Há cinquenta anos e dois meses, escreveu Coelho de Sousa estes três poemas ligados por uma mesma circunstância: as velas de um moinho em ruínas e a Vila das Velas.
O Moinho
Aos estudantes das Velas
Que não lhe digam nada...
Olhem-no só como um farol abandonado
Em terra de ninguém.
E deixem-no sonhar eternamente,
Além,
Naquele morro...
A mó do tempo triturou-lhe a vida
Como fosse grão.
Moeu-lhe em pó de estrelas
A ilusão
Das suas velas;
Rasgou-lhe, o abandono, o coração...
Agora é só ruinas a pedir socorro.
Pobre moinho, além, naquele morro!...
Alimentei palácios e tugúrios,
Pisei nas minhas mós o pranto e a dor,
Acalentei do mar os seus murmúrios,
E acendi no peito a vida e a dor.
Eu tinha a quem subisse a minha encosta
A graça do convite num sorriso.
Eu fui o Pão divino, em mesa posta
A quem demanda alegre o Paraíso!...
E hoje?... Eu nada valho, eu nada sou.
A sombra do passado que se foi;
Montão de pedras que se abandonou
Moinho já sem velas,
que não mói.
Oh! Velas
Veste de novo a tua graça antiga
Feita só da luz das caravelas...
Que não te falta o mar ao teu respeito,
Tens soma de luar em doce preito,
E muito além no céu, para vestido, estrelas.
Serás eternamente Velas,
Gentil, cheia de graça,
Se fores acender, além, naquele morro
As velas do moinho que a pedir socorro
A vida passa.
E não terás, então, ao sol e ao vento
Da tua gentileza e graça pura
Mais rico monumento
Para mostrar a quem te veja e queira.
Velas, querida Velas,
Acende esta fogueira.
Velas, 3-VIII-1955
Pe. Coelho de Sousa
Quem desejar conhecer as circunstâncias completas que rodearam a criação deste poema e as duas faces da sua história "pública" e "secreta" é só empurrar a porta do Álamo Esguio, aqui ao lado.
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