terça-feira, janeiro 02, 2007

Ditadores "made in America"

O meu primeiro passo na blogolândia, em 2007, tinha de ser sobre esta diferença que o ano que passou não conseguiu retirar-me, nem, da retina, as suas imagens, nem da cabeça, o contraste do seu desenlace final.
A existência de dois tipos de ditadores.
É o que os americanos acabam de tornar institucional como herança de 2006.
Os ditadores que os americanos protegeram, apoiaram, financiaram, armaram e utilizaram para defesa dos seus próprios interesses ou para exorcizar os seus próprios medos e preconceitos.
Estes ditadores conseguem morrer na cama.
Pinochet é o modelo perfeito.
Perfeição que essa proteção norte americana conseguiu levar ao extremo de o imunizar de forma a que ele fosse resistindo às malhas que o sistema judicial do seu próprio país e da comunidade internacional lhe foram tecendo.
Pinochet morreu devagar.
Pela força da lei da natureza.
Pinochet morreu impune.
Pela fraqueza da lei dos homens.
Enterrou-se sem honras de Estado,
mas com honras militares,
pela rara e pouca força,
que o Estado chileno conseguiu
ter contra ele.
E pela muita e perigosa força
que o exército chileno
continua a ter contra o Estado.



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O outro tipo de ditador é o que morre na forca.
Que é julgado rapidamente.
Condenado rapidamente.
Executado rapidamente.
Transportado rapidamente,
pelos americanos,
para o local da execução.
Transportado rapidamente,
pelos americanos,
para o local do enterro.
Tudo isto, furtivamente,
antes do nascer do sol,
procurando transmitir ao mundo,
apenas as imagens
quase-holioodescamente convenientes,
dos acontecimentos.


Tudo leva a crer que,
mais uma vez, a administração-Bush meteu "a pata na poça" no aloleiro do Iraque.
Porque o enforcamento de Sadam Hussein, nas circunstâncias expeditas e furtivas em que ocorreu,
ou foi inútil ou foi perigoso.
Inútil, se Sadam, como parece, já estava politicamente morto.
E a sua morte será apenas mais um pecado ou erro cultural e civilizacional dos americanos.
Perigoso, porque o inútil vivo só poderá ser transformado em herói morto, por uma razão.
Por ter sido morto, em especial ao olhar do mundo muçulmano, pelos americanos.
E, então os americanos acumularão o erro cultural com o erro político.


Nota (quase) final.
Não escrevo estas reflexões com a pretensão de que elas tenham especial interesse para quem, porventura, as leia.
Mas porque um blogue também é (ou é principalmente) um meio de esconjurar fantasmas que nos atormentam.


Nota (mesmo) final.
Teremos de concluir que os americanos, quando fazem intervenções militares com a desculpa de expandirem ou defenderem a democracia, só conseguem fazer vingar o pior da cultura do Ocidente.
Estes dois exemplos bem nos podem levar a esta conclusão.
No caso do Chile, a ditadura.
No caso do Iraque, a pena de morte.

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