La victoire de l'Italie est celle du néant"
É como "vitória do nada" que alguma imprensa fala da vitória da Itália no campeonato do Mundo de futebol que terminou domingo, na Alemanha.
Habitualmente, o juízo da história costuma ser o juízo dos acontecimentos feito pelos vencedores.
Neste caso, são os vencidos que estão a tentar tudo para escreverem, ou melhor reescreverem, a história dos factos a seu modo.
Só que esta chamada "vitória do nada", com que os franceses se apressam a catalogar a vitória italiana sobre a sua selecção, se insere numa cadeia de muitos outros "nadas," que ensombraram este mundial, a começar pela participação francesa.
Comecemos, pelo último, e mais espectacular, "nada".
A brutal cabeçada de Zidane a Materazzi.
Em alguma outra situação semelhante, com outro pequeno ou grande ídolo do futebol, alguém assistiu a tão espectacular preocupação em indagar sobre os motivos ou as provocações que levaram Zidane àquele gesto?
Nem sequer noutro caso deste mundial, em tudo paralelo a este.
O caso da "patada" de Rooney em Ricardo Carvalho, no Portugal Inglaterra.
Não ouvi ninguém preocupar-se, em tentar perceber se o comportamento condenável do jogador inglês tinha a sua motivação e desculpa no "antijogo" do defesa português.
É claro que a imprensa inglesa tentou outro caminho para conseguir também a sua vitória do "nada" contra os factos.
Tratou de procurar um bode expiatório para a expulsão do seu Rooney.
Cristiano Ronaldo era o alvo mais à mão.
E aí está ele enredado numa teia que pode acabar por dificultar-lhe gravemente o seu futuro.
E porquê?
Porque, mais uma vez, os vencidos tentaram moldar os factos à imagem dos seus heróis.
Deixem-me apenas chamar a atenção para mais duas atitudes gaulesas, que também parecem revelar que nem tudo vai bem no reino das convicções desportivas francesas.
A primeira, é ainda do "grande" Zidane.
Como é que se explica que Zidane se tenha dado ao desplante de não comparecer na cerimónia de atribuição de medalhas à equipa vencida?
Só pode ter sido porque se quis furtar à humilhação pública do reconhecimento da derrota.
Mas, pergunto, isto não faz parte inseparável do desportivismo mais elementar?
Não andará por aqui a explicação para o gesto de Zidane sobre o defesa italiano?
Não creio que a raiz da explicação para o comportamento de Zidane se deva procurar nas palavras de Materazzi, por pior que elas tenham sido. Estarão, antes, no próprio Zidane e na sua própria auto-imagem de herói/semi-deus dos Estádios, acima das regras dos vulgares mortais que apenas praticam desporto.
A outra atitude é do treinador da selecção francesa, ao recusar associar a população francesa aos triunfos e derrotas da selecção, com o desfile nos Campos Elísios, como, desde sempre, esteve previsto, independentemente da classificação conseguida.
Note-se que as restantes equipas que disputaram os quatro primeiros lugares, todas fizeram isso.
Até os Alemães, que, por jogarem "em casa", seriam aqueles que teriam mais razões para se lamentarem e desgostarem do 3º lugar conseguido.
Mas, não. Foi o sobranceiro Domenech que recusou desfilar perante o seu povo apenas com o segundo lugar.
Acho que são muitos pequenos " nadas," a reclamarem urgente reexame dos pressupostos que parecem estar a (des)orientar os grandes senhores do desporto francês.
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