terça-feira, outubro 03, 2006

O sindicato que não gosta de cães

Parece-me a única novidade a retirar da violenta polémica que está a opor o SMMP(Sindicato dos Magistrados do Ministério Público) a alguns directores de jornais.
Parece que não gosta, nem de cães de guarda, nem de cães que ladram.
Mas este é um problema que alguma associação especializada mais imaginativa poderá vir a resolver no futuro,
criando um raça canina alternativa, que não guarde nem ladre, para tranquilidade do intranquilo sindicato.
O mais difícil de conseguir, numa sociedade democrática, é que jornais e seus directores não opinem sobre percursos tão controversos e singulares como os do Procurador Geral que sai e do Presidente do Conselho de Magistratura que entra.
O primeiro, porque continua a mostrar, até ao último suspiro público, que seis anos no cargo não chegaram para ele próprio perceber a razão da teia de incongruências, incompetências e passos em falso, em que se deixou enredar.
O segundo, porque mostra, desde a sua primeira preocupação, manifestada ao chegar ao cargo, com a aspiração corporativa de conseguir representação no Conselho de Estado, que as aspirações da classe continuam a prevalecer sobre as preocupações com a administração da justiça.
Saliente-se ainda a originalidade do recurso, num comunicado sindical, à mais, pretensamente, elevada erudição literária para descer ao mais baixo insulto pessoal.
Para o efeito, estragar o nome de duas figuras da literatura de dois países é um luxo verdadeiramente asiático.


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O sindicato lembra que já num seu ensaio Paul Nizan caracterizava a comunicação social do seu país [França] como "Os novos cães de guarda". E explica: "Conhecendo-se as ligações e dependências económicas, familiares e políticas de directores de jornais e televisões e dos seus principais jornalistas e comentadores (...), não nos podemos espantar com o uniforme e militante sentido ideológico da mensagem veiculada pela maioria desses órgãos de comunicação."

A direcção termina o seu editorial com a citação de um poema de Félix Cucurull: "Não me engraxem os sapatos nem me cortem o cabelo (...) A esmola dava-me volta ao estômago e deixava-me um gosto amargo na boca (...) Porém rejeito o preço que me querem impor estes homens que ladram pela boca dos seus cães."


DN Online Sindicato de magistrados compara directores de jornais a cães de guarda

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