Paul Ricoeur, um dos grandes filósofos contemporâneos, morreu a 20 de Maio passado. A melhor homenagem que se lhe pode prestar é recordar o seu pensamento em questões de grande actualidade que o preocuparam, como a fragilidade da democracia e o Estado "escondido".
A fragilidade da democracia
"Je partage avec tous les auteurs marqués par la pensée de Tocqueville le sentiment de l’incroyable fragilité des institutions démocratiques.
La symbolique démocratique est faible, son entraînement émotionnel reste de ce fait fragile.
Le pouvoir est actuellement une place vide au niveau symbolique, il n’est qu’à voir cette sorte d’exil intérieur dans lequel est tenue la classe politique.
Nous sommes par conséquent alternativement dans des rapports de vaine recherche d’unanimité ou alors de contestation, voire de dénonciation.
Une grande partie de l’intelligentsia française ne fonctionne d’ailleurs aujourd’hui que sur ce mode pauvre.
Vous pouvez certes le trouver sympathique lorsqu’il prend la forme de la lutte contre la malbouffe, ou de l’antiaméricanisme, etc., mais il y a beaucoup de confort intellectuel dans cette attitude.
Plus que de dénonciation, c’est de resymbolisation dont nous avons besoin. Et pour cela il importe que nous retrouvions un vrai sens de la discussion publique, une saine gestion du différend."
O Estado " Englobante, mas englobado"
O mal- estar (actual das democracias) deve-se essencialmente ao facto de que a soberania do Estado se tornou, no seu próprio seio, indecifrável em virtude da complexificação das esferas de pertença que governam a sociedade civil.
(...) Efectivamente, não funcionamos a todo o momento como cidadãos, comportamo-nos apenas de tempos em tempos como cidadãos - por exemplo, quando vamos votar - mas muito mais frequentemente como produtores ou consumidores.
Eis o que explica que possamos ter a impressão de que o político é apenas uma das nossas actividades entre outras.
Mas isso é perder de vista, segundo penso, que, mesmo quando não nos ocupemos de política, o Estado permanece o englobante de todas as esferas de pertença às quais somos fiéis.
Não temos perante o Estado uma fidelidade como a que temos a respeito da universidade ou de um clube de futebol; o laço de cidadania é sempre pressuposto por todos os outros.
É simultaneamente o englobante e o englobado (...)
Quero dizer que a pertença ao corpo político não é da mesma natureza que a pertença a uma ou outra das esferas que definem os nossos papéis, os nossos direitos, as nossas obrigações, as nossas vantagens e as nossas obrigações.
A "cidade" em sentido político não é redutível à soma das "cidades" a que pertencemos, à soma das "esferas" de fidelidade constitutivas da sociedade civil.
É, assim, englobante, mas também "englobado",porque a procura ou o exercício do poder é uma actividade competitiva que nos ocupa somente entre outras.
Se vamos a uma reunião política, vamos a um lugar que difere daquele em que, por exemplo, fazemos as nossas compras. Eis porque se pode ter a impressão de que só funcionamos episodicamente como ser político, no mesmo sentido em que funcionamos esporadicamente como consumidores ou como produtores, ou como profissionais portadores de uma competência.
Existe, portanto, uma relativa indeterminação naquilo que é da ordem do político e naquilo que não o é.
Temos dificuldade em situar o Estado que é, ao mesmo tempo, a instituição englobante e uma das instituições que funcionam de maneira intermitente, através de operações descontínuas como uma eleição, uma manifestação, etc.
Penso que este é um aspecto novo, e talvez o aspecto actual mais marcante do que outrora chamei o paradoxo político"
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