioso com umas escassas dezenas de soldados;
que a ausência de uma liderança clara, consensual e efectiva;
que a retirada apressada das forças internacionais de apoio e ajuda;
que alguns interesses obscuros que, porventura, se movimentem nos bastidores de todas estas falhas;
que instituições democráticas que, só por si, não conseguem vencer preconceitos e conflitos ancestrais;
que o silêncio da Igreja timorense (única liderança reconhecida por todos os timorenses);
Tudo isto, e mais outras questões, que o tempo, decerto trará à luz,
nos retirou o último pedestal que nos restava, para nos continuarmos a rever na estátua da nossa capacidade,
única entre todos os povos,
de realizar uma,
pelo menos uma,
descolonização modelar;
que nos permitisse continuar a pensar
que, no caso de Timor, tinhamos conseguido,
ao mesmo tempo,
Descolonizar, com oportunidade
e
Democratizar, com solidez.
Quarto Crescente em estreia e felicidade
Há 6 horas
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