Chegam com atraso de dois dias, a"Oventilhador" as comemorações dos 30 anos da morte de Vitorino Nemésio.
E chegam com um dos últimos poemas que ele terá composto em vida.
No Sábado, dia 26 de Novembro de 1977.
Pelo menos, assim foi apresentado no n.º5 e 6 da revista "Raiz e Utopia" referente à Primavera/ Verão de 1978.
Há uma pequena curiosidade à volta deste poema.
É apresentado como inédito na capa e no índice da revista, mas, ao contrário de um poema de Jorge de Sena publicado na página anterior, esta indicação é omitida na página da sua publicação.
Mas, rigorosamente inédito ou não, é certo tratar-se de
UMA DAS ÚLTIMAS POESIAS DE VITORINO NEMÉSIO
Tenho o mundo na mão pela manhã,
À noite lançam-me ao mar com ele aos pés
Tais os que morrem a bordo a meia viagem
E todo o meu dia é uma luta
No perpétuo e estúpido bulício:
A minha funda é o cilício
Do que fui incapaz aspirando a santo em menino.
Assim vivo doente, enérgico à força e peregrino.
Oh como é bom e triste ser um velho espantado
De ainda há dois anos parecer gente por inteiro:
Mas quanto a Morte é mais vizinha
Mais mortos vêm como grão apurado ao celeiro
E até a luz eléctrica macaqueia a luz perpétua,
Os ausentes acodem à nossa alma
Na secura da nossa solidão.
Eu agarro-me à vida como à palmeira a palma
Mas sei amar a Morte que me espera no chão.
(Sab. 26 de Nov. 77)
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