sexta-feira, outubro 21, 2005

A Poesia: Água de Deus?




O DIARIO INSULAR publicou, ontem, o texto da intervenção sobre Coelho de Sousa - O HOMEM QUE NÃO CABIA DENTRO DO PADRE - que o Professor Doutor Luís Fagundes Duarte proferiu na sessão comemorativa do 10º aniversário da morte do P.e Coelho.
Se é assinante do DI e se contentar com uma versão com algumas falhas (ontem estava mesmo truncada) daquele texto, pode encontrá-la no link do DI acima indicado.

Quem desejar ler todo o texto, em "posts", poderá vir a fazê-lo no Álamo Esguio.

Para abrir o apetite, deixo-vos a deliciosa história que encerra o texto de Fagundes Duarte e que mostra como Coelho de Sousa "respirava", "produzia","vivia" e "introduzia" teatro, poesia e religião, no mais banal quotidiano.

"E eu nunca esqueci uma história a que assisti, andava eu pelos meus 10-11 anos, entre um grupo de senhoras aqui de São Sebastião que tinham acompanhado o seu pároco, o Pe. Coelho de Sousa, à procissão dos Biscoitos.
Pouco antes de a procissão ter início, começara a chuviscar; e, na sacristia da igreja nova, uma das senhoras disse ao Pe. Coelho que tinha sede, que precisava de beber água. E então o Pe. Coelho, com aquela sua pose elegante e também um pouco teatral, que o caracterizava, virou-se para as senhoras e, de braços abertos, disse-lhes:

Ide, minhas pombas, ide até lá fora e abri o bico para o céu: A água de Deus vos matará a sede…

E eu, na candura da idade, logo imaginei um grupo de devotas senhoras a correr pela rua fora, de boca aberta voltada para o céu, a matar a sede com a água da chuva... Acho que foi esta a primeira vez, tirando as cantorias ao desafio dos nossos cantadores populares, como o Charrua ou a Turlú, que tive consciência de assistir à Poesia ao vivo.
E isso, quarenta anos depois, devo-o ao Pe. Coelho de Sousa, personalidade ao mesmo tempo fascinante e difícil de entender, com quem eu nunca tive o prazer da intimidade nem, sequer, de conversar.
Mas, pelo menos, tenho os livros que ele nos deixou, onde encontro as palavras adequadas, e que nunca morreram, para, a cada momento, perceber um pouco melhor aquilo que é a Vida. E as pessoas…"

Sem comentários: