Nesta sexta-feira, 8, com todo o mundo a correr para Roma, para o funeral do Papa, seria impensável que o Ventilhador não chegasse lá. Ou, pelo menos, se escusasse a um simples "post-relance" para a Urbe, quando todo o orbe, situado no nosso horizonte cultural romano, judaico e cristão, o faz.
Esta é uma primeira relativização evidente. Sempre o foi. Mas a mundialização, na sua pior face, a do terrorismo, não nos pode deixar esquecê-lo.
Tanto mais que as descrições, que de Roma nos chegam, como uma cidade cercada e defensivamente "muralhada" por terra, mar e ar, não o deixam esquecer.
Seria ingenuidade actualmente injustificada, como o tradicional "Urbi et Orbi" pretendia induzir, que aquele "todo o mundo a correr para a Roma" tivesse o mesmo significado de há poucos anos atrás. A não ser que queiramos incluir nesta corrida aqueles que vêem em Roma apenas uma outra incarnação das "Torres Gémeas". Esses, quando correm, é para a suas próprias "romas".
Este é mesmo o novo paradoxo civilizacional em que estamos mergulhados, desde os vários "11-de-setembro" recentes. Os concretizados e, mais preocupante ainda, os muitos tentados e falhados.
Como se a facilidade e a segurança (também cada vez mais relativa) com que a capacidade tecnológica permite juntar num mesmo sítio, em poucas horas e por vários dias, milhões de pessoas (capacidade que, há poucos anos ainda, era cheia de incerteza e insegurança), se tivesse transferido, em todos os seus perigos e riscos, para o próprio local da concentração.
Chegar ao mais central ou ao mais periférico dos lugares deste mundo passou a ser fácil. Lá estar e lá se manter passou a ser complicado e perigosíssimo. Afinal, as "Torres Gémeas" somos todos nós.
Há, sem dúvida, em tudo isto fenómenos novos. Melhor dito ainda, aspectos novos de fenómenos antigos. Exactamente o que se passa com o personagem central dos acontecimentos do dia de hoje em Roma. O Papa João Paulo II. O seu pontificado e o significado dele.
Poderia tentar exprimir por palavras minhas o que penso a este respeito. Mas considero que o essencial do que penso já foi dito por Ralf Dahrendorf, nome conhecido e respeitado de investigador e político no, Independent, com tradução e publicação no Público de 27 de Fevereiro passado.
Como este último texto já não está disponível no site do Publico, deixo a tradução da parte que me parece mais importante na entrada seguinte.
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