Não.
Não me parece que devam ser classificados
comos dois anúncios, iguais a quaisquer outros,
das centenas, que todos dos dias cogumelam
pelos jornais da região.
Lê-os.
E, depois, avalia.
Achas, que os podes considerar ao mesmo nível,
no conteúdo e na forma,
doutros anúncios que, todos os dias, formigam
pelas páginas dos nossos jornais?
Anúncios de carros em segunda mão,
terrenos e habitações para compra ou venda!
Não.
Não me parece que se possam equiparar
a nenhum desses.
Nota.
Uma primeira diferença genérica
seria o facto de a maioria desses outros anúncios,
a acrescentar aos anúncios de carácter oficial e público
( que transformam muitas das páginas dos nossos jornais,
em meros apêndices do Jornal Oficial)
representarem
a irrupção de novos comportamentos,
novas formas de chegar aos clientes,
para equipamentos também novos
( apartamentos, televisores, automóves, etc.)
introduzidos nas nossas ancestrais
formas de vida e relacionamento social.
Nestes dois casos,
parece-me que acontece precisamente o contrário.
Trata-se de tentar conseguir uma dimensão nova
para comportamentos antigos.
Por outras palavras,
aquilo que, talvez,
qualquer um de nós dissesse no círculo familiar ou de amigos,
sobre o seu animal de estimação
ou sobre o seu velho conhecido ou amigo carteiro,
nestes dois casos, mantêm-se,
no seu conteúdo,
e até mesmo na sua forma coloquial,
totalmente idêntico àquilo que seria dito
na intimidade da família
ou da relação pessoal directa.
Mas, com estes anúncios,
deixa esse domínio privado
para aceder ao domínio público,
da opinião publicada
e da opinião ledora de jornais,
como modelos de comportamento,
a serem transformados
em regra universal de conduta.
Que sociedade protectora dos animais
não ambicionaria saber todos os gatos
tratados, não apenas, genericamente,
como os melhores companheiros do homem,
mas como aquela gata,
concreta e individualizada,
como um ser único,
com três meses,
uma mancha na cabeça,
a sua surdez
e aquela respiração difícil?
Que personagem da nossa sociedade privada,
ou mesmo da nossa vida pública,
não inveja, secretamente,
aquele "José Domingos, como era conhecido"
que, (imaginem!!!), 37 anos, sim,
trinta e sete anos depois
do exercício da sua "missão"de carteiro
(uma eternidade, por quaisquer padrões que se avaliem)
ainda é recordado por ter "servido generosamente,"
"ter feito muitos favores,"
(o que, ao contrário do que possa parecer,
não tem a menor a relação com favoritismos injustificados)
e "levado muitas encomendas"e
(o que muito mais é) ter trazido "de volta muitas outras".
Quem não se morde de saudável inveja
e perdoável ciúme?
Quem nos dera a todos!
E quem me dera a mim!
Maestria,
a representar, no palco,
papéis de doutor e de velha, teve o José Domingos?
Não.
Desculpem, lá!
Mas não!
Maestria,
teve ele, a viver os seus 32 anos, como carteiro.
Trinta e sete anos depois,
ainda há disso memória!
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