sexta-feira, fevereiro 15, 2008

Uma declaração contra o voto

Hoje, 15 de Fevereiro de 2008, poderia ser um grande dia para o PS-Açores.
Hoje, 15 de Fevereiro de 2008, poderia também ser um grande dia para mim, militante 136994 do PS, desde 23.01.1984, e com quota paga do 2º semestre de 2007.
Grande dia para o PS-Açores, porque vai ter, pela primeira vez, o acto da eleição directa do seu líder.
Grande dia para mim, porque iria exercer, mais uma vez, um direito que tenho vindo a exercer em todos os actos eleitorais, partidários ou públicos, desde 1975.
Quanto ao PS-Açores, o acto terá sempre a importância histórica de ser o início dessa nova etapa de eleição directa do líder.
Mas será apenas isso.
E já sabemos que, sendo apenas isso, estando apenas reduzido à nova forma da eleição do líder, pouco significa.
Já o sabemos, por outros exemplos de eleições directas, com níveis de participação catastróficos.
No próprio PS nacional, já houve antecedentes destes.
Recordo uma eleição directa de Guterres, com um índice de participação que, em vez de contribuir para uma mais clara legitimação do líder, apenas ganhou relevo pela confrangedora indiferença das bases, perante esse acto meramente formal de legitimação.
Melhor o sabemos ainda, pelo exemplo recente do PSD-Açores, em que a participação dos militantes na eleição directa do seu líder regional foi em números semelhantes àqueles que se tinham verificado na eleição do líder nacional. Creio que a superar os 70% de abstenção.
Tudo isto, apesar de haver uma outra opção de liderança proposta aos militantes.
O que só demonstra que o problema das eleições directas não se coloca, principalmente, na existência ou não de alternativas pessoais de liderança.
Coloca-se, sobretudo, ao nível da existência ou não, de um partido dinâmico, activo, que se sente vivo e actuante, em que as pessoas se sintam participantes da tarefa comum de discutir e debater ideias e soluções para a sua vida e para a vida dos Açores, em que as estruturas sejam, por iniciativas apropriadas ou tradição, estimuladas, e "empurradas" mesmo pela liderança, para a participação e o debate, fazendo dos partidos laboratórios de ideias e de confronto sadio de soluções e não apenas os burocráticos sucedâneos das Comissões Democráticas Eleitorais dos tempos da "velha senhora", e que, for força da lei, só podiam ter existênca e vida pública activa, nos períodos de campanha eleitoral e, depois, eram obrigadas a hibernar até ressurgirem no próximo momento eleitoral.
Não será um facto que, actualmente, a tendência é para ocorrer a mesma alternância de morte e ressurreição com os partidos?
É verdade que se trata de um problema que não é exclusivo do PS- Açores. Atinge todos os partidos. Atinge todo o mundo democrático. E é mais notório nos partidos que exercem o poder.
No caso dos Açores, não sei o que tem sido, realmente, tentado, pelas lideranças dos outros partidos, para contrariar este crónico e triste estado de coisas.
No caso do PS- Açores, sei muito bem que a sua actual liderança de mais de 13 anos, e exceptuados os períodos heróicos de 95/96 e anos imediatamente subsequentes, se tem limitado a promover iniciativas estatutárias sem concretização efectiva, e a fazer proclamações triunfalistas em sentido contrário, como as recentemente ouvidas em entrevista televisiva, para inverter esta situação.
É por esta crónica situação de funcionamente de um partido, mantido deliberadamente em estado de adormecimento e apatia que Carlos César é obrigado, de quatro em quatro anos, aos seus habituais golpes de rins mediáticos para o despertar artificialmente para a sua recandidatura. Repetiu-o, há poucos dias, em 2008, como já o fizera em casos anteriores.
Mas estes são outros contos largos que exigem outras largas considerações.

1 comentário:

Rui Caetano disse...

Sãos as contingências de estarem no poder. É como o PS Nacional. Mas nós cá na Madeira sofremos a autocracia do Alberto João...