terça-feira, setembro 20, 2005

"A sombra de um sonho"



"Apolo não desejava modificar a natureza do homem:
não queria divinizá-lo, como Deméter tentara fazer,
nem redimi-lo, como o cristianismo tentará fazer, com a morte de Apolo.
Só lhe interessava uma coisa:
que os homens reconhecessem a sua natureza e a aceitassem totalmente, sem reservas, ou limitações.
Eram miseráveis e efémeros, pareciam folhas:
ora se mostravam cheios de força, ora caíam, sem vida;
não sabiam compreender, nem ver;
eram “a sombra de um sonho”,
como dirá Píndaro, interpretando o espírito homérico.
Portanto, duas vezes irreais, duas vezes inconsistentes.
À mercê da hybris, cometiam actos inúteis, sem objectivo, temerários, e seriam sempre assim, porque era essa a sua condição e era esse o seu destino.
Na Ilíada e no Hino, Apolo nunca sorria.
Sorriu apenas uma vez, ao falar da miséria humana".
(Citati, Pietro, Ulisses e a Odisseia, Livros Cotovia, Lx. 2005, pag.23)

Sem comentários: