quarta-feira, setembro 28, 2005

Uma mulher para o século XXI?


Devo confessar que não pertenço ao grupo dos incuráveis optimistas que aguardam da presença massiva das mulheres na vida política, um factor determinante para a alteração de padrões de comportamento que, desde há séculos, vêm tornando a acção política, simultaneamente, a mais aliciante e a mais execrável das actividades humanas.
É verdade que haverá sempre uma margem para essa esperança, enquanto o fenómeno da presença feminina na política não se generalizar ou tornar dominante. O que, até hoje, não se verificou, em nenhuma sociedade e nem sequer em nenhum dos órgãos da democracia representativa.
Trata-se, porém, na minha opinião, de uma evolução que se impõe para corresponder à exigências da evolução social, e que já se generalizou e banalizou em todos os sectores da sociedade. A política é quase a única excepção, pelo menos nas sociedades e organizações, em que o direito “divino” não continua a relegar para os muito “geniceus” sociais a outra metade do género humano.
Vem esta conversa mole, como brasileiro diz, a propósito de eleições. Nomeadamente eleições presidenciais. Embora pudesse aplicar-se perfeitamente às autárquicas, que até talvez pudessem ser um domínio de eleição para o “assalto feminino”ao poder.
Não se costuma dizer que às mulheres, ao contrário dos “viciados” do poder que seriam os homens, interessa menos o poder, do que a consciência de uma missão a cumprir com o seu exercício?
Onde é que esse espírito de missão para a realização de tarefas muito concretas e com efeitos imediatos na vida das pessoas é mais evidente que nas autarquias?
Mas é para as eleições presidenciais portuguesas que eu pretendia chamar a atenção.
E para a ausência total de notícias sobre candidaturas femininas para a Presidência da República Portuguesa.
Confesso que acho estranho.
Particularmente, porque as próximas eleições para a Presidência me parecem, quase inevitavelmente, condenadas a um esforçado e complexo processo de sedução do eleitorado.
É certo que este aspecto poderá ser apenas uma variante mais acentuada da tendência geral para a personalização de todo o tipo de eleições. Mesmo nas que foram meticulosamnte montadas para, do ponto de vista jurídico, se tentarem fazer prevalecer as opções partidárias sobre as preferências pessoais em relação aos candidatos. Como é o caso das nossas eleições legislativas em sistema proporcional.
Mas é em eleições como as Presidenciais, que se corre o verdadeiro risco de elas se reduzirem a um combate entre dois estilos de sedução.
Um estilo que, por facilidade de catalogação, diria “feminino”. A sedução pela proximidade, pela familiaridade, pela convivialidade. Tudo isto combinado com um ar de paternalismo amigo. Enfim, “fixe”. Ou “phish”mesmo.
O outro com um ar mais “virilóide”. Mesmo “no phishing”, no sentido adaptado de que ser "fixe" devia ser mesmo proibido, em nome dos superiores interesses da nação.
Mas que é apenas a outra face da moeda da sedução. Pela distanciação, pela severidade, pelo ar professoral, pelo tom académico. Pela atitude de quem, só muito a custo e em jeito de vítima sacrificial, se resigna a apanhar o comboio do poder. Sabemos que é um estilo com um exímio praticante e muitos cultores e amiradores, na história recente de Portugal.
Para terminar, recordo apenas que os chilenos parecem ter descoberto uma encarnação, na aparência, muito mais ajustada àquele primeiro modelo de candidatura à sua presidência da República.
Trata-se da mulher que figura no cartaz acima e da qual se diz, na edição francesa do "Courrier International", do passado dia 22:
"L’empathie de la candidate est non seulement son plus grand atout électoral, mais aussi la facette la plus connue de sa personnalité. Son “caractère facile” lui permet de briller où qu’elle aille. Chaleureuse, elle sait s’adapter aux différents milieux. La relation face à face est l’une de ses grandes forces. Selon un homme de son entourage, elle trouve des alliés grâce à son contact direct et familier, très souvent en jouant cartes sur table".

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