terça-feira, outubro 18, 2005

As Autárquicas e...o "José Peseiro" do PSD-Açores

Neste Ventilhador, ainda não falei dos resultados das eleições autárquicas, nem nas regionais, nem nas nacionais.
Em bem rigor, nem seria necessário. Tanta é a especulação para todos os gostos que sobre elas tem sido feita. Mas parece que, mesmo assim, não serei dos mais atrasados a extrair conclusões delas. Ainda hoje lia que Victor Cruz está fazendo o mesmo. Mas para tirar a mesma conclusão de sempre. Aquela em que se especializou depois de cada eleição. Que está condenado a ser o “José Peseiro” do PSD-Açores. Condenado à demissão. Restando-lhe a ele, apenas decidir quando. Em vez do grande líder, o grande parêntese entre líderes.
A verdade é que o problema não é só dele. E, talvez, nem sequer, principalmente dele, mas do próprio PSD-Açores que não consegue desenredar-se do labirinto da incapacidade de constituir-se como alternância ou alternativa ao partido de poder em que, desde 96, se vem firmando e afirmando o PS-Açores.
É que, se Victor Cruz é o José Peseiro do PSD-Açores. O próprio PSD-Açores é o “PS-Madeira”dos Açores. Condenado, pelas circunstâncias sócio-políticas, em que se vive nos Açores, a ser o partido que não consegue recuperar, aos olhos dos açorianos, o estatuto de alternativa ao PS.
Porque não tem revelado a menor capacidade para formular alternativas para o destino dos Açores, nem como democracia nem como regime autonómico, nem em qualquer dos outros domínios.
Em todos eles tem-se revelado de uma ineficácia pungente. Desbaratando mesmo os créditos que lhe vinham do seu passado. Menos ainda, conseguindo acrescentar-lhe créditos do presente.
Recordemos dois casos paradigmáticos destes últimos tempos.
O caso da revisão do sistema eleitoral regional é um deles.
Era fácil perceber que a solução proposta pelo PS é que vingaria. Quer pelo seu mérito intrínseco, quer pelas maiorias absolutas que o PS detém na Assembleia Regional e na Assembleia da República.
O que restava ao PSD-Açores? Revelar-se útil para a única brecha que o sistema proposto pelo PS lhe deixava. A sua compatibilidade com o aumento ou a diminuição do número de deputados.
Ora o PSD de Mota Amaral e do próprio Victor Cruz vinham defendendo a diminuição do número de deputados. Bastava ter-se mantido fiel a esta perspectiva. Com o ambiente social propício a esta solução, seria quase inevitável o PS-Açores ter-se visto forçado a aceitá-la. Proporcionando ao PSD-Açores a oportunidade para exibir o troféu como seu principal promotor. Ao contrário disto, multiplicou as trapalhadas, desde o referendo interno até a propostas sem qualquer nexo.
Resultado. Em vez de um trunfo, mais um prego para o caixão do enterro político do seu líder.
Outro exemplo. O da revisão em curso do Estatuto da Região. Victor Cruz, recuperando ou não perspectivas passadas próprias do seu partido sobre o tema, em vez de procurar soluções para afirmação do PSD-Açores, prepara-se para o transformar no principal acólito do PS-Açores, na preparação da revisão do Estatuto.Fica feliz da vida com uma habilidosa proposta de Carlos César para lhe dar, no caso do Estatuto, aquilo que nunca lhe quis conceder na revisão do sistema eleitoral. Chamar o Estatuto para a responsabilidade directa dos presidentes dos dois maiores partidos. O que significa dar-lhe “um prato de lentilhas”, em troca do consenso que só serve a quem já detém o poder, não a quem precisa de afirmar-se como diferente para ter hipóteses de o conseguir.
E, agora, temos o “comedor de lentilhas” a sofrer de indigestão depois das autárquicas. E a pensar no seu modelo preferido de hara-quiri. A demissão, como fuga ao despedimento com justa causa dos açorianos, em próximas eleições regionais.
Por mim, tenho de acabar este post, mesmo por aqui. As autárquicas vão ter de esperar pelo próximo.

Nota extra. Diz-se que Costa Neves é nome falado para suceder a Victor Cruz. O cúmulo da ironia seria o líder “vitorioso” das autárquicas dos Açores ter como sucessor um dos grandes derrotados dessas mesmas autárquicas. O PSD-Açores está mesmo transformado em “casa sem pão” de autênticas vitórias sem sombra de derrota, como não foram estas autárquicas, nos Açores, para o PSD.

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