quarta-feira, setembro 21, 2005

A Alemanha, "Idiota Político"


Pelo menos, era isto o que pensava Stefan Zweig, quando, em 1925, escrevia a Romain Rolland:

“Esta Alemanha bursátil, falida, país onde o protestantismo, o socialismo, o nacionalismo perderam a sua atracção moral, tem sede de crer, de embriagar-se por qualquer coisa.
Que país! Inteligente, ardente nas artes, poderoso nas ciências e idiota em política”.

Não sei se Stefan Sweig tinha inteira razão quando escreveu esta frase impiedosa.

Não sei se continua ou não a ter razão hoje.

O que sei é que a Alemanha está a caminho de ser vítima de duas das maiores adversidades que podem acontecer a uma democracia.

A primeira das adversidades é acabar de sair de umas eleições que não conseguiram definir um vencedor claro.

E já nem sequer me refiro a um vencedor que fosse qualquer dos dois maiores partidos que têm alternado no poder na Alemanha. Isto é algo que se tem revelado quase impossível com o actual sistema eleitoral alemão, que, pelas suas características, tende a criar um pequeno “partido-charneira” à esquerda e à direita dos dois maiores partidos.

Assim, as eleições na Alemanha acabam por não se destinar a escolher partidos mas são para “ditar” coligações. Muitas vezes, nem sequer previamente apresentadas como tais ao eleitorado.

É dentro desta lógica que Schroeder diz que “ganhou” as eleições.

No mesmo sentido se pode dizer que Merkle e a CDU/CSU( que já é, ela própria, uma coligação pré-eleitoral) perdeu duplamente as eleições. Como partido e como coligação governativa sustentável.

É claro que, com o “vício” do negocismo que reina na política europeia ela pode tentar uma negociata qualquer…à esquerda.

Mas poderá haver pior resultado para a credibilidade dos sistemas partidário, eleitoral e democrático em geral, do que estes escuros e obscuros negócios de valores e de ideias, a pretexto da necessidade de assegurar a governabilidade?

Apesar de tudo, acho que ainda se pode criar outra situação mais prejudicial para a credibilidade e a imagem do funcionamento do sistema democrático.
A chamada “Grande Coligação”. Que racionalidade é que pode manter aos olhos dos eleitores um sistema político, que transforma uma violenta disputa eleitoral (ainda por cima antecipada muito artificiosa e forçadamente pelo SPD com um voto de confiança oportunisticamente transformado em voto de des…confiança) na antecâmara de um casamento de conveniência entre inimigos de morte…24 horas antes do casamento?
Melhor do que a frase de Stefan Sweig para retratar a paradoxal situação pós eleitoral na Alemanha só mesmo a caricatura do jornal alemão. A Alemanha política mais parece uma "feira da ladra" de farrapos em segunda mão.

Sem comentários: